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Entrevista com Camilla Orlando, treinadora da equipe feminina do Red Bull Bragantino

Anunciada como treinadora do Red Bull Bragantino no dia 8 de março. Camilla Orlando tem experiência tanto internacional, nos Estados Unidos onde estudou e atuou como jogadora, como também nacionalmente. Aqui no Brasil antes de aceitar o convite do clube paulista, a treinadora teve muito sucesso no Internacional, onde comandou o elenco sub-18 e auxiliou as categorias sub-16 e sub-14 do clube

 

1- Formada em Educação Física na Universidade de Brasília, mas também estudou na Lincoln Memorial University-EUA. Como você avalia ambas os estágios em sua carreira?

R: Em relação a minha formação na universidade de Brasília, na verdade, o que acontece para poder revalidar meu diploma americano tem que ser uma faculdade estadual. Na verdade, eu me formei primeira na Lincoln Memorial University, aí voltei pro Brasil e fiz a revalidação do meu diploma. Pra realizar a revalidação,eu tive que fazer duas matérias na UNB. Mas em relação ao contexto da minha carreira, eu vejo que quando eu tava na Lincoln, eu tive a oportunidade de aprender mais sobre o jogo na prática porque eu era uma estudante atleta. Então eu conseguia estar em campo como atleta e absorver uma cultura esportiva do país. Foram vários tipos de aprendizado não só da universidade. Já em Brasília, o foco era total em conseguir o diploma para obter o meu CREF.

 

2- Qual foi a sensação de disputar a Liga Universitária dos Estados Unidos (NCAA)?

R: Disputar a NCAA para mim é uma honra, afinal de contas é a maior liga universitária do mundo. Uma liga riquíssima que me permitiu conhecer os Estados Unidos quase todo. Que me permitiu estudar, conhecer como é a cultura do melhor futebol feminino do mundo. Então jogar na NCAA foi uma grande oportunidade que me abriu muito a cabeça em relação ao futebol e as possibilidades do jogo. Realmente foi uma grande vitória na minha vida.

 

3- Em 2012 você parou de atuar para focar no desenvolvimento do futebol feminino. Queria que falasse um pouco sobre essa decisão e também sobre a organização “Capital Feminina”?

R: Em 2012, quando decidi parar de jogar não foi uma decisão fácil, porque eu ainda tinha condições de jogo como atleta. Mas já vinha pulsando em mim uma ansiedade, um desejo de colocar em prática tudo que eu tinha vivido nos Estados Unidos, tudo que tinha visto lá. Eu joguei nos Estados Unidos de 2005 a 2007. Em 2008 tava no Brasil já jogando, ou seja, eu já tinha me formado, já tinha uma experiência em outro país, então foi uma decisão difícil, porém já tinha uma vontade de colocar em prática o que vivi, que era a realidade de uma categoria de base, de uma formação, de um preparo e valorização do esporte. Então o Capital Feminino veio pra tentar colocar um pouco isso em prática. Na época, as meninas novas tinham que jogar com adultas, vim trazendo essa ideia de ter uma escola exclusiva para mulheres.

 

4- Visto a sociedade na maioria das vezes machista, quais foram ou são as principais barreiras que o futebol feminino tem pela frente?

R: Com certeza, a maior barreira do futebol feminino é a cultura. Não só a cultura em termos de igualdade de gênero, mas também como eu falei, uma cultura esportiva. Qual o valor do esporte pra construir valores e pessoas? Então eu acho que esse é um grande desafio, a gente mostrar que o esporte vai além do vencer e levantar um troféu. Ele tem várias possibilidades que podem agregar valores na vida. Mas com certeza, o machismo é uma das partes da nossa cultura que atrapalha o nosso desenvolvimento.

 

 
Foto: Thaís Magalhães/CBF.
 

5- Com uma passagem mais que vitoriosa por várias categorias do Internacional. Como você avalia sua passagem pelo clube gaúcho e o quanto foi importante para sua carreira?

R: Trabalhar no Inter foi a melhor oportunidade que eu poderia ter na minha carreira naquele momento, não tinha lugar melhor para estar. O clube é gigante, me proporcionou uma estrutura de alto nível. Eu trabalhei com atletas de nível de seleção brasileira que disputaram Copa do Mundo sub-17. Então assim, foi uma experiência fantástica de poder também colocar em prática muito do que eu tinha vivido no decorrer dos anos como treinadora. E realmente poder colocar em prática o que eu acreditava ali, e o melhor de tudo foi ver que as minhas ideias, que as ideias que eu tenho não só de jogo mas de formação de pessoas, formação de atletas teve um resultado positivo de grandes vitórias no decorrer do ano.

 

6- Na função de treinador(a), quais são suas referências no esporte?

R: Na função treinador eu tenho algumas referências. Eu nunca tive uma referência única, sempre fui tendo referências de treinadores de acordo com o contexto do momento que eu estava. Dentro do Inter por exemplo, eu tive acompanhando três treinadores que eu admiro, então isso varia muito. Nesse momento que eu tô, que quero entender mais o DNA do clube, eu quero entender mais a filosofia de jogo do Red Bull. Eu tenho acompanhado muito e usado o Felipe Conceição como referência, o Julian Nagelsmann, técnico do Leipzig e o Vinicius Munhoz. Então tenho usado esses treinadores como referências. Tenho também mulheres, a Emily que hoje é treinadora do Equador e a Tatiele que é treinadora do Ferroviária, são duas mulheres que admiro pela força e resistência e também pelo trabalho que elas fazem em suas equipes.

 

8- Como você vem aproveitando esse momento de paralisação para melhorar profissionalmente?