Vila Nova e Religião
Vila Nova e religião têm tudo a ver. Sério, sem clubismo. A gênese do clube é prova disso. Os pedreiros envolvidos na construção de Goiânia não tinham dinheiro para morar em Campinas ou locais mais nobres. Restou invadir um pedaço de terra às margens do córrego Botafogo. O brasileiro é bastante religioso então não demorou para que fosse fundada uma Igreja na terra invadida (batizada de Vila Nova). O brasileiro também tem proporcional apego ao esporte bretão, então não demorou para que a Igreja criasse um time de futebol de várzea.
A extração social de qualquer religião é difusa. Em toda religião se encontra fiéis que vendem almoço para comprar a janta e também fiéis com dinheiro suficiente pra três gerações. O Vila Nova, como uma boa religião, apresenta o mesmo fenômeno. Inclusive, sua história também explica tanto. Quando o time de várzea se tornou um time oficial, em 1943, o trâmite burocrático excedia os conhecimentos clericais. A fundação burocrática do Vila Nova Futebol Clube se deu com a ajuda de um Coronel e a esposa de Pedro Ludovico, a primeira dama da capital. O Vila conquistou membros de toda a pirâmide social. Ainda conquista.
Toda religião tem seus signos, símbolos, heróis, mitos. Obviamente, o Vila Nova também. A começar pelo vermelho. O vermelho sempre simbolizou luta, revolução. Na revolução francesa e russa, o vermelho era usado em contraste com o branco, símbolo da monarquia. E que coincidência: o nosso escudo é vermelho e branco, ou seja, mantendo um paralelismo simbólico com as revoluções russa e francesa, simboliza justamente a extração social difusa defendida no último parágrafo. Obviamente, predomina o vermelho. Como sempre, contra o Vila erguem todos que não têm a honra de serem vilanovenses. Contra tudo e contra todos nós perduramos. Sempre nos fortalecendo com as crises, assim como todas as religiões da história fizeram. Há também o Tigre, outro símbolo de luta presente na cultura do clube. Os mitos, qualquer vilanovense lhe diz. Acontecimentos que transcendem à razão. O gol que a torcida fez contra a Portuguesa, o 5×3 em cima do rival, em momentos saudosos esses jogos sempre são resgatados, além de serem importantíssimos na catequização da próxima geração de torcedores.
Na luta contra o racionalismo cego, o Vila se posiciona junto às outras religiões. Como acreditar em algo tão ilógico, sem sentido? Fé. Simples. Até clichê. Não se explica, apenas se ama incondicionalmente. Ninguém de fora entende e isso é o melhor: não entender algo causa medo. O vilanovense deixa qualquer um provocado, pois vai além da concepção média de paixão. Obviamente, então, fazem de tudo para coibir esse sentimento. Afinal, são incapazes de senti-lo por qualquer coisa. Buscam em números e em outros dados empíricos algo capaz de nos fazer sentir vergonha pela nossa camisa. Obviamente, estão apenas explicando a si mesmos por que conservam sentimento tão pálido pelo seu time que nem religião é. Deve ser horrível.
Felizmente, o Vila é uma religião expansionista e aceita qualquer um de braços abertos. Caso o leitor tenha interesse em abandonar teu espírito asqueroso, está convidado para a próxima cruzada no estádio Serra Dourada. O batizado é no concreto, com Skol e discão. O dízimo é a capacidade de falar no dia após o jogo. O único mandamento é amar o Vila sobre todas as coisas. Seja Bem-vindo.