Anderson Anderson Simas Luciano, conhecido no futebol brasileiro como Tcheco, teve uma história marcante no Grêmio. Atuando como meio-campista, vestiu a camisa 10 e a braçadeira de Capitão. Foi Bicampeão gaúcho e apesar de não ter levantado nenhum título de expressão, participou de jogos importantes ao lado do Clube, onde ficou por um triz a conquista da Libertadores da América em 2007 e o Campeonato Brasileiro em 2008. Além do Grêmio, atuou ainda em times como o Al Ittihad, Corinthians, Coritiba, Santos e Paraná
1. A idolatria não se resume a títulos de grande expressão e a maior parte da torcida tricolor te desenha como ídolo. Tu, pelo Grêmio, foste um jogador extremamente importante, principalmente em 2007, quando a gente chegou muito perto de conquistar a Libertadores em cima do Boca Juniors. Na tua visão, o que faltou para o Grêmio nesse ano?
R= Se voltarmos no tempo e a Copa libertadores fosse começar amanhã, tenho certeza que ninguém apontaria o Grêmio Candidato a chegar à final, como realmente foi, mas jogo a jogo fomos ganhando confiança, a torcida acreditando mais ainda e conseguimos enfrentar os grandes favoritos de igual pra igual, até que na final infelizmente não conseguimos. Se criou uma expectativa muito grande na final, mas encontramos um Boca inspirado e tido por eles como uma das melhores equipes que Boca teve. Ressalto que deixamos várias equipes para trás, com muito mais condições financeiras, melhor estruturas e projetadas para estar ali. Grêmio vinha de uma 2ª divisão, tentado se arrumar no mercado, se ajustar financeiramente, politicamente e o principal, tentado arrumar seu elenco pra deixar forte para um futuro imediato, o que é muito difícil. Mas certamente fizemos bonito, resgatamos o gremismo dos torcedores, a atmosfera voltar a ser um fator primordial no Olímpico e mesmo sem o título o torcedor ficou orgulhoso do que viu. Claro que tem aqueles que queriam título de qualquer maneira e que não se importa com isso e eu respeito, mas acredito que esse processo fez do Grêmio o Grêmio dos velhos tempos e desses tempos também. Pode ter certeza que eu foi o cara que mais sentiu essa final, afinal de contas iria levantar a taça mais importante do continente num clube que passei a torcer.
2. Teve vários jogos importantes em que tu foste decisivo porque tu tinhas uma boa visão de jogo, mas teve um jogo em que tu marcaste um gol que todo torcedor lembra até hoje: Grêmio x São Paulo, dentro de um Olímpico lotado, onde a gente precisava ganhar para seguir a diante na disputa. Qual foi a sensação de abrir o placar naquela noite após ter falado que o São Paulo perdeu a chance de se classificar em casa?
R= Realmente foi um jogo marcante para todos acredito, 1º que foi uma atmosfera dentro do estádio fora do normal e as vezes pergunto pra quem estava lá pra entender que não estou exagerando e todos confirmam. 2º que acreditávamos fielmente que iríamos passar, ainda mais quando o Souza perdeu um gol cara a cara com Saja no qual ele não fez o gol, e logo na entrevista dentro de campo eu disse isso, realmente: “São Paulo perdeu a classificação ali”, mas é claro que era só tentado trazer confiança ao nosso time, uma frase pra trazer o torcedor no estádio e foi tudo isso que aconteceu. 3º o São Paulo era atual campeão do mundo , era time difícil de ser batido, era favorito e quando você faz um gol, com atmosfera do estádio incrível, em cima do favorito no 1º tempo ainda, é um gol que fica marcante mesmo, gol que nos deu confiança, que a torcida veio a baixo literalmente por causa da Geral e a sensação não tem como descrever, mas realmente é o gol mais lembrado por todos.
3. Tu entrou em campo com a camisa tricolor, quase duzentas vezes, então é indubitável que tenha jogos que foram cruciais na tua história junto ao clube. Tu jogou o brasileirão, jogou Libertadores, foi Bicampeão Gaúcho… Mas pra ti, qual que foi o teu melhor momento no Grêmio, qual foi o jogo que tu guarda na memória com muito carinho até hoje?
