Mano a mano com o Diário Olé, o volante do Atlético Mineiro repassou sua infância dura, seu grande momento no Brasil e seu 2021
“Peço aos meninos que precisam que nunca desistam. Que se sacrifiquem, valorizem o que têm e aproveitem o momento. Que não joguem a toalha, que sigam em frente e realizem seus sonhos. Eu venho de uma família humilde. Às vezes não tinha nada para comer. A gente se virava com uma xícara de chá e uma fatia de pão. Eu me lembro e agradeço muito o sacrifício que fiz para poder estar aqui e aproveitar o que o futebol dá Eu”.
Foi assim que Matías Zaracho começou a sua entrevista ao Olé, um dos maiores veículos esportivos da Argentina. O que o jogador diz é baseado em sua experiência, o que ele viveu, o que ele sofreu e o que ele gostou. Havia uma lacuna de esforço, perseverança e ambição entre aquele estômago passado que gemia de fome e este sucesso atual em sua atividade.
Aos 23 anos, o volante vem de férias no Caribe e aluga uma casa no campo, luxos há alguns anos que só via na TV. Hoje, com conforto, falou ao Olé antes de se juntar ao Atlético Mineiro no Brasil, time onde está deixando sua marca. No Galo, Zaracho conquistou três títulos em um ano, rendeu vários elogios e construiu uma felicidade que não entra em seu corpo.
Confira agora a entrevista do jovem volante ao Olé.
-Como você define qual foi o seu 2021?
“Foi um ano incrível. Eu experimentei muitas coisas bonitas. Conquistamos três títulos (incluindo o Campeonato Mineiro e a Copa do Brasil). Ficamos com o Brasileiro, que não era do Galo há mais de 50 anos. Pessoalmente, foi um 2021 incrível e como grupo, algo lindo. Formamos uma linda família, construímos muitas coisas boas. É lindo poder compartilhar isso com minha família, com as pessoas que me seguem. Agradeço por sempre me apoiar, estar ao meu lado e me acompanhar nesse sonho que estou vivendo. E isso nos levou a conquistar os três títulos. Estávamos um pouco aquém da final da Libertadores (perderam na semi com o Palmeiras), teríamos entrado para a história se tivéssemos conquistado os quatro títulos.”
-Como foi sua adaptação ao time?
“Foi um pouco difícil no começo. A mudança de jogo, país, idioma… Mas aos poucos fui me adaptando. O carinho das pessoas, o apoio da minha família e da família da minha esposa me ajudaram muito no meu humor. Jogo a jogo percebi uma evolução e deixei ir. Hoje me sinto muito confortável.”
-No futebol, o que foi mais difícil para você no começo?
“Com Sampaoli não me senti confortável por causa do estilo de jogo dele. No Racing eu me movi para onde a bola estava. Eu estava procurando por ela. Fui, voltei, ocupei espaços… E o Sampaoli queria que eu fosse mais posicional. Ele não recebeu muito a bola. Isso me incomodou, fui ruim nos jogos, isso me derrubou e baixou o nível. Não era o que eu esperava. Quando ele viu outro técnico (Cuca) eu comecei a pegar o jeito. E tive mais liberdade para ir procurar os espaços da bola, lançar diagonais…”
-Como você leva a chegada de Turco Mohamed para sua equipe?
“Ele é um treinador que me agrada. Porque sei que é um treinador que se identifica com o jogo ofensivo e gosta que os médios cheguem ao golo. Ele é um bom treinador, vamos torcer para que ele se saia bem.”
-No Racing você se machucou muito quando apareceu de surpresa, sem a bola.
“Faz parte do meu jogo: estou sempre na área, à espera do golo. No Racing, desperdicei muitas oportunidades, mas nunca parei de procurar. Eu sempre chego à caixa, estou sempre lá. Eu defendo e ataco. Eles são um dos meus pontos fortes no futebol.”
-Na Academia você errou gols, mas no Mineiro você marcou 14, e alguns golaços. O que você melhorou?
“Poderia ter um pouco mais de sorte, conseguir furar o arco. Foi-me dado fazer os golos aqui. Mas eu sabia que em algum momento eu ia começar a marcar gols. Que ele iria quebrar a sequência de gols perdidos. Graças a Deus, hoje estou bem com os gols.”
-Deixe o River dizer: você marcou um golaço de voleio no jogo de volta das quartas de final da última Libertadores…
“Sempre assisto o chileno ao River e continuo gostando do mesmo (foi o 1 a 0 da final de 3 a 0 em Belo Horizonte). Até hoje continuam me marcando no vídeo desse gol. Se eu tentar de novo, não sei se funciona. Eu realmente gosto de fazer isso. Eu costumo chutar, mas nunca tinha marcado um gol assim.”
-O que você lembra dessa partida?
“Sabíamos que o River era um rival muito difícil. Quando jogamos no Brasil, vencemos por 1 a 0, mas foi muito difícil. Se eles marcassem o primeiro gol em seu campo, as coisas se abririam para eles… Mas meu primeiro gol ajudou. Jogamos muito bem e vencemos por 3 a 0. Lembro que o Gallardo me parabenizou pelo jogo e pela campanha que estávamos fazendo.”
