Alviverde Imponente

Entrevista com Mauro Beting.

Um dos mais ilustres palmeirenses conhecidos, Mauro Beting emplacou seu nome em todo Brasil, com sua habilidade na escrita, emocionou milhares de torcedores. Esse é nosso entrevistado, talvez o mais dinâmico dos jornalistas, mas com toda certeza uma das pessoas mais humildes que conheci dentro do jornalismo. De forma espontânea, aceitou falar conosco com uma simplicidade invejável. Filho de Joelmir Beting, Mauro honra o sobrenome de seu pai com um grande profissionalismo.
Todos sabemos que escreveu vários livros sobre seu time do coração. Qual foi a sensação de discorrer em um de 167 páginas a história de um dos maiores ídolos da história do Palmeiras, Marcos Roberto Silveira Reis?

Mauro Beting: Primeiramente, é um privilégio estar conversando com vocês. Falando de oportunidade, eu nunca imaginei que iria escrever 14 obras literárias, dirigir um filme que, aliás ,o segundo em breve estará em cartaz: “ Palmeiras: o Campeão do Século” .Sinceramente não imaginava que um dia pudesse escrever a história de ídolos como Evair (redigi a autobiografia dele no Palmeiras) e a do Marcos. A primeira foi uma convite da editora do próprio jogador e do outro autor, Fernando Gallupo; já a do Marcos foi uma ideia que tive saindo de um treino em que eu, o ex-goleiro e Carlos Pracidelli ficamos uma hora conversando depois do término das atividades. Ia jantar naquele dia, então comecei a anotar em um papel mesmo, de rascunho, algumas das histórias para contar na refeição pros meus colegas e falei ‘Cara, é tanta história boa, não é pra contar só pros meus amigos, é pra contar pra todo mundo! O Marcos merece um livro!’. A gente conversou na semana seguinte e ele aceitou, só que só queria fazer o livro quando encerrasse a carreira e foi o que aconteceu. Eu levei um projeto pra editora, estava bem encaminhado, mas ai veio uma concorrente que fez uma proposta fabulosa pro Palmeiras, que acabou fechando um pacote de três livros e como tinha outras documentações já em curso, eu acabei fazendo. Foi uma honra escrever pelo Marcos, fiz os textos dele no livro do Cesar Greco. Isso foi junto ao meu pai, no qual fizemos até o prefácio, que foi seu ultimo texto antes de morrer, então foi muito emocionante.
Ir ao lançamento do livro foi a ultima coisa que meu pai fez antes de falecer e foi para oito mil e quinhentas pessoas. Na época, o maior lançamento no Brasil e de um cara sensacional. Naquela noite de autógrafos, lembro-me de perguntar, para as pessoas que estavam lá, para qual time elas torciam e elas falavam baixinho que preferiam Corinthians, Flamengo, Vasco; isso mostra que o Marcos é de todas as torcidas. A obra tem como título “Nunca fui Santo” , pois ele não é mesmo, mas é o mais ser humano dos caras. A sensação é a melhor possível; as vezes, dou uma relida e me emociono por ter colocado em papel tal história. Fico muito feliz também que pessoas bem próximas ao Marcão me ligaram parabenizando e dizendo ‘Eu sentia como se fosse ele contando as histórias’. É um privilégio, porque, formalmente, não teve nenhuma entrevista para o livro; boa parte são anotações que eu fazia, pegava nos meus arquivos e me guiava com o que eu sabia dele. Até algumas coisa que ele não falou eu meio que botei na boca dele , pois sei mais ou menos como Marcos pensava, eu também sou goleiro! Quando ele falava do livro, dizia ‘Pô Maurão ,ficou bão isso ai’. É realmente um negócio muito gostoso, é incrivel ter feito algo com as palavras dele.

Você sempre recorda que a sua inspiração para se tornar jornalista/escritor partiu do seu pai, o grande Joelmir Beting, e da Sociedade Esportiva Palmeiras. Diante disso, poderia nos contar o que sentiu ao realizar esse sonho, ao lado do seu genitor?

