CINCO ANOS DO TRICAMPEONATO BRASILEIRO

Parece que foi ontem, mas já faz mais de 1800 dias do tricampeonato. O jejum de 10 anos se encerrou justamente no Campeonato Brasileiro, o maior título nacional. A campanha com vários heróis desconhecidos ficaria para história pelos números e a beleza do jogo. Ricardo Goulart, Everton Ribeiro, Nilton, Lucas Silva, todos anônimos ajudaram o técnico contestado, Marcelo Oliveira, a ser campeão.

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Elenco de 2013 (Foto: Cruzeiro)

A linda história do tricampeonato brasileiro em 2013, que teve vários jogos e jogadores improváveis, começa a ser contada nos próximos parágrafos.

TRICAMPEONATO BRASILEIRO (1966-2003-2013)

Tudo começou no Estádio Independência, com uma goleada de “mão cheia” diante do Goiás. Em um jogo brilhante, o time de Marcelo já assumia a ponta na primeira rodada com o 5 a 0. No entanto, uma vitória nos próximos cinco jogos deixou um pouco de desconfiança para o time celeste. Diante do Atlético-PR, Botafogo, Corinthians, Internacional e Portuguesa, o Cruzeiro venceu só o time da capital paulista pelo placar mínimo.

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O ataque rápido e rasteiro começou com uma goleada diante dos goianos por 5 a 0 (Foto: Globo Esporte)

O Cruzeiro que havia se afastado da ponta da tabela, nas rodadas seguintes retomou a liderança. Com uma goleada e dois 3 a 0, o time chegava aos 18 pontos. Primeiro, venceu o Náutico por 3 a 0. Na rodada seguinte, um incrível 3 a 0 dentro do Morumbi com “triplete” de Luan contra o São Paulo. Encerrando a sequência de vitórias, 4 a 1 no rival Atlético-MG, gols de Ricardo Goulart, Everton Ribeiro e Nilton. Esses jogadores seriam personagens importantes ao longo de toda a campanha.

BUSCA PELA LIDERANÇA

Depois de nove pontos em três jogos, uma derrota no Rio de Janeiro. Ali, algumas deficiências do time eram mostradas, como a falta de precisão nos chutes. Assim, o 1 a 0 com gol de Fred para o Fluminense serviu de aprendizado. Fábio nesse jogo defendeu um pênalti e também começou a se destacar no time.

Após derrota, o Cruzeiro venceu as partidas seguintes pela diferença mínima. 1 a 0 suado contra o Coritiba e 2 a 1, em Criciúma, sobre os donos da casa. O jogo em Santa Catarina foi decidido com uma letra “a la Alex em 2003” de Ricardo Goulart.

O primeiro tropeço em casa veio contra o Santos. Em um jogo com muitos gols perdidos, o Cruzeiro perdia seu 100% de aproveitamento no Mineirão em 2013. No jogo seguinte, uma dura derrota na Arena do Grêmio por 3 a 1. O time que conseguiu envolver a equipe gaúcha em alguns momentos acabou sucumbindo na etapa final.

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Nilton até marcou, mas o time caiu diante do Grêmio (Foto: Grêmio 1983)
ARRANCADA DA CONSOLIDAÇÃO

A derrota em Porto Alegre fez com que o Cruzeiro trabalhasse mais e isso rendeu frutos. O time enfileirou oito vitórias nas oito rodadas seguintes. Com esses 24 pontos, o time chegou a liderança e de lá não saiu mais. O primeiro jogo foi a goleada por 5 a 1 contra o Vitória. Depois, um 2 a 0 em Campinas sobre a Ponte Preta. Voltando a Belo Horizonte, um emocionante 5 a 3 sobre o Vasco.

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Lucas Silva até então desconhecido, marcou seus primeiros gols contra o Vasco e ganhou notoriedade (Foto: Sportskeeda)

Seguindo a sequência invicta, vitória na Fonte Nova contra o Bahia por 3 a 1 com um golaço do Everton Ribeiro. Na 19ª rodada, no Mineirão, o Cruzeiro confirmava a conquista do título simbólico de campeão do primeiro turno. A vitória suada por 1 a 0 contra o Flamengo com gol de Ricardo Goulart deixou o time com 40 pontos conquistados.

O time desacreditado no inicio da temporada cresceu. A derrota no Campeonato Mineiro não abalou o time que entrava cada vez mais nas graças de torcedores e jornalistas. Seguindo a sequência de vitórias, Cruzeiro venceu o Goiás no primeiro jogo do returno, Atlético-PR e o Botafogo. Esse último, pela importância, falaremos mais tarde. A equipe celeste encerrava sua série invicta com oito vitórias, 22 gols marcados e 6 sofridos.

