Bahia

MF ENTREVISTA: Dado Cavalcanti treinador do time sub-23 do Bahia

Luis Eduardo Barros Cavalcanti nasceu em Arcoverde-PE em 9 de julho de 1981. Não chegou a ter uma carreira como jogador, mas começou cedo como treinador e com apenas 24 anos, conquistou seu primeiro título um recorde que persiste até hoje: O treinador mais jovem a ganhar um campeonato oficial no Brasil. Em entrevista Dado falou sobre a carreira, atualidade no comando do Sub-23 do Bahia e os planos para o futuro

 

MF: Você iniciou sua carreira de treinador muito cedo, conquistando seu primeiro título profissional aos 24 e estabelecendo o recorde de treinador mais jovem a ganhar um campeonato no Brasil. Como se deu seu início nas divisões de base do Náutico até chegar ao Ulbra-RO?

Dado: Enquanto atleta, no período que fiquei treinando em separado dos profissionais, me aproximei do treinador Pedro Manta e do preparador físico Alexander Gomes, do sub-20 do clube. Entre várias conversas surgiu a possibilidade de estágio, pois naquele momento eu cursava Educação Física na UFPE. Tinha muita curiosidade no curso e visualizava na prática a teoria aprendida nas aulas. Naquele momento, pensei em fazer uma pausa na carreira como atleta e dar atenção aos estudos.

No fim do ano, estagiando na base do Náutico, não pensava mais em jogar. Fiquei mais 3 anos entre várias funções até a minha saída em 2004. Em 2005 fui para a base do Sport, ainda como estagiário, até que no fim do ano recebi o convite de um amigo que comandava um projeto de futebol profissional na Ulbra em Ji-Paraná-RO. Guga Zloccwick é hoje um dos melhores treinadores de beach soccer do mundo, e na época, já tinha uma experiência vasta na modalidade. Recebi o convite do mesmo para ajudá-lo nessa tarefa nos campos. Visualizei a oportunidade de trabalhar no futebol profissional e me desliguei do Sport, da minha cidade, da família e dos amigos para viver esse sonho. O Guga recebeu um convite para treinar a Seleção de Beach Soccer e foi para a Rússia. Permaneci no clube e assim começou minha jornada como treinador de futebol, com apenas 24 anos, em 2006.

 

MF- Por ter iniciado muito cedo, era normal que alguns atletas fossem mais velhos do que você. Tinha alguma dificuldade para conseguir respeito e manter a disciplina?

Dado: No meu início a média de idade do grupo era maior que a minha própria idade. Confesso que internamente foi até mais simples do que imaginava. Demonstrei muito respeito pelos atletas, sem perder a autoridade de um comandante. Me concentrei em não permitir espaços para dúvidas ou especulações apresentando sempre muitos conteúdos no treinamento, gerando sempre uma satisfação motivadora em cada seção de treino.

MF: Depois de passar pelo futebol brasiliense, retornou a Pernambuco para dirigir o Santa Cruz, um dos grandes clubes de seu estado natal, inclusive sendo eleito o melhor técnico do estadual em 2010.  Como você avalia esse seu primeiro trabalho “em casa”?

Dado: O Santa Cruz me abriu as portas para uma visibilidade em nível nacional. Foram dois momentos importantes até para vida do clube. Em 2009 assumi um time desclassificado da Série D, sem dinheiro e auto-estima. Montamos um grupo de atletas que não tinha sido muito aproveitado no clube, com vários jogadores do sub-20 e alguns destaques do interior do estado para disputar a Copa Pernambuco. Fomos campeões, porém mais importante do que o título, foi ter montado uma base de atletas da casa, como: Gilberto, Memo, Natan, que dois anos depois alavancaram o clube com acessos e títulos estaduais.

No estadual de 2010 chegamos às semi e por pouco não voltamos a uma final, porém o ápice daquela passagem foi igualar a melhor marca do clube na Copa do Brasil. O Santa não passava da primeira fase há 3 anos seguidos e nesse ano nós paramos nas oitavas desclassificando o Botafogo em pleno Engenhão. Vivi ali umas das maiores manifestações de carinho de uma torcida, nos recepcionando no retorno com milhares de torcedores no aeroporto.

Foto: Santa Cruz FC.

MF: Entre 2011 e 2014 você rodou por vários clubes entre os quais Coritiba, Náutico, Paraná, Ponte Preta, Ceará e Luverdense. Quais os pontos positivos e negativos desses rodízios de clubes?  Alguma dessas passagens deixou uma marca maior em você?

