Joel Camargo, um tricampeão mundial

Publicado em 18 de setembro de 2020 por Santos FC.

Por Guilherme Guarche, do Centro de Memória

Sim. Joel Camargo com justiça deve ser considerado campeão mundial, não só por ter feito parte do elenco da Seleção Brasileira, mas, principalmente, por ter sido o quarto-zagueiro titular nas seis partidas das Eliminatórias do Mundial do México, em 1970.

O técnico do Escrete Nacional, João Saldanha – o João sem medo –  considerava Joel Camargo o melhor quarto-zagueiro do mundo e reprovava publicamente o técnico do Alvinegro, Antônio Fernandes, o Antoninho, que escalava Djalma Dias na zaga santista.

Filho de Lourdes Camargo e Antônio Camargo, Joel nasceu em uma quarta-feira, 18 de setembro, feriado nacional naquele remoto ano de 1946, data em que o presidente Eurico Gaspar Dutra promulgou a Constituição Brasileira daquele ano.

O menino começou no futebol no XV de Novembro, time amador do bairro do Marapé, onde sua família residia. Antes, já chamava a atenção pelo estilo clássico e sério que tinha ao jogar com os outros garotos da rua Antônio Bento de Amorim.

Foi o técnico da base da Portuguesa Santista, Arnaldo de Oliveira, o popular Papa, o maior revelador de talentos na cidade, que levou Joel, então um garoto de 13 anos, para treinar na “Mais Briosa”.

Dentre os jogadores revelados pelo mal humorado técnico Papa estão Gylmar, Feijó, Álvaro, Ramiro e Pagão. Todos começaram com ele no Jabaquara. Na Portuguesa Santista lançou os craques Cláudio, Adelson, Capitão, Lorico, Joel Camargo e Osmar.

Foi o futebol vistoso de Joel que atraiu os olhares dos dirigentes do Peixe e fizeram com que o destaque da Portuguesa Santista, e esperança do treinador Joaquim Feliz atravessasse o canal da avenida Pinheiro Machado em setembro de 1963, e fizesse da Vila Belmiro a sua nova casa.

Zagueiro forte e alto (1,83m), que por sua habilidade também se destacava como médio-volante, Joel tinha o hábito de sair da defesa de cabeça erguida, abrindo os cotovelos, que se tornavam como duas alças lhe para lhe dar mais equilíbrio, razão pela qual ganhou a alcunha de “Açucareiro”. Na Vila Belmiro era chamado pelos colegas de “Gogo”.

No Santos teve que disputar posição, a princípio ,com o gaúcho Calvet e com o carioca Haroldo, o “Sombra”, e depois com Emerson Marçal, vindo da Portuguesinha. Sua estreia na equipe profissional ocorreu em 1º de setembro de 1963, um domingo, em Araraquara, diante da Ferroviária. Joel tinha exatos 16 anos, 11 meses e 14 dias, tornando-se um dos jogadores mais jovens a vestir a camisa santista.

Nessa partida, válida pelo Campeonato Paulista, no Estádio Fonte Luminosa, o Santos foi derrotado por 4 a 1, com Pelé marcando o tento santista. O time foi escalado pelo técnico Luiz Alonso Perez, o Lula, com  Gylmar, Dalmo, Joel Camargo e Geraldino; Calvet e Zito; Dorval, Lima, Coutinho, Pelé e Rossi.

Pouco a pouco Joel Camargo foi ganhando espaço na defesa da equipe titular do Alvinegro. Tanto o ataque como o sistema defensivo santista passaram a ser enaltecidos pela imprensa e pelos torcedores, satisfeitos por ter uma equipe tão coesa e forte como era o grande Santos nos anos 1960.

Uma curiosidade da forte equipe do Peixe era que Joel Camargo era o único afrodescendente que formava na retaguarda, ao contrário do setor ofensivo ,que contava em sua maioria com atacantes negros.

A decepção com Zagallo

Nas Eliminatórias da Copa de 1970 toda a defesa titular das “Feras do Saldanha”, como era chamado o Selecionado Nacional, era composta por santistas: Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Joel Camargo e Rildo. Além dos atacantes alvinegros Pelé e Edu.

Na defensiva praiana havia ainda o excepcional argentino Ramos Delgado, que afirmava ser Joel Camargo o seu parceiro preferido para formar a dupla na zaga santista.

A qualidade dos jogadores de defesa do Santos criava, às vezes, uma situação insólita: Joel era titular na Seleção Nacional e reserva no Santos, pois o técnico Antoninho confiava mais no futebol de Djalma Dias.

Um momento que muito o entristeceu  e que não gostava de lembrar ocorreu quando João Saldanha foi substituído por Mario Jorge Zagallo e o novo técnico da Seleção decidiu escalar Wilson Piazza, que era médio-volante, para a quarta-zaga, ocupando o lugar que seria de Joel nas partidas da Copa do Mundo, no México.

Desiludido por não ter jogado a fase final da Copa no México, o jovem de 23 anos viu de fora o Brasil ser Tricampeão Mundial, ganhou o mesmo prêmio dado aos jogadores titulares e adquiriu um possante Chevrolet Opala.

Antes tivesse investido a premiação do Mundial não na compra do automóvel, pois o veículo foi o causador de sua decadência no mundo da bola. O craque foi o protagonista de um grave acidente automobilístico nas ruas de Santos.