Pelo amor de Deus, Joãozinho

River Plate e Flamengo decidirão a Libertadores da América no próximo dia 23, em Lima. Uma final histórica, a primeira vez com jogo único nesses 60 anos da maior competição de nosso continente. Como forma de entrar no clima, faremos uma série de matérias especiais relatando as finais dos times envolvidos. O confronto de hoje aconteceu 10 anos depois da primeira final, Cruzeiro e River Plate decidiram em Santiago a Copa.

O objetivo é a de contar em forma de crônica a história do confronto final dessas Copas que esses dois clubes foram finalistas. Isso com todo o amor e a valorização que nossa Libertadores merece e nem sempre recebe. Leia agora sobre a segunda final do River Plate.

Final Libertadores 1976

O Cruzeiro Esporte Clube venceu o Club Atlético River Plate 10 anos depois do primeiro vice-campeonato dos Millonarios. Foram jogos emocionantes de dois gigantes da América. Não havia favorito na ocasião, eram dois clubes sem Libertadores. O vencedor dali ganharia a glória eterna.

Aquela Libertadores era do Cruzeiro e nada poderia tirar isso dos mineiros. A equipe com Raúl, Nelinho, Morais, Darci Menezes e Vandeley; Piazza, Zé Carlos e Eduardo; Jairzinho, Palinha e Joãozinho encantou do começo ao fim. Sob o comando de Zezé Moreira, o time fez incríveis 46 gols em 13 jogos. Campeão incontestável e abençoado por Roberto Batata.

O River Plate tinha Landaburu; Comelles, Perfumo, Lonardi (Passarela) e Artico; JJ Lopéz, Merlo e Norberto Alonso; Alexis Gonzaléz, Leopoldo Luque e Oscar Más. Comandados por Ángel Labeuna.

A primeira batalha foi no Mineirão para quase 60 mil torcedores. Estádio cheio para uma final continental. O Cruzeiro fez valer o seu mando e ficou muito próximo de levar a Copa com a vitória por 4 a 1. Nelinho abriu o placar aos 22 minutos e antes do fim da primeira etapa, Palinha fez dois. 3 a 0. No segundo tempo, Oscar Más diminuiu e Valdo sacramentou a goleada. 4 a 1 e o River precisava vencer em Núñez para ficar vivo.

O segundo jogo foi tenso. Um verdadeiro inferno em Buenos Aires. El Monumental tinha 90 mil torcedores presentes. Não tinha outro jeito, River Plate tinha de ganhar. Juan José López abriu o placar aos 10 minutos. Delírio no gigante. A tensão tomou conta quando Palinha empatou no início do segundo tempo. O gol da sobrevida e do alívio foi aos 76 minutos com Alexis Gonzaléz. A vitória millonaria forçou o terceiro jogo em Santiago.

Na partida de decisão, em Santiago, um jogo digno dos gigantes. Emoção do início ao fim e a glória do estrante em finais. O Cruzeiro com Nelinho abriu o placar de pênalti aos 24 minutos. Fim de primeiro tempo com 1 a 0. Na etapa final, Eduardo acertou um lindo chute e ampliou aos 55 minutos. Parecia certa a vitória. Parecia. Más diminuiu quatro minutos depois também de pênalti. Num gol polêmico, após uma cobrança de falta rápida, Urquiza empatou o jogo.

O último tento do Cruzeiro saiu em uma irresponsabilidade (ou ousadia) de Joãozinho. O time brasileiro tinha uma falta para cobrar aos 43 minutos muito próxima a grande área. Era Nelinho quem ia bater, mas Joãozinho surpreendeu a todos. O camisa 10 mandou a bola no ângulo do goleiro millonario e fez o gol do título. “Adivinhe, adivinhe, Joãozinho, pelo amor de Deus, Joãozinho”. Ouça a lendária narração deste gol. Depois, todos oraram por Roberto Batata, ele que morreu durante a campanha da primeira Libertadores.