31 de julho de 2002: o dia em que o São Caetano quase conquistou a América

Um simpático time do ABC Paulista, no início deste século, encantou todos os brasileiros apaixonados por futebol. Aproveitando-se do confuso regulamento do Campeonato Brasileiro 2000 — Copa João Havelange, o São Caetano, até então desconhecido nos grandes centros futebolísticos do país, chegou à final da disputa naquele ano de forma surpreendente, eliminando Fluminense, Palmeiras e Grêmio do torneio. Na polêmica decisão, o Azulão foi derrotado pelo Vasco e ficou com a segunda colocação.

Em 2001, pela Taça Libertadores da América, a equipe paulista voltou a apresentar um ótimo futebol. Garantiu a classificação para as oitavas de final como 2º colocado do Grupo 7, numa campanha com duas vitórias, dois empates e duas derrotas, mas ficou pelo caminho nesta fase, sendo eliminado pelo Palmeiras. No primeiro confronto, que aconteceu no estádio Anacleto Campanella, o Azulão venceu por 1 a 0, com gol marcado por Marlon. Uma semana depois, no Palestra Itália, o Verdão devolveu o placar através de Muñoz e, nos pênaltis, bateu a equipe do ABC Paulista por 5 a 3.

Já no Campeonato Brasileiro, o São Caetano terminou a primeira fase com a melhor campanha entre os oito clubes que se classificaram para as quartas de final. Assim, a equipe paulista obteve a vantagem de disputar os jogos decisivos no estádio Anacleto Campanella. Foram 59 pontos conquistados num desempenho com 18 vitórias, 5 empates e apenas 4 derrotas. Antes de chegar à decisão, o Azulão eliminou Bahia e Atlético-MG. Na final, foi derrotado nas duas partidas pelo Atlético-PR, ficando, pelo segundo ano consecutivo, com o vice-campeonato.

Missão continental

O São Caetano veio para a temporada 2002 mantendo Jair Picerni como técnico, permanecendo com a mesma filosofia dos anos anteriores e com uma equipe forte. No torneio Rio-SP, foi eliminado pelo Corinthians na fase de semifinal. Sem disputar o Campeonato Paulista daquele ano, que contou apenas com a participação das equipes com menos expressão nacional devido ao campeonato citado anteriormente, restou, então, a Taça Libertadores da América como a principal competição daquele ano para o Azulão.

Equipe do São Caetano em 2002 (Foto: arquivo)

Integrando o Grupo 1 da competição junto com Alianza Lima, Cerro Porteño e Cobreloa, o Azulão terminou a primeira fase com a melhor campanha da chave. Com 12 pontos, a equipe paulista obteve 4 vitórias e duas derrotas. Os destaques ficaram por conta dos triunfos contra a equipe chilena, no Anacleto Campanella, e diante do time peruano, fora de casa, ambos por 3 a 0.

Oitavas de final: o primeiro passo

Começando a fase de mata-mata, o São Caetano teria pela frente a Universidad Católica-CHI. O primeiro confronto aconteceu no estádio San Carlos de Apoquindo, na cidade de Las Condes. Os gols saíram na etapa inicial. Logo aos 9 minutos, equipe brasileira abriu o placar com Anaílson, que aproveitou o rebote do goleiro Walker após o chute de Adãozinho e empurrou para as redes. O empate dos donos da casa veio aos 28. Luís Campos dividiu com Sílvio Luiz e, na sobra, concluiu para o gol.

No Anacleto Campanella, a partida começou bastante equilibrada. Aos poucos, o Azulão tomou conta do jogo e passou a pressionar o time chileno. O fruto do domínio apareceu rápido. Após cruzamento de Marcos Senna, Brandão desviou e Aílton cabeceou para as redes, mas o assistente assinalou impedimento na jogada e impediu a abertura do placar.

Antes do apito final da primeira etapa, a rede balançou. Serginho recebeu na intermediária ofensiva e efetuou um belo lançamento buscando Aílton, que recebeu totalmente livre de marcação na grande área chilena. O camisa 8 tocou de primeira em direção à marca de pênalti, e Brandão finalizou para as redes, sem chances de defesa para o Walker.