VITÓRIAS E DERROTAS ANTES DO TÍTULO

O fim na série de oito vitórias se deu em São Paulo. No Pacaembu, o Cruzeiro teve inúmeras chances de marcar o gol dos três pontos, mas parava na grande partida de Cássio. O empate diante do Corinthians não foi um resultado inesperado, mas brecou o time.

No jogo seguinte, outro adversário paulista, a Portuguesa. Diferente da partida anterior, o Cruzeiro mostrou todo o seu repertório e em menos de 30 minutos, fez 4 a 0 na Lusa. Contra o lanterna, Náutico, outra goleada: 4 a 1 em plena Arena Pernambuco. Faltava agora o terço final do campeonato para levantar a taça.

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Everton Ribeiro, Borges e Willian marcaram os gols da goleada sobre a Lusa (Foto: Guerreiro Dos Gramados)

A primeira derrota no Mineirão veio para um algoz antigo em pontos corridos, São Paulo. O tricolor com Muricy Ramalho neutralizou quase totalmente o Cruzeiro e foi cirúrgico em matar a Raposa. O 2 a 0 pesou sobre o time cruzeirense que tinha um clássico contra o Atlético na rodada seguinte.

No clássico, mais uma derrota, a segunda seguida. Isso ainda não tinha acontecido na competição até o momento e Marcelo Oliveira passava por uma fase de desconfiança, “será que o time vai perder o campeonato?”

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Fernandinho marcou o gol atleticano no clássico (Foto: O Tempo)

O respiro aliviado foi contra o Fluminense. Em um jogo duro, sofrido dentro do Mineirão, Borges fez o gol salvador na etapa inicial. Fábio operou várias defesas, no fim, 1 a 0 e três pontos. Contra o Coritiba, mais uma derrota, a terceira em quatro jogos. Keirrinson, com a lei do ex, sacramentou o triunfo paranaense.

“TREM NOS TRILHOS”

Apesar das derrotas, o time precisava somente de si para ser campeão. A goleada diante do Criciúma, por 5 a 3, colocou o “trem nos trilhos”. O jogo foi sofrido, o time de Santa Catarina chegou a virar após 2 a 0 celeste. Antes do intervalo, a torcida chegou a vaiar o time. No entanto, a virada foi desenhada na etapa final. Borges, herói do jogo, marcou dois e chorou comemorando a remontada.

A vitória seguinte foi escrita com um gol “poesia” de Everton Ribeiro. Em plena Vila Belmiro, o time de Marcelo Oliveira soube controlar o jogo, Fábio salvou e Everton Ribeiro foi o personagem de um golaço. Ele recebeu na ponta direita, driblou toda a defesa santista e fuzilou para fazer o gol da vitória.

https://www.youtube.com/watch?v=kCRgslsdjzU

 

OS JOGOS DO TÍTULO

Um título do tamanho do Brasileirão não pode ser definido em apenas uma rodada, são vários confrontos decisivos ao longo da campanha. Dois jogos tiveram essa característica, os dois dentro do Mineirão: Botafogo e Grêmio. Na 22ª rodada, o Cruzeiro brigava contra o Botafogo pela liderança. Ali, muitos torcedores começavam a confiar totalmente no time e crescia a esperança do tricampeonato. Nilton, desafiando a física, marcou um golaço em escanteio de voleio. No segundo tempo, sorte de campeão ao Cruzeiro. Seedorf perdeu um pênalti enquanto estava somente 1 a 0. Seguindo o jogo, Everton sofreu pênalti e Júlio Baptista aumentou a vantagem. Para sacramentar, mais um do camisa 10 e alegria aos mais de 46 mil presentes naquela noite.

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No inicio do segundo turno, o Cruzeiro despontava como campeão

O segundo jogo do título na campanha foi contra o Grêmio. Oficialmente, o campeão não estava definido, mas a torcida e os jogadores não contiveram a emoção diante do maior público do novo Mineirão até 2013 e dos 3 a 0 sobre o tricolor. A final no dia 10 de novembro de 2013 deu liberdade ao grito de “É CAMPEÃO” da garganta cruzeirense. Depois de dois vices, em 2009 da Libertadores e 2010 do Brasileiro, o time voltou ao topo.

CRUZEIRO 3-0 GRÊMIO

58 mil presentes, torcida motivada, jogadores concentrados: cenário ideal para uma final. E sim, foi uma final, mesmo em pontos corridos que não há um jogo decisivo. O 3 a 0 coroou a brilhante campanha e levou ao triunfo um time com heróis improváveis. Marcelo Oliveira, Nilton, Everton Ribeiro, Ricardo Goulart, Egídio, Bruno Rodrigo e tantos outros nunca tinham conquistado um título dessa grandeza. Além disso, Fábio levantou sua primeira taça como capitão e se perpetuava na história celeste.

