Opinião: Suspensão do futebol é ilógica

Na tarde desta quinta-feira (11), o Governo do Estado de São Paulo anunciou, dentre outras medidas, a paralisação do Campeonato Paulista. A decisão vale do dia 15 até 23 de março. Os estaduais do Paraná, Santa Catarina e Acre já estavam parados. A situação sanitária é gravíssima e deve, certamente, ser tratada com a devida seriedade. Contudo, a suspensão do futebol se mostra um equívoco.

Primeiramente, faz-se necessário demonstrar a preocupação com a pandemia. Na noite de ontem (10), o Brasil registrou recorde no número de mortes nas últimas 24 horas: 2.286 vidas ceifadas. Tristíssimo. Lamentável que, após um ano de coronavírus, estejamos no pico de infecções da doença. Nesse sentido, no âmbito do estado de São Paulo, especificamente, a ocupação de leitos de UTI está no limite. A pandemia de covid-19 não deve ser tratada com obscurantismo, como faz o Presidente da República, mas sim com a ciência — tanto a epidemiologia, quanto a econômica. É justamente a ciência que evidencia a fraca, quase inexistente, relação entre a prática do futebol e o número de contaminados.

Sob tal ótica, cabe recorrer à nota divulgada pela Federação Paulista de Futebol, na última terça-feira: “A recomendação (de parar o Paulista) vai na contramão do combate à Covid-19 no mundo, como em países que realizaram rigorosos lockdowns em meio à segunda onda e mantiveram o futebol profissional em atividade. Nações como Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos, mesmo com medidas extremamente restritivas à população, seguiram com suas ligas em atividade, sob o correto conceito técnico de que os jogos de futebol não são, sob nenhuma hipótese, locais que sugerem qualquer tipo de contaminação”.

Ainda, cita-se que o Campeonato Brasileiro 2020 registrou cerca de 320 casos de coronavírus, entre técnicos e jogadores. Nenhuma morte. Estima-se que uma partida de futebol envolva, no total, de 150 a 200 pessoas. Considerando-se esses dados e os 380 jogos do Brasileirão, são marcas louváveis. Além disso, se tal esporte piorasse o cenário pandêmico, por qual motivo os leitos paulistas ficariam lotados somente oito longos meses depois do retorno do futebol no estado (26 de julho)?

Pois, suspender o Campeonato Paulista não irá ajudar a esvaziar os hospitais. Porém, acarretará em problemas financeiros aos já endividados clubes de São Paulo. Sem a transmissão dos jogos, a principal e quase única fonte de receita dos times em tempos pandêmicos, as cotas de televisão, corre risco de sumir.

Ressalta-se, entretanto, que esta não se trata de uma análise negacionista, que corrobora com o discurso de falas como “E daí?” e “Não sou coveiro”. Este penúltimo parágrafo se dedica em homenagem às 207.917 vítimas da covid-19 no Brasil.

Em suma, a decisão de suspender os campeonatos estaduais ao longo do território nacional se trata de uma decisão ilógica. Ao paralisar os jogos, a rede de saúde não tem ou terá nenhum ganho em relação à ocupação de leitos de UTI. No entanto, ao fazê-lo, traz-se prejuízos aos clubes de futebol.

Foto: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo. Governador João Doria e infectologista Jean Gorinchteyn anunciando medidas da fase emergencial.