Em entrevista ao MF, o técnico relembra bons e momentos mais agitados da carreira
Experiência, histórias, e sinceridade. Algumas das palavras que ajudariam a definir como é o técnico Fahel Júnior. Com passagens por diversos clubes, o técnico falou de como foi comandar as equipes, o melhor momento para se comandar um time e até mesmo do mercado exterior para técnicos. Citou Tite, com quem esteve na mesma sala durante o último curso para técnicos da CBF e até relembrou histórias do seu tempo na profissão. A entrevista, você confere abaixo:
1- Com passagens por clubes como Ituano, Santo André, Rio Branco, Votuporanguense e Rio Claro, você tinha o mesmo plano técnico para os treinos do time?
Fahel:Em algumas dessas equipes citadas, eu fui responsável pela montagem do elenco desde o começo, caso do Santo André, do próprio Rio Claro e do Rio Branco eu pude colocar o meu próprio modelo de jogo que eu pretendia implantar. No caso da Votuporanguense, do Ituano eu peguei durante o campeonato e não fui eu que montei a equipe, mas mesmo assim, em duas passagens pelo Ituano, fizemos uma grande campanha na Série C e na passagem pela Votuporanguense, eu assumi na 4ª rodada, já com o elenco formado e tiramos a equipe da última posição na tabela e quase chegamos à zona de classificação para a Série A1 do Paulista, em 2016.
Então é mais fácil montar a equipe e implantar o seu modelo de jogo quando você assume desde o começo, você monta da maneira que você quer que jogue. Não que, assumindo durante o campeonato, você não consiga implantar, mas como no Brasil há um imediatismo, então é bem melhor você pegar uma equipe desde o começo e quando não, você tem que tentar trabalhar com o que tem, mexer o mínimo possível para não “desmantelar” e causar um grande dano na equipe.
2- Qual seu esquema tático de jogo favorito? Por quê?
F:Eu creio que treinador não pode se prender ao esquema tático, né. Você tem que ter o seu plano de jogo, estratégia e com os jogadores que você tem em mãos, fazer as mudanças táticas necessárias durante a temporada. Você jogar no posicionamento tático 3-5-2, 4-4-2, 4-2-3-1, 4-3-3 e mexer as peças no elenco, treinar a equipe dessa maneira para poder surpreender o adversário. O que eu gosto, realmente, é uma equipe dinâmica, veloz, com transições rápidas, tanto defensivas quanto ofensivas, uma equipe organizada defensivamente no modelo e no plano tático determinado na semana ou durante a temporada ou a pré-temporada. Eu mesmo, sou treinador que não me prendo à um esquema tático, eu me prendo muito mais a uma equipe organizada taticamente, uma equipe com intensidade.
3- Como surgiu a proposta de treinar o time do XV? O que te fez aceitar a proposta?
F:A proposta surge das campanhas que você faz. Nenhum aventureiro vai treinar o XV de Piracicaba, com a tradição e a camisa que tem. Eu fiz uma grande campanha no próprio Rio Claro, no Ituano, joguei várias vezes contra o XV de Piracicaba, fazendo grandes jogos tanto na Série A1 quanto na Série A2, fomos adversários difíceis, sempre. Então todo esse retrospecto meu, fez o XV me procurar e o que me fez aceitar a proposta foi isso, a tradição, a torcida e a cidade. Infelizmente, não pude seguir o trabalho, foi um incidente infeliz que já faz parte do passado e que agora é bola para frente. O XV com a camisa que tem, com a força que tem, com certeza vai ter muito sucesso aí, no ano de 2019 e eu procurar novos ares, tentar desempenhar o papel que eu tenho feito nas equipes que eu tenho trabalho.
4- Houve uma polêmica sua com um jornalista numa partida com o Rio Claro. O que levou a tomar certas atitudes? Como foi lidar com a imprensa e com o clube após o ocorrido?
F:Sim, houve um incidente com um jornalista da cidade, na véspera do jogo contra o meu ex-clube, o Rio Claro. Uma atitude impensada, vamos dizer assim, não posso dizer o que me levou a tomar uma atitude daquela, sendo que eu estou acostumado com cobrança, pressão. Foi aquele um minuto, talvez, de “não-lucidez” que a gente tem na vida. Eu nunca tive problema com nenhum meio de comunicação, nenhum órgão de imprensa, sempre aceitando as críticas, debatendo sempre em coletivas, não em lugar público. Então, foi um incidente do passado, é uma coisa que ocorreu e tenho certeza absoluta que não vai ocorrer mais na minha carreira. As cobranças vão ser feitas ainda, as discussões vão ser feitas de uma forma sadia e profissional, nunca da maneira que foi feita naquele episódio. Foi um erro meu, mas acho que foi uma precipitação também do XV de Piracicaba em me mandar embora. Acho que talvez poderiam sim ter me colocado melhor, numa coletiva, pedindo até desculpas ao jornalista e ele também pela atitude comigo e não precisaria levar à demissão. A equipe não estava numa má colocação, estava à um ponto da zona de classificação, numa 5ª rodada ainda, então não foi motivo pra tanto. Porém, as atitudes já foram tomadas, o XV segue a sua vida e eu sigo a minha e esse episódio não vai mais ocorrer na minha carreira.
