O jogador foi definido como “descendente de escravos” no jornal espanhol Diario As, e rebateu o comentário nas redes sociais
A temporada de 2023/24 segue a todo vapor no continente europeu, com as rodadas finais da UEFA Champions League sendo disputada nesta e na próxima semana. Com duelos de peso para definir os classificados, os olhos do mundo todo voltam para a competição.
E nos últimos dias, nas vésperas do duelo entre Atlético de Madrid e Feyenoord, o jornal espanhol Diario As, fez comentários a respeito do time holandês, em especial ao atacante destaque da temporada, o brasileiro Igor Paixão, que poderia ser o maior perigo ao time de Madrid.
No jornal, o jogador foi definido como “Atacante descendente de família de escravos”. Igor é de origem quilombola e se tornou alvo de ofensas raciais devido ao duelo contra os espanhóis. Com isso, nesta quarta (29), o jogador se pronunciou nas redes sociais sobre o comentário do jornal As.
“Eles sempre se disfarçam. Por meios de palavras elegantes, de dinheiro, de formas de se portar e até mesmo dos cargos que ocupam. Eles são sutis. Nem sempre deixam a mostra todo o preconceito que carregam por gerações e gerações. Eles são espertos. Porque na maioria das vezes se safam ao cometerem um dos mais hediondos crimes da história: o racismo. Mas nem sempre eles disfarçam, nem sempre são sutis e nem sempre são espertos. Às vezes são explícitos e descarados, resultado de anos e anos de impunidade. E esperam o momento certo para destilar o preconceito que carregam dentro de si. Nesta semana, foi a vez do Jornal AS, do país onde joga meu companheiro de profissão, de vida e de cor, Vinicius Junior, que sofre diariamente com o ódio de quem simplesmente não aprendeu a superar um mal que jamais deveria ter existido, mas que há tanto tempo é criminoso. Ao falar de minha trajetória, logo no título, o racismo “não-tão-velado”: o descendente de escravos. Fosse por minha realidade humilde, a mesma de muitos dos meus companheiros. Fosse por minha cor, a mesma de grande parte do mundo. Fosse por minha forma de ser ou a “ameaça” que trago a eles. Fosse pelo que fosse, só há uma palavra para descrever isso: racismo. Se somos descendentes de escravos, o somos porque fomos escravizados. Nos roubaram de nossas casas, de nossas famílias, de nosso livre arbítrio e de nossas vidas. Mas hoje não somos mais. Somos livres para pensar, falar e ser o que queremos, e isso ninguém irá roubar de nós. Sutis, como são, dirão que “entendi errado o contexto”, e irão disfarçar “tirando o texto do ar”, e de forma esperta continuarão fazendo, com outros, e me tornarão um alvo. Mas tudo bem. Porque juntos somos mais fortes. Sempre seremos mais fortes. E nunca, nunca mais, caminharemos sozinhos.”
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