Mauro Beting: É, eu realmente… também outra coisa que eu jamais poderia imaginar era trabalhar com o meu pai. Eu sempre quis ser jornalista. Sou periodista de útero, eu falo; meus pais se conheceram numa rádio. Sou neto, filho, primo, padrinho, sobrinho, afilhado de jornalista. A mãe dos meus filhos também é. Então, não tinha como eu não ser. E trabalhar com o meu pai seria um sonho, que só realizei aos 17 anos, depois que comecei na carreira, lá no Bandsports e, depois, na rádio Bandeirantes. A gente tinha até um programa no primeiro chamado “Beting e Beting”. Eu jamais poderia imaginar que um dia poderia fazer um monte de coisas. Trabalhar com o meu pai como trabalhei. E sempre tive a noção absoluta de que nunca superaria meu pai em tudo. Pelo menos no amor ao Palmeiras. Amor que eu tenho, claro, desde os 49 anos em eu que nasci e dos 26 anos que estou no Jornalismo. Sou PALMEIRENSE há 49 anos e jornalista esportivo há 26 anos. Completei agora 29 de ofício, mas de esportes mesmo são 26. Foi um privilégio ser filho de quem sou. Porque o Joelmir é o melhor pai que um filho pode ter como jornalista e o melhor pai que um jornalista pode ser. Então eu ter trabalhado com ele foi uma oportunidade enorme e, realmente, nunca imaginei. O cara que é a minha inspiração não só como repórter, mas como progenitor e como pessoa, que eu pude trabalhar. Uma das primeiras coisas que fiz de texto foi escrever junto com ele, ou por ele, em nome dele, um prefácio de um livro. E foi legal que um grande amigo dele, um publicitário brilhante, ligou pra ele e falou ‘pô Joelmir, só você pra escrever um prefácio como esse ‘ e, na verdade, eu que tinha escrito. Então eu tenho algumas coisas que, por “osmose”, digamos assim, do jornalismo do meu pai. Mas nunca tive a capacidade, a competência e a força dele, inclusive, como periodista esportivo, que criou a placa do gol de placa do Pelé, em 61. É uma coisa tão forte, tão intensa, que eu também jamais imaginaria que, infelizmente, o maior trunfo, talvez, o melhor trabalho que eu tenha feito no jornalismo foi ter contado ao mundo, literalmente ao mundo, via rádio Bandeirantes, na madrugada de 29 de Novembro de 2012, que ele havia morrido. Eu não tive coragem pra contar pros meus filhos que o avô tinha morrido, mas eu contei ao vivo e sem, digamos, gaguejar (eu que gaguejo bastante) que ele tinha morrido. Então, o maior trunfo, digamos… trunfo não, nem dá pra usar, sei lá que termo que tem. O maior TRABALHO que eu fiz como jornalista foi contar a morte do meu próprio pai, ao vivo. Acho que foi uma coisa que, imagino, deva tê-lo honrado.

Mauro e seu pai Joelmir Beting.

Um dos jogos que mais marcou a campanha do Palmeiras no tricampeonato da Copa do Brasil, no ano de 2015, foi contra o Internacional, no Allianz Parque. Como torcedor, o que passou pela sua cabeça entre a eliminação, no gol de cabeça de Lisandro López, e a classificação, na cabeçada do herói inesperado Andrei Girotto?