Quando o segundo tempo começou, a Universidad Católica se mostrou disposta a buscar o empate, e conseguiu alcançar o objetivo de forma rápida. Aos 6 minutos, Acuña cruzou para a área, Norambuena subiu mais que Marcos Senna, cabeceou firme e a bola ainda tocou na trave antes de balançar a rede de Sílvio Luiz: 1 a 1. O resultado levou a decisão da vaga para os pênaltis. Na disputa, o camisa 1 do Azulão defendeu a cobrança de Ormazábal, e Serginho converteu a última para a equipe brasileira, garantindo a vaga na fase seguinte.

Quartas de final: Davi x Golias

Para chegar à semifinal, o São Caetano tinha um gigante a superar. Pela frente, uma equipe pentacampeã da Taça Libertadores da América, uma das mais tradicionais do continente: Peñarol. O primeiro confronto foi no estádio Centenário, em Montevidéu. A equipe brasileira foi derrotada por 1 a 0. O gol do jogo foi marcado pelo zagueiro Robert Lima, aos 25 minutos da etapa inicial.

Em solo brasileiro, o confronto iniciou com um grande susto. Logo no primeiro minuto da partida, Daniel Jiménez demonstrou oportunismo ao aproveitar a falha de Sílvio Luiz num cruzamento e, de cabeça, balançou as redes, abrindo o placar para o Peñarol e jogando um enorme balde de água fria nas esperanças da torcida do São Caetano.

Após o gol do Peñarol, o Azulão passou a tomar conta das ações ofensivas e mostrar superioridade em campo. A pressão surtiu efeito aos 26 minutos. Adãozinho cobrou falta em direção à grande área, Daniel desviou e a bola sobrou para Jean Carlos, que só teve o trabalho de empurrar para o gol e deixar tudo igual no placar.

O panorama da partida não mudou no segundo tempo. O São Caetano seguia encurralando o Peñarol, mas pecava nas finalizações. Mesmo assim, o gol da virada não demorou a sair. Aos 9 minutos, Aílton fez uma linda jogada e tocou para Somália. O centroavante, que já havia perdido duas oportunidades, não desperdiçou e encobriu o goleiro Berbia, deixando o time brasileiro em vantagem e levando a decisão para a disputa de pênaltis, a segunda consecutiva. Marcos Senna, Robert e Marlon converteram e garatiram a vaga para o Azulão.

Semifinal: a dois passos do paraíso

Se o objetivo era chegar à decisão, o São Caetano teria mais um desafio a vencer. Desta vez, a equipe brasileira tinha pela frente o América-MEX, time de melhor campanha da Taça Libertadores. Assim, o primeiro embate entre as equipes aconteceu no estádio Anacleto Campanella. Diferentemente das fases anteriores, o Azulão iria decidir a vaga fora de casa.

Após a bola rolar, o São Caetano se impôs, demonstrou superioridade e definiu o placar na primeira etapa. Aos 25 minutos, Somália fez uma linda jogada individual pelo lado esquerdo, tabelou com Robert, invadiu a área e chutou forte, sem chances de defesa para Rios. Um belo gol para abrir a contagem.

Pouco antes do final do primeiro tempo, a rede voltou a balançar. Marcos Senna fez uma boa jogada e tocou para Somália. O centroavante do Azulão passou pelo zagueiro e foi derrubado na grande área pelo goleiro Rios. O árbitro marcou pênalti. Na cobrança, Adãozinho não desperdiçou, ampliou o placar e garantiu uma ótima vantagem para a equipe brasileira.

No segundo jogo, com o estádio Azteca completamente lotado, o São Caetano voltou a surpreender. Precisando de um resultado simples, o Azulão começou o jogo pressionando o América-MEX. Aos 8 minutos, Aílton recebeu e não perdoou. Num lindo ataque, o time brasileiro abriu o placar e silenciou a torcida mexicana.