-O Boca foi eliminado fora de casa nas oitavas de final, nos pênaltis, com o escândalo dos gols anulados a pedido do VAR…
“Isso não dependia de nós. Os árbitros do VAR tomaram sua decisão e o que nos resta é jogar. Foi um jogo difícil com o Boca. Estava muito ocupado. Gostaríamos de poder vencê-lo sem a intervenção do VAR. Mas as coisas aconteceram assim, não temos nada a ver com isso.”
-Qual o valor que te dão no Brasil?
“Estou muito grato. Eles me fazem sentir que estou fazendo as coisas bem, e me deram amor desde o momento em que cheguei. Hoje, mais pelas coisas que estou vivenciando, valorizo muito, me ajuda no ânimo. Acho que sou um bom jogador, mas não mais do que qualquer outro. Eu sempre tento o meu melhor para melhorar. Acho que neste 2022 vou dar ainda mais de mim porque quero ser sempre o melhor.”
-Quais questões você gostaria de ajustar para 2022?
“2021 foi muito bom pessoalmente. Mas se no ano passado fiz 14 gols, agora ele quer chegar no mínimo a 20. Meu objetivo é sempre ser melhor.”
-Você já jogou um amistoso na Seleção, contra o Marrocos. Sente que vai voltar a curto prazo?
“Meu sonho, como o de todo menino, é estar na Seleção para representar o nosso país. Estou sempre animado, pendente. Eu sempre me sacrifico pensando nisso.”
– Já imaginou jogar a Copa do Mundo no Catar?
“Quero estar na Copa do Mundo e farei o possível para estar lá. Se não neste, será no outro. Estou focado nisso.”
Matías estava animado com a convocação para a nova data dupla das Eliminatórias que se aproximam, mas ficou de fora da lista de Scaloni. No entanto, há muita confiança no futuro. E garante:
”Dei muito crédito à equipe onde estou. Fiz muitos gols que ajudaram a equipe. Tive muitos jogos bons. Acho que fiz méritos por estar na Seleção Nacional, que tem jogado muito bem. E isso me agrada. Mas isso depende do treinador.”
-Embora tenha jogado contra o Marrocos, você não conseguiu dividir o campo com Messi. Sua vaga está pendente?
“Sim, seria incrível poder jogar com ele. Eu pude compartilhar o treinamento, sim. Às vezes eu ficava de fora porque havia várias equipes. Vi Messi e pensei: “Como ele faz as coisas com facilidade”. Se ao menos todos nós pudéssemos fazer o que ele faz.”
-Como você viu o desempenho de Leo na Seleção que conquistou a Copa América?
“Eu vi muito bem. Além das críticas que havia recebido antes, ele é o melhor do mundo. Eu o admiro muito. E a Seleção Nacional tem um projeto muito bom, com vários jovens envolvidos. É incrível o que eles estão fazendo. O time fez uma Copa América muito boa. Eu vi todas as partidas.”
-Sobre De Paul e Lautaro Martínez, dois ex-Racing como você, o que eles te dizem?
“Falei com o Lautaro e o Rodri o cruzou há pouco, em Buenos Aires. A pessoa com quem mais converso é Lisandro Martínez (Ajax da Holanda), que me diz: “Em breve estarás na Seleção Nacional”. Temos uma boa amizade, ele é um grande jogador e uma grande pessoa. Conhecemo-nos por ter partilhado a juventude da Seleção Nacional.
-Você vê a Argentina campeã mundial?
“Vamos passo a passo… Acabamos de ganhar a Copa América e isso é bom. Estamos no caminho certo. Se fizermos as coisas direito, eles cuidarão de si mesmos.”
-Que imagem o Racing te deixou em 2021?
“Me doeu que não tenha corrido bem para ele por causa do carinho e amor que tenho pelo clube. Mas o Racing é ótimo e vai chegar na frente. O clube vai fazer as coisas melhores do que no ano passado.”
-Por causa desse amor que você diz, você doou 15% da sua transferência ao Mineiro para o clube…
“Sim, e para que continue a crescer como tem feito desde que cheguei ao clube. E já que ele tinha 50% do meu passe sobrando, talvez eu possa dar a ele mais uma porcentagem, heh.”
-Quando você olha para trás e volta aos tempos antes de ser jogador profissional, o que você encontra?
“Eu valorizo muito mais este presente pelas coisas que passei. Quatro anos atrás eu não poderia ter feito isso. E tenho boas amizades de muitos anos, como com Nico Muscio e Matías Escudero (dois ex-Racing). Isso me deixa feliz, saber que pessoas boas me cercam. Assim como a avó Marta (avó do Muscio), que sempre me liga ou me manda mensagens, sempre pendentes. Ela me deu um prato de comida quando eu estava desaparecida. Ele fez muitas coisas por mim. Eu sempre tenho ela presente.”