Mauro Beting: Sabe que é engraçado esse jogo, porque eu estava fazendo um jogo pela rádio Bandeirantes e saí do Central Fox, da Fox Sports, às 9 horas e o jogo era logo em seguida,logo, eu não tinha como chegar ao Allianz Parque, e então comentei aquele jogo pela Jovem Pan, do estúdio, ali na Paulista e não pude estar no estádio. E, chegando lá, eu fui correndo e fiz. E desde que eu trabalho em rádio e televisão, que eu transmito jogos ao vivo, no finalzinho de 1991, eu não torço no ar. Nem a favor, nem contra. E não só eu, qualquer um. Uns mais, outros menos, porque é que nem juiz, você tá lá para trabalhar. O Palmeiras, certamente, nos últimos tempos, teve presidentes que não gostavam do clube, jogadores que odiavam, treinadores que detestavam. Então estamos trabalhando. É um dos jogos que eu mais sofri porque tem muito do sofrimento que meus filhos têm, que a minha mulher tem, que a minha filhotinha também tem agora, enfim. E eu sinto também, até porque cada vez mais abro o meu coração, por isso que, vezes a gente sente um pouco mais, e eu sei lá porque esse jogo contra o Inter foi um que calou muito fundo. Mais do que qualquer jogo, contra o Fluminense, por exemplo, que eu fiz pela Fox ou a final do Allianz Parque contra o Santos, que eu também fiz pela Jovem Pan. É um jogo que me pegou muito, foi muito nervoso e tal, e na hora que saiu o gol do Lisandro López, eu falei “putz, morreu, né”, e estava um jogo lá e cá, e tal. Quando saiu o gol do Girotto, foi um negócio sensacional e ficou aquele sufoco até o fim. Qualquer gol do time do Argel, o Palmeiras estaria eliminado. Tanto é que ali, em seguida, eu falei na Jovem Pan e logo botei no Twitter, depois até virou meme, como é que é mesmo: “a boa notícia: ainda estou vivo, a má notícia: ainda morro disso” . Foi usado até por outras torcidas, outros colegas, porque realmente foi uma sensação impressionante. Eu acho por incrível que pareça ou não, foi o jogo que eu mais sofri comentando, foi esse Palmeiras x Internacional da Copa do Brasil de 2015.

O seu talento com as palavras atrai fãs não só palmeirenses, mas também corintianos, tricolores, santistas, entre outros. E, para alguns palestrinos, te ver falar bem de outros times incomoda bastante. Qual sua opinião sobre essa “divisão” de opiniões?

Mauro Beting: É, só da pra tentar entender a loucura que é o futebol sendo torcedor, por isso que eu acho que o jornalista jamais pode deixar de ser torcedor.
E muito menos deixar de torcer pra um clube, ou trocar seu clube pelo outro. Ai o público tem todo o direito de trocar o jornalista e o torcedor tem todo o direito de me criticar, eu “Mauro Beting torcedor” muitas vezes odeio o “eu Mauro Beting jornalista”, a pessoa física Mauro Beting, não gosta da pessoa jurídica Mauro Beting, mas faz parte do meu negócio, eu não sou pago para torcer, eu sou pago pra tentar ser repórter, tentar ser imparcial, objetivo e isento. E muitas vezes, ao tentar ser isso, eu acabo sendo parcial contra o Palmeiras; na dúvida eu vou achar que não é pênalti pro Palmeiras, porque eu não sei se é minha miopia, se é dor de cotovelo, dor de fígado, enfim, dor de cabeça, do coração, eu vou contra o Palmeiras, e assumidamente eu falo isso, o que me causa problemas. Tenho muito mais impasses com a torcida do Palmeiras, do que com qualquer outra, eu tenho vários textos em livros do Corinthians, acabei de fazer um prefácio do Vasco BiCampeão Carioca, fiz, recentemente, um sobre o livro do Cruzeiro, tenho textos do centenário do Internacional, do Atlético Mineiro, livro do Botafogo, livro do Flamengo, tenho texto dos 110 anos do Grêmio que muita gente quer colocar na arena, no dia do centenário do Corinthians tinha um texto meu na Gaviões da Fiel, não era do Juca Kfouri, era meu. Então assim, eu tento ser quando eu escrevo pro Corinthians e outro clube, do Coronel Bolonhesa, eu tento ser torcedor, é uma das características do meu trabalho, e até por isso a torcida do Palmeiras fica irritada, porque quer que eu seja um porta berra da arquibancada, porta saco do elenco, da diretoria, e um porta voz né, e que eu não posso ser, não sou pago pra isso e, convenhamos, o Palmeiras não tem preço pra qualquer um fazer isso né, claro que eu me exponho demais com tantas coisas que eu faço, mas eu acho que faz parte do meu ofício e entendo isso, entendo muito o lado do torcedor porque eu também sou, e mesmo a minha mãe, Dona Lucila, presidente da TUP, torcida insuportável do Palmeiras, é uma das que sabe e me cornetam muito, e acho absolutamente natural que eu faça isso, e tente ser esse torcedor quando analisa os outros clubes também!