R= Difícil dizer um só mesmo, teve jogo alegre, triste, de superação, frustração, vivi toda emoção possível nesse clube. Vou relatar um deles que foi minha despedida, porque quando saí a 1ª vez eu sabia que iria voltar, mas a 2ª saída sabia que não voltaria mais e foram semanas e dias difíceis até a partida na qual comecei no banco e entrei no intervalo, não queria estar jogando e sair para ser aplaudido, queria estar jogando até último minuto e foi contra o GRÊMIO Barueri. Foi um jogo que envolvia o emocional diferente de outras partidas, sensação difícil mesmo de descrever a semana que antecedeu, com os torcedores indo nos treinos e se despedindo, chorando, levando presentes, cartas, histórias, enfim foi um jogo que tenho até hoje a semana na minha memória, por ter um apelo emocional diferente.
4. Muitos torcedores reclamam por ter sido proibido, na Arena, a tão famosa Avalanche. Qual era a sensação de comemorar um gol dentro do Olímpico transbordando e com a torcida reproduzindo a Avalanche?
R= Acho cada vez mais uma chatice essas regras que envolvem o futebol, exatamente um esporte que é para o torcedor extravasar, não lembrar dos problemas pessoais e tudo mais, eles acabam fazendo protocolos e protocolos que deixam tudo chato. Não pode soltar foguete, comemorar no alambrado, ter que entrar junto com time adversário, não pode tirar a camisa. Sou daqueles que time adversário entra 1º em campo, é vaiado, time de casa entra e solta papel, foguete, criança entra junto correndo, vai na torcida e faz a festa e falando diretamente da geral, era espetacular ver aquela cena, a vibração, era um espetáculo à parte, muita gente de fora vinha assistir ao jogo pra ver a Avalanche, era demais isso. Uma pena hoje não ter e evitar um espetáculo. Eles querem sempre preservar a segurança, mas tem tanta coisa mais séria pra fazer e acabam se preocupando com outras que não vem ao caso. Espero que um dia volte a Avalanche. Os jogadores queriam sempre marcar o gol do lado da geral pra correr pra Avalanche.
5. Uma dúvida que todo torcedor tem, como eram os bastidores antes dos jogos? Como tu se preparava, principalmente quando se tratava de jogos importantes?
R= Cada um tem seu estilo, seu ritual vamos dizer assim, procurava trocar a roupa assim que chegava no vestiário e colocava uma música pra me concentrar, tentava não desviar meu foco, no Grêmio também era especial porque quando saíamos do aquecimento, já íamos para reza final e no olímpico sempre que terminava a oração, entrava o Hino do Grêmio num som bem alto, enquanto o som rolava nós fazíamos o último cumprimento de boa sorte, ficado sempre e saia para as escadarias e o som do hino ficava pra trás baixinho e o sim da torcida ia aumentando. Isso te inflamava não entrada do campo e automaticamente pro jogo. Talvez por isso que nosso estádio era um fator diferencial.
6. O que tu me diz sobre o Gre-Nal do Centenário? Sem dúvidas foi um dos jogos mais importantes da história desse clássico e o Grêmio ganhou de virada dentro de um Olímpico pulsando. Qual é a tua lembrança sobre esse jogo histórico?
R= Sabíamos da responsabilidade porque o Grêmio tinha ganho o 1º grenal, o 50° grenal e o 100° era o nosso, o clássico por si só já tem sua rivalidade e ainda tinha esse ingrediente, mas estávamos bem preparados e confiantes, tanto que quando levamos o 1º gol nós não nos abalamos, conseguimos empatar ainda no 1º tempo e depois a virada no 2º tempo. Jogo pegado como sempre, corrido, mas conseguimos mais um feito. A lembrança que fica foi a festa depois do jogo, praticamente todos atletas na Geral cantando e vibrando, ninguém se importava com os três pontos e sim com a hegemonia centenária nessas datas marcantes e históricas.
7. Alguns torcedores pegam no teu pé porque acabou não levantando nenhuma taça de expressão enquanto atuou aqui, mas é indiscutível que tu vestiste a camisa 10 e a braçadeira de capitão com muita raça e vontade fazer de história e de fato, fez. Qual é o sentimento que tu carrega dentro do coração pelo Clube e pela torcida?