Estádio Nacional do Chile: a histórica cancha de Santiago

O Estádio Nacional Julio Martínez Prádanos já foi palco de muitos eventos ao longo de sua gigante história. Já foi prisão na ditadura de Pinochet, já sediou jogos desempates de Libertadores no século passado e ainda viu seu “dono” levantar o primeiro título na Copa América de 2015. Ele nunca viu um chileno levantar a tão sonhada Libertadores.

Uma cancha que já teve final de Copa do Mundo, vencida pelo Brasil em 1962, e que até hoje carrega as tristes marcas do período em que as democracias foram mortas pelos militares com o objetivo de acabar com a “ameaça comunista”. Conheça agora, um pouco da história do Estádio Nacional.

Na entrada 8, há a mensagem “un pueblo sin memoria es un pueblo sin futuro” (um povo sem memória é um povo sem futuro), para relembrar os erros do passado (Foto: Estádio Nacional)

A fundação do gigante

A história de El Coloso de Ñuñoa começa por volta de 80 anos atrás. O presidente chileno na ocasião era o Arturo Alessandri Palma e seu projeto foi comandado por Álvaro Costa, Francisco Romero e Max Decombe. A inspiração de sua arquitetura vem do Estádio Olímpico de Berlim, construído pelo regime nazista para as Olimpíadas de 1938.

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(Foto: Monny Viajando)

Seu primeiro grande evento foi a Copa do Mundo em 1962. Algumas Copas Américas tiveram sede lá durante a Segunda Guerra Mundial, mas, a grande cancha apareceu para o mundo com o bicampeonato brasileiro. Com quase 70 mil presentes, Amarildo, Zito e Vavá fizeram a alegria sul-americana na final diante da Tchecoslováquia. Só que antes disso, a seleção de Garrincha bateu o Chile na melhor campanha da história de La Roja em Copas.

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A partida foi válida pela semifinal daquela Copa (Foto: FIFA)

O tempo passou para o Estádio Nacional e na década de 1960, enquanto a ameaça comunista fazia os Estados Unidos articularem golpes militares na América Latina, Santiago recebia suas primeiras finais de Libertadores.

A primeira foi em 1965, em que o Independiente venceu o Peñarol e conquistou seu segundo título. Nos anos seguintes, o mesmo uruguaio Peñarol venceu uma Copa e fechando a sequência, o Racing levantou sua primeira e única Libertadores.

A ditadura chilena

O ano era 1973, o mês setembro. O Brasil estava preso às correntes impostas pelos militares, em especial a do Ato Institucional-5 (AI-5). E mais ao Sul, a Argentina também estava presa. O Chile demorou mais tempo, mas teve seu momento de morte à democracia.

Em 11 de setembro de 1973, Augusto Pinochet liderou a tomada do Palácio de La Moneda e tirou o presidente eleito Salvador Allende. Era o início de 17 longos anos até o retorno da democracia em 1990.

Porém, onde o Estádio Nacional entra nesta história? No começo da ditadura, ainda não havia uma prisão feita para os presos pelo regime em Santiago. Sendo assim, a grande cancha cumpriu esse papel por três meses aproximadamente.

Assim, o lugar de tanta alegria e tristeza para torcedores de todo o mundo acabou se tornando um lugar de desgraça e que representou para várias vidas o seu fim. Os prisioneiros ficavam normalmente nos vestiários e nas arquibancadas. Os estrangeiros tinham oportunidade de ter um advogado, mas os chilenos, em sua maioria, ficava sob poder da ditadura.

Mulheres na arquibancada do Estádio Nacional vigiadas por soldados (Foto: Memoria Viva)

La Escotilla 8

A famosa salida 8 do Estádio Nacional jamais será apagada e está ali para lembrar de algo que nunca devemos esquecer. Era por ali que os presos entravam. E foi ali que muitos tiveram o último contato com quem eles amavam. Dói e muito saber que vários entraram num lugar de festa, de torcida e de emoção para morrer.

Até hoje, depois de algumas reformas, a Salida 8 está viva. Ainda há os mesmos bancos de madeira, a mesma placa e uma frase: “un pueblo sin memoria es un pueblo sin futuro”. Algo que marca e que emociona do mesmo modo. Fechar os olhos, entrar neste lugar e pensar que ali foram os últimos passos de pessoas inocentes mortas por um regime cruel é doloroso.