5- É um fato que o mercado para técnicos brasileiros é fechado, sendo poucas as oportunidades de trabalho no exterior, enquanto diversos latinos brilham no estrangeiro. Como você vê essa importante questão?
F:Não vejo também dessa maneira de tanto latino brilhando, vejo sim eles trabalhando, tendo mais oportunidade no exterior do que os brasileiros. Vejo também que a nossa licença está sendo reconhecida agora pela Conmebol, com certeza ainda vai passar pelo aval da UEFA a nossa licença, que era um dos obstáculos para trabalharmos fora do país, a licença não ser reconhecida enquanto outras licenças sul-americanas são mais aceitas na Ásia, no mundo árabe. Na Europa, eu fiz agora a licença pró que dá direito a você dirigir clubes no continente para treinadores que trabalham há 5 anos na Série A. O que pega mesmo nem é o caráter profissional dos técnicos brasileiros, mas sim a licença ser reconhecida lá fora.
O mercado vai se abrir mais, com certeza. O Tite vem levantando o nome dos treinadores brasileiros, dirigindo a seleção brasileira com grande competência. Inclusive, o Tite fez o curso com a gente, estava na minha sala, foi meu vizinho de carteira. O Mano Menezes, o Dunga, treinadores renomados fazendo esse curso que dá mais credibilidade ainda ao curso, isso é muito importante. Muito importante as pessoas verem que treinadores renomados estão se reciclando e adquirindo essa licença. O mercado para treinadores brasileiros no mundo Árabe era bem maior, creio eu que agora vai voltar a ser um atrativo para os brasileiros também. No mercado asiático temos os brasileiros voltando, caso do Nelsinho Batista que voltou ao Kashima Reysol, o Oswaldo de Oliveira que foi campeão da Taça do Imperador, o André Gaspar que foi campeão na Coréia, então temos aí os brasileiros brilhando fora, aumentando o nosso mercado e a nossa credibilidade nos mercados asiáticos e no mundo árabe, falta abrir mais o mercado europeu.
6- Almeja algum time internacional? Quais são os seus planos para o futuro?
F:Lógico que a gente almeja, né. Eu trabalhei 15 anos fora do país, no Japão. Tenho vontade sim de trabalhar fora do país, aonde você consiga fazer um trabalho de médio, até longo prazo, coisa que no Brasil ainda é muito difícil, o imediatismo aqui é muito grande e não é só comigo que acontece. O tempo máximo que nós temos aqui, no Brasil, em clubes menores ou até maiores aí, é de 3 a 5 meses, um absurdo isso. Então, vale muito pelo resultado de imediato do que o trabalho feito. Vemos treinador sendo mandado embora com 3, 4 jogos; treinador sendo mandado embora com 3, 4 meses, então não tem uma longevidade, enquanto fora do país ainda há um respeito, mesmo tendo já uma cobrança maior, mas há um cumprimento do contrato. Eu mesmo fiquei trabalhando numa equipe lá no Japão por 8 anos, então, lá fora felizmente você é mais respeitado. A cobrança tem, mas dão o tempo para você fazer o seu trabalho.
7- Deixe uma mensagem para os leitores do MF.
F: A mensagem que eu posso deixar é desejar um Feliz 2019, que no nosso país, pelo menos na minha área, que é o futebol, os treinadores brasileiros consigam ser reconhecidos, a licença consiga ser reconhecida lá fora, que está tendo um empenho muito grande nosso. No último curso da CBF tinham mais de 200 treinadores, tanto da licença A quanto da licença Pro, então mostra que nós treinadores estamos nos movimentando para melhorar o futebol brasileiro. Então o meu desejo é isso, um 2019 muito bom, tanto na parte econômica como na parte esportiva, que nós possamos ter um grande ano, melhor do que foi 2018 e espero ter mais calma no trabalho (risos), uma maior longevidade para que tenhamos mais sucesso. Obrigado, tchau tchau!