O JOGO

Empurrado pela torcida, o Cruzeiro pressionava o tricolor gaúcho. O gol demorou um pouco a sair, mas saiu em mais uma pintura. Everton Ribeiro lançou para Dagoberto. Ele disputou a bola e ela subiu. Borges, que acompanhou a jogada, virou um voleio, ou meia-bicicleta… Mandou no canto esquerdo de Dida para explosão da nação azul. A acrobacia de Borges abriu o placar deixava o tricampeonato mais perto.

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Momento da finalização (Foto: Grêmio 1983)

Outro personagem naquele domingo foi o goleiro Fábio. Ele que salvou resultados e ajudou nas vitórias durante toda a campanha, fez uma partida impecável diante do Grêmio. Não passou nada, a única que passou foi na trave. Barcos, Kléber até tentaram, mas nenhuma entrou. Quem não faz leva e o tricolor tomou mais dois gols.

Primeiro, Willian mandou no contrapé de Dida após lançamento de lateral do Ceará. O camisa 41 tinha acabado de entrar e aumentou a vantagem. O gol do título não poderia vir em melhor hora. O 3 a 0 sacramentava o tricampeonato e nada melhor que um jogador importante durante toda a campanha para marcar. Ricardo Goulart recebeu passe de Willian e marcou o gol do título. Aquele gol ecoou por todo o Brasil, todos sabiam que o campeão estava ali, vencendo seu último rival.

CONFIRMAÇÃO E JOGO DA TAÇA

O título já estava sendo comemorado em Belo Horizonte, mas ainda faltava um ponto para confirmar matematicamente e ele veio no jogo seguinte. Diante do Vitória, em Salvador, mais uma vitória, a última na temporada 2013. Willian abriu o placar no primeiro tempo, mas no intervalo o título já era cruzeirense, o Atlético-PR tropeçou e a festa continuava ali. Na etapa final, Júlio Baptista e Goulart ainda marcaram para confirmar a vitória.

Jogadores do Cruzeiro comemoram um dos gols da equipe na partida contra o Vitória Foto: STRINGER/BRAZIL / REUTERS
Jogadores comemorando um dos gols em Salvador (Foto: O Globo)

O time de Marcelo Oliveira, depois de ser campeão, não venceu mais e nem precisava. Empatou com a Ponte Preta, perdeu para o Vasco e Bahia e fechou empatando no Maracanã com o Flamengo. A entrega da taça foi contra o tricolor baiano. A derrota não apagou o brilho do símbolo máximo do campeão.

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A cena que se repetiria em 2014 tirou o Cruzeiro de um longo jejum de títulos grandes

76 pontos, 23 vitórias, 7 empates e 8 derrotas. 77 gols marcados e 37 sofridos. Melhor mandante, visitante e ataque. O time com Fábio, Ceará, Mayke, Dedé, Léo, Bruno Rodrigo, Egídio, Henrique, Nilton, Lucas Silva, Tinga, Everton Ribeiro, Ricardo Goulart, Júlio Baptista, Borges, Willian, Dagoberto, Souza, Rafael e tantos outros que fizeram parte da campanha. Em especial, o técnico Marcelo Oliveira.

CRUZEIRO TRICAMPEÃO BRASILEIRO

Todos caíram diante do ataque rápido e rasteiro. Os 19 times, sem exceção, até hoje, o único time a conseguir tal feito foi aquele Cruzeiro de 2013. Melhor mandante, melhor visitante, melhor ataque, melhor tudo. Nos gramados de Minas Gerais, escrevemos mais uma página heroica imortal. Não se pode medir a alegria da conquista de um título. O êxtase de sair gritando e pulando sem pensar no amanhã, comemorar a conquista de hoje.

Os anos passam e depois da euforia vem a memória dos bons momentos. Nenhum torcedor lembrará das derrotas em uma conquista, e sim das vitórias, goleadas e gols decisivos. O Cruzeiro chegou cheio de esperanças ao Brasileirão e saiu com a taça. Ao som de “Nos somos loucos, somos Cruzeiro”, o time foi vencendo cada um dos adversários, derrubou todos, campeão incontestável. De “seremos campeões e não se esqueça” para “Nós somos Cruzeiro, tricampeão brasileiro, nada mais interessa, nós fazemos a festa…”

Para muitos torcedores, a campanha foi além do título. Alguns tiveram a alegria de comemorar sua primeira conquista e festejar demais. Outros, a tristeza de perder algum ente querido e o Cruzeiro homenageou e trouxe um pouco de alegria ao coração. O time não se acovardou em nenhum instante, “Gigante pela própria natureza” a “Imagem do Cruzeiro resplandece”.

Obrigado e cada um que fez parte do título: jogadores, comissão técnica, torcedores e todos que estão por trás disso tudo. O Mineirão voltou com seu brilho total e a estrela celeste brilhou. Viva o aniversário de 5 anos dessa conquista.