O futebol brasileiro, de um modo geral, revela bons jogadores todos os anos. Gabriel Jesus, Matheus Sales, Gabigol, Gustavo Henrique, Zeca, Thiago Maia, Rodrigo Caio, Gustavo Scarpa, Felipe Vizeu, Jorge, Otávio, Rodrigo Dourado, Luan, Douglas Santos, entre outros, e ainda temos os craques da Europa: Neymar, Douglas Costa, Lucas, Willian, Philippe Coutinho, Lucas Silva; porém nunca ganhamos uma olimpíada. Poderia nos dizer por que ainda não conseguimos conquistar essa medalha de ouro?

Mauro Beting: Tem vários motivos, desde a nossa primeira olimpíada em 52. De 1952 até 1980, as seleções não podiam levar os jogadores profissionais, somente os” amadores” da Cortina de Ferro da época. Grandes equipes, como a Hungria de 52, a Polônia de 76, mesmo a Alemanha Oriental que levou o ouro em 96 no Canada, eram os profissionais do leste europeu, então era difícil dar certo; em 84 e 88, quando podíamos levar jogadores que não tinham disputado Copa do Mundo, foi melhor, fomos prata nesses dois anos. Em 1984, era meio “mambemba”, era a base do Internacional, que nem era o melhor time do Brasil, com alguns jovens conseguiu a segunda colocação; em 1988, merecíamos o ouro, mas acabou perdendo; 92, uma ótima geração que acabou não indo pro campeonato em Barcelona; em 1996 fizemos uma “mega “ preparação e saímos pelo “ canudo “ diante da Nigéria. Em 2000, tivemos aquela crise com Luxemburgo que não quis convocar os três marmanjos que tinha direito. Nós perdemos animicamente ,já que ele estava com a cabeça no meio das CPI do Futebol em Brasília e perdeu também para 9 jogadores de Camarões; 2004 foi lamentável, nem fomos viajar para disputar; em 2008, foi de qualquer jeito a preparação, uma vergonha. Dunga pegou uma equipe que tinha Messi pela frente; em 2012, Mano Menezes assumiu em cima da hora e não nos preparamos legal, éramos favoritos e fomos derrotados por um bom time do México. Agora vamos jogar em casa, vai ter Neymar, também um certo mau humor do futebol brasileiro. Mas, por todas essas questões casuais, não deu, todavia não estamos fazendo algo brilhante, não que fosse o caso do Dunga assumir, até porque ele não tem a ver com o ótimo trabalho do Rogério Miccale. Temos condições de ser o pais mandante e ganhar, porém é difícil imaginar e explicar, por mais que tenha dado alguns pontos, os motivos que o Brasil ainda não ganhou o ouro olímpico.

Agora voltando ao seu pai, grande Joelmir. Quando começou a faculdade de jornalismo, teve certo receio em ser somente uma sombra dele? E como conseguiu desvencilhar – se dessa possível pressão?

