Coluna: Scarpa, al final hay recompensa

O cantor argentino Gustavo Cerati tem um verso assim: “Tarda en llegar y al final hay recompensa”. Este escrito condiz com a trajetória do xará Gustavo Scarpa no Palmeiras. Apesar de nunca ter sido considerado ídolo pela maioria da torcida palestrina durante boa parte sua trajetória, ao final dela é inegável que o jogador merece essa denominação.

Remonta-se ao ano passado. Há quase um ano, havia dúvida se o Scarpa deveria ser titular ou não na final da Libertadores, em Montevidéu. Ele foi. E como foi. Atuando como ala, praticamente como lateral esquerdo, enquanto o Piquerez fez uma de terceiro zagueiro, fez excelente partida. Para alguns o bom desempenho foi surpresa, já que o meia passara a temporada toda como reserva do Raphael Veiga. Aliás, sempre que entrava, a bola parada fazia a diferença — característica esta decisiva em 2022. No entanto, é curioso contrastar o dia 27 de novembro de 2021 ao duelo contra o América-MG.

Despedida do Gustavo Scarpa do Allianz Parque. Ele foi aplaudidíssimo. Reconhecido pelos palmeirenses como ídolo. Merecidamente, diga-se. Neste ano, foram 13 gols e 15 assistências, em 58 partidas. Jogador com maior média de nota na plataforma de estatísticas SofaScore no Campeonato Brasileiro, eleito melhor do Brasileirão pela própria CBF e pelo Prêmio Bola de Prata, da ESPN.

Momento que o Scarpa foi aplaudido, e agradeceu, ao ser substituído diante do Coelho. Foto: Cesar Greco/Palmeiras/by Canon

Nesse sentido, é muito curioso refletir que o Scarpa demorou sequer para se firmar no clube. Em 2020, ainda antes de começar Era Abel Ferreira, ele tinha atuações bizarras. Patéticas, ridículas. Lembro-me de um lance protagonizado por ele que me deu raiva por duas semanas. Contra o Água Santa em casa. Era o segundo jogo na volta da paralização por conta da pandemia. Na linha de fundo, já dentro da área, o atleta tentou cruzar de direita para o meio da área. A bola saiu rasteiro, a 30 º. Não acredito até hoje que aquilo aconteceu.

Aliás, condiz com que ele disse em entrevista recente ao Bola da Vez, na ESPN. Scarpa relatou que, em partida pela Copa do Brasil contra o Red Bull Bragantino fora de casa, naquele mesmo ano (2020), foi dominar uma bola e tropeçou nela. Ao chegar em casa, olhou-se no espelho e falou: “já deu, né?”. A partir daquele momento, o meia mudou de atitude. “Nada mais motivador que não ter solução”, definiu o entrevistado, em referência musical.

Em suma, a reviravolta do Gustavo Scarpa dentro do Palmeiras é muito peculiar. Muito bonito ver a identificação que ele gerou com o clube. É ídolo da história alviverde, sem dúvidas. Demorou, mas chegou. Ou melhor, “Tarda en llegar y al final hay recompensa”.