O Uruguai venceu a seleção portuguesa e mandou para a casa, nada mais nada menos, o craque Cristiano Ronaldo, atingindo mais uma façanha: chegar às quartas de finais da Copa do Mundo de 2018. Embora não pareça, estamos falando de um país que tem aproximadamente 3,5 milhões de habitantes, mas que bate de frente com qualquer seleção do mundo devido à sua competitividade. A competição, para os uruguaios, é uma essência. Isso fica evidente quando vemos um jogador enfiar a cara na bola para disputar a jogada no chão. Não há bola perdida, não há time que não possa ser vencido, não há torneio que não possa ser ganho. Os jogadores que vestem a camiseta celeste, compreendem a grandeza e sabem o que tem de ser feito.
Não só a seleção, mas os times uruguaios também seguem o mesmo modelo. O futebol, muitas vezes nada agradável, em que a técnica é deixada um pouco de lado, mas que, acima de tudo, preza pela organização, disputa e a raça nas quais conquistaram o respeito dos outros adversários. O legado construído é fruto de trabalho, planejamento e visão do país voltado nos investimentos de base. Com o futebol sendo tratado com seriedade.
Em 2006, o planejamento para os investimentos de base foram colocados em prática, na liderança de Óscar Washington Tabárez Silva, o símbolo dessa revolução churra nos últimos anos, responsável por mudar toda a maneira de pensar futebol no Uruguai. No entanto, o mais curioso e intrigante dessa revolução futebolística é que, embora o trabalho estivesse voltado para o futebol, a ideia não era apenas o fortalecimento da seleção pensando à longo prazo pois esses garotos integrados as categorias de base amadoras da própria seleção, também teriam responsabilidades em relação a formação acadêmica. O ‘’El Maestro’’ (o professor), assim chamado no Uruguai, pois depois de pendurar as chuteiras e antes de ingressar na seleção uruguaia como treinador, foi professor e diretor de escola publica no Uruguai. Um homem, além de apaixonado por futebol, extremamente culto.
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Com 71 anos, Óscar Tabárez sofre de problemas nos nervos e tem muitas dificuldades para andar. Nos jogos do Uruguai, em grande parte do tempo ele assiste sentado no banco de reserva, ao lado de sua comissão técnica.
“Ele é professor de escola pública no Uruguai, vem de uma família toda de professores. É um cara muito diferenciado entre todas as pessoas que já conheci. Possui um grande vocabulário e uma cultura enorme”, declaração de Diego Lugano, ex-capitão e ídolo da churra, sobre Óscar Tabárez. “Antes de ser jogador da seleção do Uruguai, você precisa ser um bom ser humano para jogar com ele. Tabárez só convoca profissionais com valores e éticas. Isso importa mais para ele que ser um grande jogador’’. Outra declaração do zagueiro, que foi convocado pela primeira vez por ele, em 2006.
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No entanto, em 2006, quando Óscar Tabárez retornou a seleção uruguaia, após 16 anos, o treinador contou com uma equipe responsável de lidar com o aspecto humano dos atletas. O psicólogo Gabriel Gutiérrez é um dos responsáveis e idealizadores dessa revolução. “Menos de um por cento chega a ser profissional. Seria muito irresponsável estimular que o futebol é a salvação, quando a estatística marca que 99% não irão se salvar. Falar com os pais é fundamental, mas creio que as instituições esportivas tem que divulgar essas cifras, que são duras, e estabelecer políticas, nas quais, quem está participando do processo esportivo não abandone os estudos, que consolidem sua personalidade”, essas foram as palavras do psicólogo em entrevista para o jornalista Lúcio de Castro, ex-ESPN.
Eis a razão para um país, do tamanho que tem e a população que tem, ser extremamente competitivo, classificar três vezes consecutiva para a próxima fase da Copa do Mundo nas últimas três edições, manter um treinador há mais de uma década no cargo, ter uma ideologia e uma maneira de jogar que segue padrão e dá resultado. Desde as categorias de base à seleção principal. Há um planejamento, visão, educação, pessoas capacitadas e um trabalho extremamente bem feito e executado por trás, que deveria, inclusive, ser visto como modelo para alguns países vizinhos da América do Sul.
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