Mauro Beting: Eu sempre quis ser jornalista, desde berço, nunca me vi fazendo outra coisa; na USP, fiz o curso de Direito mais torto possível e de noite Jornalismo na FIE que era mais perto de casa na época. A partir do 3° ano das duas faculdades comecei a trabalhar na TV Bandeirantes; eu sempre quis assumir ser o filho de quem eu sou e assinar Beting. No começo, queria até dividir meu primeiro nome , digamos, era Mauro Zioni Beting, que era nome do meu avô, claro, materno. O sobrenome de meu pai é o da minha tia Cecilia, mãe dos brilhantes Erich Beting e Graziela Beting, também jornalistas. Então eu pensei ‘ Quer saber? Tenho a imensa honra de ser filho do meu pai, então vou assinar Beting, pois eu sei que nunca vou chegar à altura dele’. Então é por isso que sempre pude levar isso de tranquilo, porque eu me preparei, não para ser melhor que ele, mas, ao mesmo tempo, acabo me cobrando muito para ser do mesmo nível que ele, ou então trabalhar tanto quanto. Por isso não sou o jornalista que mais trabalha, mas sim o mais versátil. Faço textos em jornais, na internet, comento jogos em rádios e TVs, no videogame, sou curador do museu Pelé e da CBF, estou junto em quatro projetos culturais envolvendo a história do futebol brasileiro, do Palmeiras e outros clubes também, apresento palestras, até preleção para jogadores já fiz. Eu quero ser assim, como foi meu pai, que era multimídia antes mesmo desse termo existir. Eu não encaro como pressão, tem alguns que falam que só tenho sucesso por causa do Joelmir, isso que ele morreu faz mais de três anos e só fui trabalhar com ele depois de dezessete anos de profissão, além de não ser nepotista, sou burro mesmo.

Quando pensamos atualmente no futebol canarinho, vem a mente aquele fatídico 7 x 1. Acha que vai ter um momento que vamos esquecer nossa seleção e torcermos só por nossos clubes? Nos bastidores, na sua visão, há esse temor?

Mauro Beting: Claro que a paixão pela seleção anda diluída por erros da mesma, por coisas do nosso movimento, e não só em termos de futebol, até em um certo, digamos, não ódio, mas desamor á pátria. Tem uma série de contingências: hoje você torcer mais pelo Barcelona do que por um clube daqui, torcer pelo ele, Real Madri, Bayern de Munique, ainda vai, mas as vezes se torce mais pra um Leicester, não só pela superação, mas se torce mais pelo West Ham, nada contra, mas e ai? Torce mais pro West Ham do que pra Portuguesa, Botafogo, Palmeiras, Corinthians, não é o caso; então é uma série de coisas, o 7 á 1 foi uma fatalidade, claro, não é normal, e mais anormal ainda que o Brasil sediou duas Copas , ainda é o país que mais vezes foi campeão do mundo e perde as duas que estava sediando. Para ver a força do futebol brasileiro, mas essa questão é absurda, como tivemos um Maracanazzo tão triste e um tão deplorável 7 x1, nem a seleção da Coréia do Sul, nem a África do Sul em 2010 perdeu de 7. Perdeu de 7, numa semifinal e para a futura campeã do mundo, uma baita Alemanha, mas não se perde com esse placar. É claro que isso ainda vai ficar por muito tempo marcado, é outra derrota irreversível e o Brasil conseguiu criar o Mineirazzen, pra digamos, germanizar o nome; o fato é que não da pra entender o 7 x 1 naquele momento, claro,dá para entender perder para uma Celeste Olímpica por 2 x 1 e ainda por uma Alemanha tetracampeã; o que não é normal é ser derrotado assim, tomar 4 gols em 6 minutos, como a gente tomou naquele dia. Mas vai virar o jogo, em 50 ficamos com complexo de vira – lata e que só virou em 58 na Suécia. Ainda tem muita coisa a ser feita, mas também não necessariamente desfazer, discordo com meu amigo de Jovem Pan, queridíssimo Vamp, dizendo que não deveriam convocar mais ninguém que participou do 7 x 1. Não é por ai, a gente pensava o mesmo da geração de 90, quando a lazarenta foi eliminada nas oitavas naquele campeonato para um brilhante Maradona, na derrota pra Argentina com gol feito pelo Caniggia; mas 10 que estavam na derrota foram tetracampeões em 94, depois de 24 anos, nos Estados Unidos. Tem sim que apoiar a base, não pode prescindir de alguns jogadores importantes, outros, talvez sim, mas outros de uma base, não, querendo ou não o Brasil ainda foi o quarto colocado naquele torneio.
Sobre o elenco atual do Palmeiras, temos Prass, que é um exemplo de pessoa e um goleiro sensacional. Depois do titulo da Copa do Brasil, o que falta para ele entrar no Hall de ídolos do clube? Para a geração que não viu o Santo debaixo da trave, ele vai ser um novo ídolo?

