A primeira sócia de um clube de futebol e a história do futebol feminino no Brasil
Internacional relembrou hoje em suas redes sociais a associação da primeira mulher da história no Brasil em um clube de futebol. No dia 2 de abril de 1918, Maria Von Ockel se associava ao Clube do Povo do Rio Grande do Sul. Honrando o seu legado de abraçar todos e todas, o Inter foi o primeiro clube a aceitar mulheres como sócias em uma época em que os direitos sociais e políticos das mulheres eram praticamente inexistentes.
Há 102 anos, o conselho do Clube recebia o pedido da associação da torcedora colorada. Apesar do pioneirismo, Maria precisou receber um salvo-conduto de seu cunhado para que sua associação fosse validada. Um ano depois desse marco, o Internacional decidiu construir uma estrutura para atender as demandas das “senhoras e senhoritas” que frequentavam a Chácara dos Eucaliptos para desfrutar de atividades físicas, como tênis.
Em entrevista para a Mídia do Internacional em 2017, a filha de Maria, Lu Serenita, contou sobre como a sua mãe apreciava a vivência diária no clube. “Ela sentia muito orgulho em poder participar deste Clube. A associação foi um evento muito bom e marcante na vida dela, tanto que sempre contava e recontava essa história para todos. E não imagino que ela pensasse, em algum momento, que essa atitude fosse repercutir, criando tantas oportunidades maravilhosas.” (O restante da entrevista pode ser conferida no canal do Inter no Youtube.)
Embora a conquista da Maria tenha proporcionado o começo da participação da mulher no futebol, a presença feminina efetiva só ocorreu décadas mais tarde. A primeira partida de futebol feminino foi realizada em 1921 quando enfrentaram-se os times das senhoritas dos bairros Tremembé e Cantareira, que se localizavam na zona norte de São Paulo. Contudo, a partida foi noticiada pelo jornal “A Gazeta” como um espetáculo cômico, uma atração curiosa durante as festas juninas. A dificuldade de enxergar com seriedade a participação da mulher no esporte é uma herança que a sociedade carrega desde essa época.
Os primeiros times femininos de futebol começaram a surgir a partir da década de 20, no entanto são poucos os documentos e arquivos existentes para contar a história. Com o passar dos anos, o esporte começou a se popularizar entre as mulheres, mesmo com a crítica da imprensa na época, que comparava as jogadoras a palhaços de circo. No subúrbio do Rio de Janeiro, no início da década de 40, dez times com jogadoras amadoras começaram a se organizar. Esse fato descontentou a sociedade conservadora da época que via o futebol como um esporte bruto que não deveria ser praticado por damas.
Getúlio Vargas, então ditador do Brasil, recebeu uma carta da parcela conservadora da sociedade que pedia o fim do futebol feminino. A partir disso, foi criado então o Decreto-Lei 3.199, de 1941, que proibia a “prática de esportes incompatíveis com a natureza feminina”. E, em 1964, o Conselho Nacional de Desportos reafirmou o decreto, neste momento, citando nominalmente o futebol. Essa decisão durou até 1979.