Agoniante e sofrido: o ano de 2020 do Cruzeiro em números

O 2020 do Cruzeiro não começou necessariamente neste ano. Parece irônico, mas o que o torcedor viveu ao longo desses 366 dias é efeito de temporadas passadas, principalmente de 2019, ano do rebaixamento. Com o inédito descenso, veio a dificuldade financeira, os erros na gestão do futebol, atraso de salários, troca de treinadores e um início de ano cheio de incertezas.

O caminho parecia ser encontrado ao decorrer da temporada. Só que hoje parece tudo incerto novamente. 48 jogos, pausa pela pandemia de coronavírus, troca de estádio, quatro treinadores, conselho gestor, novo presidente e a quase certeza manutenção na segunda divisão foram os principais eventos do ano. Sem entrar muito nos méritos fora das quatro linhas, farei aqui um resumo do desastroso 2020 para a Raposa.

Agonia, sofrimento, ilusão e tristeza são os substantivos para descrever o que aconteceu no ano para Cruzeiro. O time não foi goleado em nenhum momento. Dentro do Mineirão ou do Independência, perdeu para Chapecoense, América, Avaí, Sampaio Corrêa, Confiança e CRB. Jogar em seus domínios foi um martírio para o torcedor e time. Muitos jogadores passaram, 55 em 48 jogos. Dos primeiros 11 do ano, sobrou apenas Fábio na formação que empatou com o Cuiabá na página final de 2020.

Felipão é o sexto treinador do Cruzeiro em dois anos (Gustavo Aleixo/Cruzeiro)

Campeonato Mineiro

O Mineiro foi a primeira competição do ano para a Raposa, era um time com espírito de ‘terra arrasada’, cheio de jovens jogadores e com o mesmo treinador que caiu, Adilson Batista. A campanha foi a pior desde 1957, quando também ficou em quinto no estadual. Não ganhou nenhum dos dois clássicos: empate contra o América e derrota para o Atlético. Aí veio a pausa por conta da pandemia. O treinador foi trocado e vieram alguns novos jogadores.

O desempenho de quatro vitórias, dois empates e três derrotas colocou a Raposa na volta dos jogos numa situação complicada de reverter. Os dois jogos restantes na primeira fase foram vencidos, porém, não veio a classificação para a semifinal. Com isso, veio o Troféu Inconfidência e o Cruzeiro de Enderson Moreira venceu a semifinal e não jogou a final por conta dos casos de covid-19 no Uberlândia. Acabava aí a primeira competição do ano. Cruzeiro em 5º no Mineiro de 2020.

Enderson Moreira terminou como treinador no Mineiro (Gustavo Aleixo/Cruzeiro)

Copa do Brasil

A milionária Copa do Brasil teve o Cruzeiro presente em três fases e a Raposa não ganhou nenhum jogo. A primeira fase foi diante do São Raimundo-RR e a classificação veio em empate por 2 a 2. Na segunda fase, vitória nos pênaltis diante do Boa Esporte. Quando pegou o time de mesma divisão, o CRB, não teve jeito. O jogo de ida foi 2 a 0 com dois gols de Léo Gamalho no Mineirão. A volta foi no Rei Pelé com empate em 1 a 1.

Essa foi uma das piores campanhas na Copa do Brasil e quebrou a sequência de quatro semifinais seguidas do Cruzeiro. O aproveitamento foi de 25% dos pontos e o saldo ficou em -2.

A eliminação na Copa do Brasil foi para o CRB (Bruno Haddad/Cruzeiro)

Série B

A primeira temporada na segunda divisão começou de uma forma esperançosa para Raposa, três vitórias nos três primeiros jogos, “pagando” os -6 pontos da punição da FIFA por dívida. Só que conforme os jogos foram passando, veio a verdadeira face do time. O Cruzeiro jogou poucas vezes realmente bem na Série B. Consigo citar a partida contra a Ponte Preta no Mineirão, vitória por 3 a 0, o triunfo sobre o Paraná por 2 a 0, o 1 a 0 ante a Chapecoense e a goleada sobre o Brasil-RS.

Esses foram os bons jogos, as outras 28 partidas tiveram uma face agoniante, com pouca técnica, desorganização e com resultados que escaparam entre os dedos. Dentro de casa, perdeu para Chapecoense, América, Avaí, Sampaio Corrêa e Confiança. Todas as partidas por apenas um gol de diferença. A ponto de curiosidade, a maior derrota do ano foi um 3 a 1 para o CSA no Rei Pelé.

Enderson caiu após derrota contra o Brasil-RS, Ney Franco foi demitido depois de empate com o lanterna Oeste. Felipão veio como o salvador do desastre que seria o rebaixamento para Série C. E conseguiu. Com o treinador pentacampeão do mundo em 2002, foram 16 partidas e duas derrotas apenas. Isso rendeu mais uma ilusão pelo acesso. Só que o time desencantou e terminou 2020 com uma sequência de quatro jogos sem vencer.

O time e a campanha foram de meio de tabela na Série B, meio para baixo, não para cima. Em sua última coletiva no ano, Felipão declarou que veio para salvar o time do descenso, para fazer 45 pontos. Restam seis jogos na temporada, faltam quatro pontos.

Apesar de chegar recentemente, Rafael Sobis foi um dos destaques positivos do ano (Gustavo Aleixo/Cruzeiro)

Números do ano

O aproveitamento do Cruzeiro foi de 50,69% em 2020 em 48 jogos. Foram 19 vitórias, 16 empates, 13 derrotas, 59 gols marcados e 45 sofridos. O melhor desempenho por competição foi no Mineiro, 63,89%. Em 12 jogos, foram sete vitórias, dois empates e três derrotas, 19 gols feitos e 10 sofridos. O pior foi na Copa do Brasil, com nenhuma vitória, três empates e uma derrota. Na principal competição do ano, a Série B, 32 partidas, 12 vitórias, 11 empates e nove derrotas. 36 gols feitos e 29 sofridos deu um saldo de gols de sete. O aproveitamento ficou em 48,96%.

Dentro do Mineirão ou do Independência, o time não soube se impor, foram 24 partidas, 10 vitórias, sete empates e sete derrotas, 51,38% de aproveitamento. Fora de casa, metade dos pontos ficaram para a Raposa, os mesmos 24 jogos com nove vitórias, nove empates e seis derrotas. Sim, o Cruzeiro perdeu mais em casa no ano do que como visitante.

Os artilheiros foram “magros” de gols. Rafael Sobis, Maurício e Manoel são os principais com cinco gols casa. Com quatro gols, Aírton e Arthur Caike. Com três tentos, Marcelo Moreno e Thiago, os dois centroavantes da equipe. Com dois gols, Filipe Machado, Rául Cáceres, Welinton, Cacá, Edilson e Ramon.

Foto de capa: Gustavo Aleixo/Cruzeiro