|

Da defesa com os pés à conquista da glória eterna

“DEFENDEEEUUUUU, VICTOR, SÃO VICTOR, VAI TERMINAR, O VICTOR FAZ O GOL DA CLASSIFICAÇÃO DO GALO” foi como Osvaldo Reis, o Pequetito, um dos maiores narradores do futebol mineiro, narrou na maior defesa do goleiro de 424 partidas pelo Clube Atlético Mineiro. Era um jogo pela Copa Libertadores de 2013, quartas de final ante o Tijuana, do México. Numa das épicas noites do Atlético no Horto, o pé canhoto de um arqueiro foi quem decidiu. Dali, o Atlético partiu para ser campeão da América.

Ao torcedor atleticano, qualquer sofrimento que já se passou ao longo de 113 anos é bobagem. Todos os títulos e os ‘não-títulos’ também foram sofridos. Quando o Atlético sobrava, o azar impedia, ou seja, além de jogar contra sabe-se lá quantos adversários, o CAM sempre tropeçava nas próprias pernas na reta final de uma maratona. Essa sorte deu uma mudada em 2013 e 2014 apesar dos pesares.

Victor Leandro Bagy chegou em 2012 ao Atlético, vindo do Grêmio. Essa mudança em sua carreira foi no exato momento que o time mineiro mudava de patamar. De goleado para o maior rival, Cruzeiro, por 6 a 1 em 2011 a vencê-lo em 2014 numa final de Copa.do Brasil. Esse foi o conto épico vivido pelo Galo. Na maioria das batalhas, seja de local, no Independência ou Mineirão, ou de visitante, a escalação começava com 83 ou 1 – Victor. Depois vinha o resto. Pegarei aqui o conto da Copa, onde o gigante de 1,93m foi herói.

No primeiro ano, vice-campeão brasileiro para o Fluminense, rendendo a vaga direta na fase de grupos da Libertadores. Foi aí que os humilhados começaram a ser exaltados. O Atlético de Victor passou em primeiro geral, o que dava sempre a vantagem de decidir em casa (e como isso foi importante, torcedor atleticano). Nas oitavas, derrubou o gigante São Paulo. Aí veio o conto relatado no começo deste texto ante o Tijuana. Na semifinal, contra o argentino Newell’s, Victor pegou mais um pênalti, no seu canto esquerdo. Foi a despedida da ferradura do Independência rumo ao Gigante da Pampulha.

A final foi diante do Olímpia. A ida 2 a 0 e a volta em casa inesquecível. A glória eterna foi sob os olhares de mais de 50 mil no Mineirão. Gol de Jô e drama. Faltava um tento ao menos. Ele veio com Léo Silva de cabeça quase no apagar das luzes. Mas antes, Victor falhou, deixando o arco livre para o rival. Naquele dia, o azar foi embora, até a grama ajudou e o adversário escorregou.

Um pênalti nas quartas, um na semifinal e lógico que ele pegaria na final. O primeiro de Herminio Miranda ficou nos pés de Victor. Os companheiros fizeram as partes deles e converteram. Matías Giménez poderia ter convertido e deixado para alguém do Atlético decidir. Porém, a história tinha que ser com o paulista de Santo Anastácio. O argentino mandou no travessão, a foto do título teve Victor. Não literalmente, essa foi a primeira vez que o Mineirão veio abaixo na noite de 24/07/2013.

Quase 8 anos depois, a última dança foi sem a Massa, muito diferente da mais gloriosa. No mesmo Mineirão, só que sem torcida por conta da pandemia, Victor foi homenageado. 424 jogos, uma Libertadores, uma Copa do Brasil e quatro Mineiros. Ele defendeu muito, falhou outras vezes, mas foi, sem dúvida, o maior homem que defendeu o arco atleticano.

Foto de capa: Reuters