Gabriel Pierin, do Centro de Memória
No dia 30 de agosto de 1962, uma quinta-feira, o Santos venceu o Peñarol por 3 a 0, em Buenos Aires, e tornou-se Campeão da Libertadores. Era a terceira edição da Taça e pela primeira vez um time brasileiro sagrava-se o maior do continente.
No primeiro jogo entre as duas equipes o Santos venceu em Montevidéu por 2 a 1, mas perdeu a segunda por 3 a 2, na Vila Belmiro. O resultado foi bastante contestado, mas a Confederação Sul-Americana seguiu a decisão do árbitro Carlos Robles, forçando a terceira partida.
Para chegar até a final e conquistar o título, o Alvinegro passou com tranquilidade pela fase de grupos. Com dois triunfos sobre o Deportivo Municipal, da Bolívia, um empate e uma histórica goleada por 9 a 1 em cima do paraguaio Cerro Porteño, o Peixe se classificou em primeiro lugar e assim avançou para a semifinal contra a Universidade Católica, do Chile.
Na primeira partida, em Santiago, o adversário criou muitas dificuldades. Lima abriu o placar, mas os chilenos empataram minutos depois e assim terminou o jogo. Na Vila Belmiro, Zito fez o único gol da partida, garantindo o Peixe na grande final diante do forte Peñarol, à época bicampeão da Taça Libertadores e Intercontinental (Mundial).
Na condição de último campeão da América, o time uruguaio garantiu a vaga direta na semifinal. A disputa foi contra o Nacional, também do Uruguai. O Peñarol passou pelo rival e estava novamente em uma decisão, mas agora ele tinha o poderoso Santos pela frente.
Noite das Garrafadas
Para conquistar o seu primeiro título continental, o Santos demonstrou não só toda a sua enorme qualidade técnica, mas também muito espírito de luta. Os três jogos com o Peñarol foram verdadeiras batalhas e o Alvinegro soube superar todas as adversidades.
Sem Pelé, machucado, substituído por Pagão, o Santos iniciou a disputa pelo título jogando em Montevidéu. O time uruguaio saiu na frente aos 18 minutos de jogo. Coutinho empatou aos 28, e aos 15 minutos da etapa complementar fez o gol que sacramentou a virada e a vitória do Peixe.
Com o triunfo, bastava apenas o empate na Vila Belmiro. E o resultado veio, mas para o árbitro, não. O Peñarol saiu na frente e o Santos virou ainda no primeiro tempo. No início da segunda etapa os uruguaios empataram e na sequência viraram, com um gol de pênalti, aos 11 minutos.
A penalidade foi muito contestada pelos atletas e torcedores e um princípio de confusão foi iniciado, com garrafas sendo atiradas no campo. Aos 22 minutos, Pagão fez o terceiro, empatando o jogo.
Ao final da partida, a torcida comemorou o título e no dia seguinte os jornais estamparam o Peixe como o campeão. Porém, não foi exatamente isso que o árbitro Carlos Robles relatou. Na súmula, entregue no dia seguinte, ele citou invasões, ameaças e agressões e afirmou que, temendo algo pior, encerrou a partida quando estava 3 a 2 para os uruguaios, considerando o restante do jogo como um “amistoso”.
A vitória do Peñarol provocou a terceira e derradeira partida, marcada em um campo neutro, o Monumental de Nuñez, em Buenos Aires. No dia 30 de agosto o estádio recebeu 45 980 pagantes para testemunhar o que se revelou uma autêntica aula de futebol.
Pela primeira e única vez na competição, o time santista jogou com sua formação completa, o chamado “Time dos Sonhos”. Com Pelé recuperado da contusão muscular, o time atuou com Gylmar, Lima, Mauro e Dalmo; Calvet e Zito; Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, dirigidos por Luiz Alonso Perez, o Lula. O Peñarol enfrentou o Santos com Maidana, Gonzales e Lezcano; Gonçalves, Cano e Caetano; Rojas, Sacía, Spencer, Matosas e Joya.