G4, SENTIDO!

Foram dez dias de intervalo entre o jogo do Criciúma e o do Bahia e os sentimentos do torcedor coral se misturavam entre desconfiança e esperança. Desconfiança, porque os jogos que o Santa fazia fora não convenciam nem os mais otimistas, e esperança, porque o torcedor coral tem na sua essência a virtude de sempre acreditar, mesmo que os números e as circunstâncias digam o contrário.

Pela manhã ao sintonizar as rádios para escutar como estava o clima em Salvador, um dos repórteres locais entrevistou um torcedor do Santa que embarcava para Salvador e o indagou sobre qual seria sua expectativa para o maior Clássico Nordestino. Objetivo, o rapaz respondeu: “Juntei mil reais para pagar a passagem. Eu estou fazendo esse sacrifício e o que espero é que os caras deem sangue lá dentro”.

Ao ouvir as palavras do torcedor entrevistado, me coloquei no lugar dos jogadores. Se eu ouvisse aquele torcedor, que juntou suas economias e pediu em troca apenas raça e vontade de ganhar, entraria com o sangue nos olhos e daria tudo de mim.

Acho improvável que algum jogador tenha escutado aquela entrevista na concentração, mas acredito que aquele sentimento tenha sido transmitido aos jogadores, que nem de longe lembraram o Santa Cruz apático e burocrático de outras jornadas longe do Arruda.

O Mais Querido contrariou as previsões da imprensa, as estatísticas dos matemáticos e encheu de esperança sua imensa torcida, que esperava uma partida dessas pra descer dos Morros e lotar as Repúblicas independentes do Arruda.

 

RESENHA DO JOGO

Logo nos primeiros minutos de jogo se pode observar que a entrada de Bileu na contenção modificaria completamente o esquema do Santa Cruz. Com mais pegada no meio-campo, o Tricolor Pernambucano dominou as ações e ditou o ritmo do jogo envolvendo o time Baiano que pressionado pelo bom público na Fonte Nova se surpreendeu com o bom toque de bola do meio-campo coral.

Com boa infiltração dos laterais, a primeira grande chance do Santa Cruz apareceu nos pés de João Paulo, que após receber um bom passe de Luizinho, chutou fraco para a defesa de Douglas Pires.

A chance mais clara de gol do Santa Cruz também foi protagonizada por Luizinho, quando Lelê, ao cair pela ponta esquerda, viu Grafite livre na grande área. O atacante foi travado pelo Zagueiro Gustavo e a bola sobrou livre pra Luizinho que sozinho chutou a bola pra fora.

Já o time baiano pressionava de maneira desordenada e teve seu único lance de perigo no primeiro tempo quando, numa marcação de falta bastante duvidosa, Souza cobrou fechado, a bola tomou uma curva inesperada e o Paredão Coral fez mais uma de suas defesas memoráveis, evitando assim o primeiro tento do tricolor de aço.

Ficou no sentimento do torcedor coral que o primeiro tempo poderia ter sido muito melhor pelas chances desperdiçadas pelos atacantes.

Na etapa complementar, nenhum dos treinadores mexeu nos times e a partida não mudou. O Santa Cruz dominava as ações quando, num lance de pura infelicidade e boa vontade do homem do apito, a bola bateu na mão de Vitor e foi marcada a penalidade máxima. Em seguida, Souza, que dificilmente perde penalidades, chutou na trave e Alemão mandou para escanteio.

Parecia que naquele momento o Santa Cruz redobraria sua atenção, ficaria com mais moral e partiria pra cima para resolver de vez o jogo. Com uma penalidade perdida aos cinco minutos de segundo tempo em plena decisão, o time da casa se abate e demora para se recuperar. Certo?

Não! Estamos falando de Santa Cruz!

Logo em seguida a penalidade perdida, o Bahia cobrou escanteio e Kieza, após uma cabeçada do Zagueiro e uma defesa espetacular de Tiago Cardoso, apenas teve o trabalho de empurrar para o fundo das redes e abrir o placar para o Bahia.

Naquele momento, acredito que muitos torcedores jogaram a toalha por ser recordar de outros bons jogos feitos pelo Santa e pelos placares negativos que foram amargurados ao final.

Mas dessa vez foi muito diferente.

O Time de Guerreiros pareceu não se abater com o gol sofrido, com a Fonte Nova lotada e com a empolgação da torcida Baiana, e continuou impondo o mesmo ritmo do primeiro tempo.

Após cobrança de escanteio de João Paulo, o criticado Dany Morais subiu e de cabeça estufou as redes Baianas, calando os mais de 30 mil torcedores presentes.

Jogando no desespero, o Bahia se atirou para cima e o Santa Cruz mostrou frieza e soube se aproveitar da situação.