Arcahaie FC, a história haitiana que vai muito além do esporte
O clube apesar de muito jovem (4 anos) começou a ganhar notoriedade no cenário continental na última temporada ao vencer a liga nacional, além disso chegou na semifinal da Liga da CONCACAF eliminando o Verdes FC de Belize por W.O na fase preliminar, o Waterhouse da Jamaica nas oitavas e o maior feito da agremiação em sua história, superar o Forge, após empate de 1 a 1 e triunfo nas penalidades máximas por 4 a 2. Entre os quatro melhores perdeu para o Saprissa por 5 a 0. Vale lembrar que o contexto de sua criação foi de projeto social, como forma de oferecer oportunidades aos jovens, por esse motivo a média de idade do elenco é baixa.
Esse resultado colocou a equipe entre os 16 melhores da América do Norte e Central, duelando por uma vaga junto de clubes do México, Estados Unidos, Canadá, Costa Rica, Honduras (entre outros locais). Por falta de sorte, o destino reservou o embate contra o Cruz Azul, hexa campeão da competição, no primeiro jogo, empate em 0 a 0 na República Dominicana por falta de condições do estádio que comporta mil pessoas deixando os caribenhos com certa confiança para quem sabe conseguir um feito histórico, todavia ao atuar em terras mexicanas, o time foi derrotado por 8 a 0.
Apesar do clube mexicano ajudar financeiramente na estadia e doar algumas roupas para treinamento e a Confederação emprestar dinheiro para viajar, pois não possuíam condições financeiras (até ajuda de torcedores pediram). A dificuldade maior é a situação política do Haiti. O mandatário, Jovenel Moïse no ano passado dissolveu o parlamento através de um referendo, muito por causa das acusações de corrupção e fracasso do combate a criminalidade. O dono do Arcahaie, o rapper Izolan é um dos grandes opositores do governo, até por esse motivo foi preso por tráfico de drogas, mas solto por não ter evidências que comprovem seu envolvimento.
A situação começou a sair do controle em fevereiro desse ano com a saída de centenas de haitianos para rua como forma de protesto as prisões de pessoas contrárias ao golpe imposto na localidade. Mesmo com toda essa desorganização, Gooly Elien foi o principal destaque do empate na primeira partida, porém o próprio arqueiro não pode entrar em campo no jogo seguinte por problemas no passaporte. Outro desfalque foi o meia Wilmane Exume (27 anos) que foi visitar seu parente e nunca mais voltou ao clube, ele alegou os problemas no país como fator da chamada deserção.
Na sequência, Marcelín Camy (goleiro reserva de 20 anos) e Jhonny Pierre Paul (atacante de 21 anos) seguiram os passos do meio-campista e não voltaram ao país. O Arcahaie ganhou notoriedade, após o ocorrido, o treinador Michel Gabriel reclamou da falta de estrutura: “Para fazer crescer o futebol, temos que reestruturar todo o Haiti. Falta muito material para treinar, a papelada para viajar é enorme”. O capitão Clifford Thomas foi outro que comentou sobre a atual situação do esporte no país: “Precisamos que os dirigentes saibam que os jogadores precisam de um mínimo para jogar. Temos nossas vidas e precisamos de um pouco para continuar”.
Retornando aos protestos na localidade, a pressão interna resultou na quarta (14) a renúncia do primeiro-ministro, Joseph Jouthe que foi definido pelo presidente em sua rede social da seguinte maneira: “Ele permitirá enfrentar o gritante problema da insegurança e continuar as discussões com vistas a alcançar o consenso necessário para a estabilidade política e institucional de nosso país”. Essa história não pode desapercebida, pois se trata da evolução tanto técnica, como social de um país que precisa ter seus olhos voltados ao mundo, eles merecem muito mais do que possuem.