O espólio do Vila Nova após duas eliminações trágicas

Os últimos jogos foram difíceis para o torcedor vilanovense. Primeiro, uma eliminação diante de trinta mil pessoas na Copa do Brasil. Semanas depois, eliminação do Campeonato Goiano diante da Aparecidense. Esta não ocorreu em um estádio lotado. Muita gente ainda estava se recuperando da tragédia do dia 15/03/2018. Mas teve um gosto muito amargo. O time tinha virado o jogo e permitiu um empate aos 45 em um gol infantil. Isso não é um motivo muito grande, mas fracassar novamente em tão pouco tempo é sempre muito doloroso. O ano começou de uma forma e em questão de semanas se tornou o oposto. Por conta da inércia, essa mudança abrupta de espírito machucou todos os torcedores. Uma equipe invicta se tornou fracassada dentro de 13 dias. É muito pouco tempo para absorver o golpe.
O maior problema não seria fracassar, mas, sim, não tentar absorver nada destes erros. Enterra-los e fingir que jamais aconteceram. A derrota para a Aparecidense e o Ferroviário não foram por questão de azar ou uma peça do destino. Foram meramente a consequência de erros praticados dentro do campo. A torcida do Vila é tão grande que nem sempre consegue transitar entre o mundo dentro e fora do campo. Sempre busca uma explicação externa, pois é em si na maioria das vezes uma explicação externa: falem o que quiser do Vila, mas jamais critiquem sua torcida. Uma explicação externa boa e poética, mas que sozinha não leva a nada. Assim como as outras explicações externas: “o Vila nunca ganha com o bandeirão vermelho”. “O Vila é muito azarado”. “Já fizeram macumba no Vila”. “O Vila não sabe jogar com torcida”. Talvez isso tudo seja verdade, e jamais deve ser deixado de lado- a superstição é um elemento cultural da torcida-, mas possui uma enorme limitação. É preciso analisar os acontecimentos dentro do campo que levaram às derrotas.
A própria torcida já percebe erros. Contra o Ferroviário e contra a Aparecidense houve gol oriundo à barreira abrindo. É um erro tão grosseiro… homens crescidos sentirem medo de uma bola ou não serem capazes de manter uma postura firme o suficiente para impossibilitar a trajetória desta. Algo fácil de ser percebido e igualmente fácil de ser corrigido.
Analisando todos os gols sofridos em 2018, chama a atenção também a dificuldade com bola parada. Não é possível indicar um único jogador que falha constantemente, mas a frequência assusta. Não só por ser constantemente gol de bola parada mas também porque na maioria o autor do gol sobe sozinho. Ninguém da um combate aéreo. Não creio que seja por má vontade da nossa defesa. Mais provável ser, por exemplo, falta de tempo de bola. Facilmente corrigido com treino.
É difícil numerar as razoes por trás dos gols sofridos e dar sua porcentagem. Em um único gol podem haver várias falhas. Nos gols de bola aérea, a falha começa bem antes: alguém erra um passe, gerando um contra ataque que precisa ser parado; ou alguém faz uma falta desnecessária; ou se joga para escanteio uma bola que poderia ir para a lateral ou ser rifada para frente. O futebol é um esporte complexo e pouco óbvio. Talvez tenha sido, mas não é mais. Portanto, a análise dos erros deve ser feita de forma tão complexa quanto o esporte.
Mais importante que uma análise criteriosa dos erros, é reconhece-los e usa-los ao nosso favor. Ainda bem que falhamos tantas vezes, pois agora podemos concertar o erro e jamais comete-lo novamente. Um processo de aprendizagem essencial para disputar um campeonato de pontos corridos, o último espólio do Vila Nova Futebol Clube.
Copa do Brasil já foi. Campeonato Goiano já foi. Foi horrível. Doeu. Todos sofremos. Mas Vila que segue. Temos o campeonato mais importante da nossa vida pela frente. A única coisa que importa agora é conquistar o acesso. E se fracassarmos novamente, que seja lutando. Se for para lutar, que seja por amor. E se for por amor, que seja pelo Vila.