Diogo José Nobre Runa, de 16 anos, nasceu em Torres Vedras, Portugal, e atualmente mora em Beja. Começou a carreira no futebol em 2018 e hoje ocupa a posição de auxiliar-técnico (treinador adjunto) da equipe principal do União Serpense que disputa a 1ª divisão distrital da AF Beja
Além disso, faz parte da análise e observação de jogadores das categorias de base do FC Porto no distrito de Beja e trabalha desde janeiro na empresa Proscout. Ele também já desempenhou as seguintes funções em outros clubes, mesmo com somente 16 anos: assistente técnico (treinador adjunto) e, posteriormente, treinador do CCD Bairro da Conceição sub-9, scout do time principal do SU Sintrense, auxiliar do time principal do ACD Penedo Gordo, coordenador da formação e técnico principal das categorias sub-7 e sub-9 do mesmo time. Em entrevista ao Mercado do Futebol, Diogo falou sobre a sua carreira, futebol brasileiro e disse o que podem esperar agora e no futuro.
Mercado do Futebol: Como você conseguiu se tornar auxiliar técnico do União Serpense e analista do Porto com tão pouca idade? Como foi esse processo, desde o começo?
Diogo Runa: Na minha opinião, a chave deste desenrolar da minha carreira de treinador e Scout foi o trabalho, a dedicação e o empenho que demonstrei em todos os projetos que ingressei. As pessoas vão reparando no trabalho que vou desenvolvendo e penso que foi esse um dos motivos para receber estes convites. Fico muito feliz por saber que existem pessoas que tal como eu partilham da ideia que a idade é apenas um número e mesmo sabendo que tenho apenas 16 anos acreditam nas minhas competências.
Chegada no União Serpense e objetivos para o futuro
MF: De que forma você foi recebido pela diretoria do União e como a sua família leva a sua carreira no futebol? Houve algum estranhamento no início? E agora, você acha que a sua idade tem influência em algumas situações?
DR: A direção do União Serpense recebeu-me muito bem tanto pela pessoa do presidente, Alfredo Mestre, como da do diretor desportivo, Ricardo Reis, que sempre me deram as melhores condições para trabalhar, valorizam e depositam muita confiança em mim e no meu trabalho. Acredito que isso é um dos fatores para que os projetos tenham sucesso, porque quando te sentes bem e acarinhado num clube, as coisas acabam por fluir melhor. Em relação ao apoio da minha família, foi algo que nunca senti, desde há 3 anos para cá que não sei o que é ter uma família presente. Talvez por isso, seja a pessoa que sou hoje, que lute tanto pelo meu grande sonho e objetivo que é ser treinador de futebol profissional. Sempre senti muito apoio por parte de amigos e amigas, vários colegas treinadores, que me ajudaram a crescer muito tanto como pessoa como treinador, mas suporte familiar desde cedo que não tenho nenhum.
“Cada vez menos sinto que a minha idade é um entrave”
Quando iniciei a carreira de treinador com 14 anos, houve pessoas que estranharam, criticaram e até gozaram por iniciar a carreira tão cedo. Isso para mim, até foi bom, porque em vez de me deixar afetar pelas críticas devido ao estereótipo ainda existente que o treinador tem que ser mais velho, tornei essas críticas em motivação para que pudesse sempre evoluir mais para conseguir atingir os meus objetivos. Penso que estou a trilhar um bom caminho porque cada vez mais sinto que essas críticas estão a desaparecer. Quer queira quer não, a idade tem sempre influência em algumas situações. Mas tal como as críticas estão a diminuir. Também sinto que as pessoas com quem trabalho sentem muita confiança no meu trabalho e já me dão tarefas de grande responsabilidade. Cada vez menos sinto que a minha idade é um entrave a certas situações.
MF: Quais são as suas perspectivas e objetivos para a sua carreira nesse ano e nos próximos? Pretende trabalhar em algum lugar específico?