Dado: O rodízio de clubes me trouxe mais coisas boas do que coisas ruins. Claro que se pudesse escolher, escolheria ter feito um trabalho mais longevo, porém as trocas me deram referências para entender as diferenças de clubes para clubes, além adquirir mais experiência. Cada passagem tem sua história e sua importância na minha carreira e na construção da minha identidade como treinador, e guardo todas com muito carinho.

 

MF: O Paysandu foi o clube que você dirigiu por mais tempo.  Como você define esse período na sua carreira?

Dado: Guardo com muito carinho o Paysandu na minha memória assim como sei que também tenho um lugarzinho especial no coração do torcedor. Foram 3 títulos conquistados. Um estadual invicto e duas Copa Verde, sendo uma de forma invicta. Em 2015 passamos muito perto de conquistar o acesso para a Série A do Campeonato Brasileiro. Muitas emoções foram vividas no Mangueirão e por isso considero muito marcante minha passagem.

 

MF: Enfim chegamos em 2019. Como você recebeu o convite do Bahia e o que te fez aceitar o desafio de treinar uma equipe sub-23(transição) ao invés de seguir trabalho com os profissionais?

Dado: Recebi uma ligação do Diego Cerri, executivo de futebol do Bahia descrevendo todo o projeto do Departamento de Transição do clube. De cara percebi várias diferenças com outros trabalhos similares que existem em outros clubes. Primeiro que o departamento não é vinculado à base e sim ao Profissional. Tendo assim toda estrutura que o Bahia oferece ao time principal. Tendo uma comissão técnica específica, mas contando com a mesma equipe de apoio, logística e estrutural.

Visualizei também a oportunidade de realizar um trabalho autônomo com início, meio e fim. Já que nos últimos anos o imediatismo no futebol vinha dificultando tal “façanha”. Por último, carrego comigo uma satisfação pessoal em contribuir com o crescimento na carreira de jovens atletas. Em todos clubes onde passei, sempre executei bem esse trabalho, de revelar atletas mais jovens, e colocá-los para jogar no time profissional. Aqui no Bahia apenas oficializei esse desafio que era paralelo em outras equipes.

Dado comandando treino do time de transição do Bahia (Foto: Felipe Oliveira).

MF: Como é o trabalho para manter a motivação de atletas que em algumas ocasiões já esperavam estar no time de cima e ainda não conseguiram e daqueles que já jogaram no time profissional, mas estão na transição?

Dado: O trabalho do jovem atleta em si, já requer bem mais atenção. Não tanto pela motivação, pois visualizo todos muito motivados, mas principalmente pelo controle das emoções que são muito controversos nesse período. Família, empresários, amigos, todos esperando um retorno que por vezes podem vir tardiamente. O trabalho precisa ter o conteúdo técnico, mas muita conversa elucidativa em complementos.

MF: Quais suas pretensões para o restante de 2019 e para seu futuro no Bahia?

Dado: Tenho contrato com o Bahia até 30 de abril de 2020, onde encerro o meu vínculo e o projeto com a equipe de transição. O Brasileiro de Aspirantes é apenas o meio do projeto. Iniciamos com a formação da equipe que foi muito importante. Utilizamos de vários jogadores do clube que não jogavam a bastante tempo e trouxemos novos atletas até chegar no que temos hoje. O Campeonato serve de amadurecimento para eles e na condição que estamos, vamos buscar o título, porém o mais importante é possuir hoje, uma equipe competitiva, que possa trazer desafogo para o calendário do Bahia, no início do ano de 2020. Esse seria o objetivo final. Após isso irei me recolocar no cenário profissional usufruindo dos ensinamentos diferentes obtidos nesse período.

 

MF: Por fim, quais são seus planos para o futuro de sua carreira? O que você buscava atingir e já conseguiu e o que você ainda pretende alcançar?

Dado: Tenho 38 anos de idade e mesmo possuindo 13 anos de carreira, ainda sou jovem na profissão. Devo trabalhar por no mínimo 20 anos ainda. Espero me consolidar no nível dos treinadores de Série A, com muito trabalho e muita paciência.

Antonio Jacques

25 anos.  Formado em Jornalismo com MBA em Gestão Esportiva, amante de filmes, games e principalmente futebol.  Colunista do MF desde 2016.

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