Mauro Beting: Prass não é santo, embora está no panteão, na Academia dos Santos palmeirenses é como coração de mãe, não só o palmeirense, qualquer torcedor, sempre cabe mais um, mas Prass já é um servo de Deus, porque são digamos, estágios pra você chegar a ser santo, um dos primeiros estágios se eu não me engano são 2 ou 3, servo de Deus, beato ou tem outro nome e santo, o Fernando Prass já é servo de Deus, é porque o Palmeiras está carente? Esta! E também muito da idolatria ao Valdivia se devia a isso, mas pelo caráter e pela qualidade e por essa academia de goleiros do Palmeiras que vem lá de antes do Oberdan Catani, no tempo do Palestra, em 1940, vem desde o Primo, não por acaso o primeiro dos nossos grandes goleiros passa pelo Nascimento, pelo Jurandir, mas principalmente á partir de 40 com o Oberdan, o Palmeiras quase sempre teve grandes goleiros titulares, até reservas de seleção, o João Marcos por exemplo chegou a seleção brasileira em 83, ele nem era titular absoluto do Palmeiras em 83, o Marcão mesmo, o São Marcos em 96, quando o Veloso se lesionou, e ele começou a jogar pra valer e em apenas 19 jogos pelo Palmeiras estava na seleção do Zagalo em 96, então realmente a gente tem uma história absurda de goleiros e o Fernando segue essa linha e o que é legal que depois de 18 anos o Palmeiras contrata um goleiro, já experiente, e faz o que tem feito, se identifica da maneira como se identifica, pela qualidade, pelo esforço e principalmente pelo caráter e ainda faz coisas que ele não fazia antes, no Vasco que ele teve passagens ótimas, campeão da Copa do Brasil, Libertadores 2012, o Prass não catou 1 pênalti. No Palmeiras de Janeiro 2015 pra cá ele já pegou 9 ou 10, eu já até perdi as contas, na dúvida ele vai pegar um contra o Corinthians sempre, então é impressionante, então eu acho que pelo cara que é, sensacional, e pelas histórias sensacionais que ele tem feito, não tenha dúvida que já é um servo de Deus, o São Prass.

O palmeirense sempre teve uma visão bem pessimista em relação a mídia, alguns dizem que são todos clubistas e que odeiam o Palmeiras; já outros veem o “clubismo” e entendem a profissão. Como foi para adaptar – se há todo esse jogo nos bastidores e, ao mesmo tempo, não deixar seu amor de lado?