DR: O meu grande objetivo é me tornar melhor treinador a cada dia que passa, tento sempre adquirir mais conhecimento todos os dias. Quero deixar a minha marca no futebol, tenho a ambição de sair do distrito de Beja e quiçá chegar a um clube de topo, mas acredito que as coisas vão surgindo naturalmente e citando o que um grande amigo treinador costuma dizer ‘Prefiro estar preparado e a oportunidade não surgir do que não estar preparado e a oportunidade surgir.
Balanço da carreira e amigo no Santos
Diogo com o técnico do ACD Penedo Gordo (Arquivo pessoal)
Sub-9 do CCD Bairro da Conceição (Arquivo Pessoal)
MF: Qual é o balanço da sua carreira até agora? Do primeiro clube até o último. Além disso, você sentiu alguma diferença ao longo das passagens de um clube para outro? Qual foi o mais difícil de trabalhar e por quê?
DR:O balanço que faço da minha carreira de treinador é bastante positivo. Desde o meu primeiro clube ao atual, senti-me acarinhado pelas pessoas do clube, que por onde passei sempre depositaram muita confiança no meu trabalho e como referi anteriormente, é bastante importante para que o percurso no clube corra pelo melhor. Por todos os clubes onde passei, senti que deixei a minha marca e isso é muito importante. Senti diferenças de clube para clube pois quando saí do Bairro da Conceição e fui para o Penedo Gordo estava habituado a trabalhar com meninos de 8/9 anos e no Penedo Gordo para além de trabalhar com meninos dessa idade, também trabalhei com jogadores adultos, o que aumentou a minha responsabilidade. Agora, no União Serpense, também noto diferenças para o ACD Penedo Gordo, porque apesar de continuar a trabalhar com jogadores adultos, trabalhamos de maneira diferente. Não posso definir o clube que foi mais difícil de trabalhar porque para mim, nenhum foi difícil. Quando fazes o que amas e quando estou a viver o meu próprio sonho de criança que projetei há uns anos atrás, nada é difícil, muito pelo contrário. Considero-me um privilegiado por tudo o que me vem a acontecer.
“Podem esperar muito trabalho, dedicação e foco”
MF: Você acompanha o futebol brasileiro? Se sim, o que acha do nível do esporte praticado aqui? Você considera algum atleta brasileiro promissor? Quem?
DR: Cada vez mais tenho acompanhado o futebol brasileiro, por influência dos treinadores portugueses que têm treinado clubes brasileiros. Inclusive, tenho um amigo treinador na equipa técnica do Santos, o Pedro Bouças. O campeonato brasileiro está a registar um bom desenvolvimento, no entanto ainda se nota muitas diferenças de qualidade comparativamente a alguns campeonatos europeus. Dos jogos do Brasileirão que tenho acompanhado, tenho visto jovens jogadores brasileiros que têm tido um bom rendimento como é o caso do Talles Magno, Reinier, Everton Cebolinha, Matheus Henrique Guga, Heitor, Bruno Guimarães, Igor Gomes, Antony, entre outros.
MF: Para finalizar, você tem algum recado para dar às pessoas? O que elas podem esperar de Diogo Runa?
DR: O que podem esperar de mim é muito trabalho, dedicação e foco em qualquer que seja o clube ou projeto que represente. Queria dar um recado às pessoas nomeadamente aos treinadores jovens, que tal como eu estão a iniciar carreira. O recado que quero dar é que sonhem, mas sonhem mesmo alto, porque se trabalharem para atingir os seus objetivos, irão lá chegar. Não tenham medo de errar, o erro é muito bom, eu diria até que essencial para o nosso crescimento pessoal e profissional. Não se deixem enfraquecer pelas críticas, transformem essas críticas em motivação. Espero que eu tenha servido de exemplo para muitos jovens que tenham esta paixão pelo futebol, para iniciarem a carreira de treinador.