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Entrevista exclusiva com Rodrigo Campos

Rodrigo Campos, 29, é o atual técnico do Minas Brasília de futebol feminino. Teve passagens por Al Kholood, Brasiliense, Ferroviária, Capital, Legião e Ceilandense

 

1- Em que momento decidiu ser técnico? Pensou em ser jogador antes? Qual seu objetivo em relação à títulos?

R: Sobre ser atleta acredito que desde quando nasci, o primeiro presente que a gente ganha no país do futebol é uma bola. Meu pai e avô sempre me apoiaram para que eu desempenhasse o esporte de forma prática, mas com 18 anos pensei sobre viver do futebol financeiramente então pensei no plano B. Todos veem o futebol com glamour, mas nem todos atletas conseguem viver bem financeiramente o que era minha preocupação então com 18 anos resolvi fazer Educação Física e a ideia inicial era ser preparador só que no primeiro semestre comecei um estágio em uma escola de futebol, não tinha a função de preparador e sim de professor, educador.

R: E passei a gostar de controlar o ambiente, criar estratégias, desenvolver o aluno de forma educacional e desportiva, é legal estar a frente do processo o que começou a mexer comigo em relação a ser treinador. Fiz faculdade de Educação Física, cursos da CBF, a preparação é contínua considero que vou aprender durante toda minha trajetória no futebol e da minha vida, mas são 10 anos de preparação para que me trouxessem até aqui. Em relação a título a projeção da nossa equipe é ficar entre os oito primeiros a fim de chegar na fase final da competição e penso muito em conquistar, nunca entro em algo só por participar, entrei para conquistar e vencer, agora é trabalhar.

 

2- Duas experiências inéditas no seu currículo, um estágio na seleção etíope e auxiliar técnico em um clube na Arábia Saudita. O que levou de bagagem em cada situação, dificuldades com a língua e o que aprendeu dentro e fora de campo?

R: Sobre a seleção da Etiópia eu tinha 24 anos e experiência zero no futebol competitivo, entrei muito mais como admirador do futebol profissional e ficava deslumbrado, ir para o hotel da seleção, conversar com um treinador de alto nível vencedor que hoje é referência para nós brasileiros em relação ao conteúdo, metodologia de treinos então vivenciei muito aquele momento sem ter a dimensão do que poderia me proporcionar a médio prazo.

R: Mas foi uma experiência muito importante e muito boa, criei um vínculo afetivo com todos da seleção, inclusive na volta da Arábia Saudita ficamos um dia na Etiópia por coincidência e isso aconteceu um ano depois que tinha estagiado na Etiópia, o capitão da seleção da Etiópia foi nos visitar no hotel e foi muito bacana, as pessoas do hotel ficaram olhando e coisas para mim que como ser humano foram mais importantes do que estar ali entendendo o processo de treino, foi uma construção muito maior do que esperava.

R: Na Arábia Saudita, principalmente, uma experiência de vida porque estar em um ambiente totalmente diferente do nosso, da nossa sociedade, ver mulheres só com os olhos aparecendo, homens tem que tomar cuidado para conversar com elas, é algo cultural totalmente diferente. O clima do país propicia que você vá para a rua de madrugada porque o verão lá durante o dia é 45 graus, ar condicionado o tempo todo, a questão do fuso horário que você passa a dormir à noite, uma experiência muito diferente. Eles são país de primeiro mundo em relação à segurança, saímos de madrugada e não tínhamos preocupação de sair na rua ou do que poderia acontecer, criminalidade praticamente zero e totalmente ligado ao islamismo, muito religiosos o que não vivenciaríamos no Brasil.

R: Então foi uma experiência de vida além de profissional, aprender a desenvolver os treinos sem ter o domínio do idioma pois não tinha o inglês fluente e o sub-15 que treinava também não falavam, nesse ponto me ajudaram, aprendi algumas palavras em árabe para desenvolver os treinos que eram totalmente visual e quando não conseguia explicar através das palavras tinha que chama-los e colocar na prancheta, algo que dentro do desenvolvimento do atleta o feedback falando consegue manter a sequência e quando eles não entendiam tinha que parar mostrar a progressão e tomar cuidado para não ter uma especialização precoce, me desenvolvi como profissional e como ser humano.

 

3- Passou por muitos clubes do Distrito Federal como Brasiliense, Capital, Legião e Ceilandense. Alguma preferência pelo futebol brasiliense?

R: Nasci em Brasília, um lugar que tem muitas dificuldades com o futebol, o desenvolvimento não é tão alto e considero que a maioria das experiências que tive fiquei muito escondido no mundo do futebol e nasci no lugar que me prejudica nisso. Mas todas as experiências que tive aqui foram para agregar conhecimento a mim, a prática é totalmente diferente do que aprendemos e o que é desenvolvidos em curso. A prática é fundamental para crescer como treinador e com essa experiência aqui, mesmo não sendo minha preferência, agora no momento é porque o futebol feminino aqui é totalmente diferente e somos um dos maiores clubes do país na modalidade. Para mim na projeção de carreira é muito bom estar aqui.

 

4- No Brasil além do Distrito Federal atuou apenas em São Paulo na Ferroviária. Sentiu alguma diferença no futebol na questão de competitividade?