Mauro Beting: Essa nona pergunta eu meio que respondi picada por ai, mas é assim: é fácil, o juiz tem um time. Imagina você apitar um jogo torcendo pra uma equipe; jogador idem. Nos últimos anos, a gente achou que muitos dos nossos centroavantes odiavam o Palmeiras, como muitos de nossos presidentes ou alguns deles, alguns treinadores né, e a gente sempre acha que a imprensa não gosta do Palmeiras. Historicamente, não gosta né, ou não gosta tanto assim; o Jornal “Estado de São Paulo”, por exemplo, as vezes, não publicava a escalação dos italianinhos do Palestra Italia né, ai no celebre 8 à 0 de novembro de 33, do Palestra contra o Corinthians o próprio jornal falava que foi uma derrota retumbante do Corinthians, mas mais detonava o Corinthians do que enaltecia o Palmeiras. Dizia que o Palmeiras não jogou tão bem, só meteu 8 à 0 no maior rival em 33 no Palestra. Então assim, há um mau humor de um modo em geral; dos grandes paulistas, é o que tem menos humor né, ou, digamos , uma benevolência por parte da imprensa; a gente também é muito chato, Palmeirense é muito corneta, qualquer virgula a gente acha que é contra, mas, no mais, as vezes, realmente tem gente que não gosta e eu posso falar, com 26 anos de ofício, ouvindo, vendo televisão e lendo tudo de 72 pra cá, que realmente tem gente que não gosta e eu posso dizer porque até alguns colegas e queridos amigos meus. E não é só jornalista, tem taxidermista, taxista, uberista, presidente da república que não gosta, na dele, mas periodista tem que. Embora eu seja assumida e desbragadamente torcedor, dificilmente você vai ver um corinthiano dizer que eu estou contra o Corinthians por ser Palmeirense; claro que vai ter, mas eu já ouvi muito mais de outros colegas meus. Eu não vejo dificuldades em fazer o exercício do ofício, é só você pensar “cara, eu sou pago pra ser jornalista né e não pra ser torcedor”, então faça o seu e não é difícil não, não tenho problema. Agora o que é uma pena é que tem muita gente que, muita gente não, as vezes o pessoal extrapola, e no caso, pro Palmeiras, qualquer espirro vira pneumonia né, e uma praga de zika num clube vira um resfriadinho né, então, muitas vezes, o Palmeirense tem razão em achar que muita gente só tem emoção ou só tem birra contra o Verdão.
Agora, para terminar, o quanto otimista está para esse Brasileiro do Palestra, um titulo que não vencemos faz 22 anos? E, na sua opinião, o que falta para o time deslanchar?

Mauro Beting: Estou muito confiante pelo Palmeiras, pelo investimento, pelo time, pelo elenco, muito pelo Cuca, pela gente que está chegando e as que estão saindo ou nem deveriam estar no clube. De um modo geral, pela qualidade ou não dos concorrentes, o Palestra é um dos tantos postulantes pelo menos ao G4. Estou bem mais confiante do que ano passado, que eu achei que o time não iria chegar na zona de classificação da Libertadores e muito menos ganharia a Copa do Brasil, como também em 2012. Vamos brigar lá em cima, não falta muita coisa no elenco e falta nas outras equipes. Estamos mais cascudos, aliviamos muito a pressão com a conquista do titulo do ano passado, estamos mais acostumados ao Allianz Parque, tem jogado bem com a torcida junto, enfim, eu vejo muito potencial. Agora é rumo ao eneacampeonato, a palavra é feia, mas nada é feio quando falamos no alviverde imponente!

Frase marcante que hoje está gravada no vestiário do Palmeiras.

Por Gabriel de Nani.

Transcrições feitas por Gabriel de Nani, Rafael Pimentel e Laissa Pavani.

Agradecimentos pela revisão para Leticia Denadai e Ana Lúcia Branco.

Um grande abraço ao próprio Mauro Beting que doou seu tempo para falar com a gente.

Últimos Posts

Rhuan comemora marca histórica na carreira em 2024

O lateral-direito Rhuan, do Vila Nova, fez em 2024 a temporada com o maior número de jogos da carreira desde…

28 de novembro de 2024

Breno Teixeira marca primeiro gol pelo Cherno More e reforça ambição por vaga na Champions

Revelado nas categorias de base do Cruzeiro, Breno atuou em várias posições do meio-campo e também até como centroavante, ao…

28 de novembro de 2024

Sob o comando de Mauricio Souza, Red Bull Bragantino chega à final do Brasileiro de Aspirantes 2024 tendo a melhor campanha, melhor ataque e melhor defesa da competição

O experiente técnico Mauricio Souza, com passagens por Flamengo, Vasco, Botafogo, Athletico Paranaense e Madura United(Indonésia) comandou o Red Bull…

21 de novembro de 2024