O Palmeiras existe

Nesta sexta-feira (26), o Palmeiras completa 108 anos de existência. Existência. Para além da questão futebolística – os títulos, os fracassos, os choros de alegria, as vezes em que a frustração era tamanha que eu, forjado no dramático início do século XXI, tive vontade de socar a parede mais próxima. O Palmeiras existe. E está em todos os lugares, pelo menos na minha cabeça apaixonada.

Era 2019. Eu acabava de deixar o Allianz Parque, após vitória por 1 x 0 sobre o Internacional, pelo turno do Campeonato Brasileiro. Deyverson subiu no primeiro gol e testou para o fundo das redes do goleiro Marcelo Lomba (hoje, palestrino).

Ao chegar em casa, pensei: “não, vou ver uma série aqui, relaxar a cabeça, pensar em coisas mais sérias, deixar o Palmeiras de lado um pouquinho”. Reproduzi o quarto episódio da segunda temporada de O Mecanismo. Em determinada cena, o personagem de Selton Mello pede documentos ao porteiro de um prédio. O funcionário, ao entregar os papéis, diz:

– Fala pro seu Juliano que o palmeirense da portaria mandou lembranças.

Eu pensei: “Ah não, não é possível”. Para piorar, Mello responde:

– Palmeirense? Porco, Palestra Itália… É isso aí.

Esse clube me persegue. Inacreditável. E o mesmo começa a acontecer com meu cunhado, Lorenzo.

O menino de três anos começa a dar os primeiros sinais de palestrinidade. Ainda, já aparenta ver Palmeiras onde, a princípio, não há. Entre os vários carrinhos de brinquedo em miniatura que ele possui, um específico chama a atenção dele. O objeto em questão é alviverde. Alviverde Imponente. Supreendentemente, para uma criança ainda pouco familiarizada com o futebol, ele associa o pequeno veículo ao Palestra: “é o carrinho do Palmeiras, mamãe”, já o ouvi falar. Que orgulho!

Mais recentemente, fui levar, junto do amor da minha vida, a Ana Clara, meu irmão mais novo e seus colegas ao cinema. O Danilo tem 12 anos e também segue a tradição palmeirense da família Negreiros. A Ana Clara também, apesar do leve atraso. Antes de entramos na sala que exibiria Thor: Amor e Trovão, encontramos o ex-volante Elias. Aquele cujo pênalti o Prass defendeu em 2015, em plena Arena Corinthians, quando eliminamos o arquirrival da semifinal do Paulistinha. Até aí, tudo bem. Eu achava. Já em frente à telona, uma família procurava assentos. O pai dela era justamente o goleiro daquela partida: um ídolo máximo. A Copa do Brasil de 2015 está para a minha geração assim como o Paulistão de 1993 está para os contemporâneos do meu pai, André. Ainda, antes de começar o longa-metragem, foi exibido o trailer de 45 do segundo tempo. Adivinha? O personagem do Tony Ramos é palmeirense e vestia a camiseta do Maior Campeão do Brasil.

Até Gonçalves Dias, na Canção do Exílio, de 1846, sabia que na terra dele tinha Palmeiras onde cantava o sabiá. (Ironia).

No jardim externo da minha casa, há duas palmeiras. Foi sugestão minha. Era importante que fossem mais de uma, para que a palavra ficasse no plural e fossem palmeiras. Palmeiras.

Essa é minha vida. Poderia mencionar inúmeros outros casos semelhantes, mas isso demandaria um texto imenso. Trabalho no Jornal GGN, eu tento pensar em política, em pautas de maior interesse público. Mas não dá, como você leitor pôde perceber. Eu vejo Palmeiras em todos os lugares.