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Entrevista com Ketlen Wiggers, artilheira das Sereias

Ketlen é a maior artilheira na história das Sereias da Vila, a atacante concedeu uma entrevista em live para o MF

 

Qualidade? R: Paciência.

Defeito? R: Orgulhosa.

Comida favorita? R: Strogonoff.

Filme/Série favorito? R: Arremesso final.

Uma música? R: Aquele que começou a boa obra – Fernandinho.

Hobbie? R: Ler a bíblia.

Se não fosse jogadora de futebol seria? R: jogadora de vôlei.

 

MF: Quando decidiu que seria jogadora? Teve apoio da sua família desde o início?

R: A minha família sempre me apoiou, meus pais e irmãos jogavam na cidade, entrei em uma escolinha com 8 anos e minha família me levava aos treinos. Quando decidi que queria isso pra minha vida eles me apoiaram totalmente e até hoje eles me dão total força, nisso não tem do que reclamar, é bom ter esse apoio esse incentivo para que a gente busque mais ainda por eles.

 

MF: Quando surgiu a primeira oportunidade de jogar?

R: Começou na minha cidade, Rio Fortuna no interior de Santa Catarina, com quatro mil habitantes só e lá jogava com algumas amigas em uma escolinha, além de futebol jogava vôlei e minha mãe pediu pra decidir “futebol ou vôlei?” e fui no futebol. Joguei nessa escolinha até os 14 anos e quando fiz 15 anos em janeiro fui para o Santos, tinha uma peneira, meu irmão abriu uma página da revista onde falava sobre o futebol feminino do Santos, naquela época não sabíamos porque porque não tinha internet lá então não tínhamos acesso a nada.

R: Minha mãe achou interessante e ligou para o treinador falando sobre mim para fazer o teste, ela me levou em janeiro para participar da peneira, tinha umas setecentas meninas mais ou menos, passou eu e mais uma. Foi o primeiro teste que fiz e passei de primeira, ainda mais no Santos que sempre foi meu clube de coração, foi assim que começou minha história na minha cidade até hoje no Santos que sempre foi meu objetivo.

 

MF: Qual a sensação de atuar em um clube como o Santos, ser artilheira das Sereias e estar próxima do centésimo gol?

R: Eu fico muito feliz, há um tempo tenho contado essa história da minha vó que era santista, passei um tempo com a minha família na quarentena e minha mãe contando sobre minha avó que era santista, ouvia os jogos na rádio, vem de berço essa paixão pelo Santos, sempre gostei e hoje eu jogo por ela, não a conheci, ela acabou falecendo antes de eu nascer e gostaria que ela tivesse vendo toda essa história que construí pelo Santos, ser artilheira. Fico feliz de fazer meu nome em um clube tão grande como o Santos, quando cheguei com 15 anos não imaginava construir essa história toda e hoje vejo que é uma história bem construída, fico feliz, faço pela minha família e a expectativa é grande pelo centésimo gol, espero que chegue logo.

 

MF: Qual foi a melhor e a pior experiência na sua carreira? Conte mais sobre sua trajetória.

R: Tive momentos de altos e baixos na minha carreira mas o momento difícil foi em 2012 quando tinha acabado de sair da Seleção Feminina de sub-20 e estava com problema no púbis, pubalgia, fazia dois anos, não tinha como parar para tratar e o médico falou para fazer cirurgia ou pararia de jogar bola, mas não queria fazer cirurgia de jeito nenhum. A fisioterapia não ajudava muito e o presidente do Santos naquela época, Modesto Roma, cuidava da minha carreira até brincou falando para fazer cirurgia ou não jogava mais com ele, porém queria que eu fizesse para sair logo naquilo, não tive opção.

R: Foram três meses muito difíceis para mim, nunca havia passado por aquilo e logo após que fiz a operação o Jorge Barcellos, treinador da seleção principal naquela época, me ligou falando que ia me convocar, mas eu não poderia atuar pela cirurgia e me desejou uma boa recuperação. O melhor momento foi a primeira convocação para a Seleção, tinha acabado de chegar no Santos e tinha o sonho de chegar na seleção. Fazia oito meses que estava no Santos, era final de ano e ia ter a convocação para Seleção Feminina sub-17, fui convocada e lembro do momento que recebi a notícia, ver meu nome na convocação foi um momento mágico e o momento mais feliz da minha carreira e um sonho realizado de criança poder representar a seleção brasileira.

 

MF: Qual é seu objetivo dentro e fora do futebol? Que títulos ainda pretende conquistar?

R: Hoje, dentro do futebol, falo pelo Santos é poder conquistar novamente a Libertadores um objetivo que tenho e talvez chegar a Seleção Brasileira, vou lutar pra isso. Fora do futebol, eu tenho construído uma carreira, estudei, fiz faculdade e tenho o sonho de poder trabalhar nos Estados Unidos, estou aprendendo inglês online e realizar esse sonho fora do futebol.

 

MF: Quando aposentar dos gramados pretende continuar trabalhar no futebol?

R: Não tenho esse sonho de trabalhar profissionalmente com o futebol, mas gosto de trabalhar com crianças, trabalharia com a base. A Sandra, auxiliar técnica, me ligou fazendo essa proposta de trabalhar com ela porém não quero trabalhar com o profissional, se surgir uma oportunidade com a base do Santos quando aposentar eu gostaria. Mas pretendo trabalhar com isso, é um objetivo e que tem estudo muito pra isso.

 

MF: Qual a sua opinião sobre o cenário do futebol feminino no país? (Estrutura, salário, visibilidade, horário).

R: Desde quando comecei mudou bastante o cenário, fico feliz por estar crescendo, esse ano e o passado foram um melhores anos para o futebol feminino, estruturas novas, bons clubes, esse ano o Campeonato Brasileiro está muito difícil porque clubes grandes que subiram como Grêmio, Cruzeiro para a primeira divisão, como não conhecemos é muito difícil de jogar, fico feliz por esses clubes grandes estarem presentes no cenário do futebol feminino, tanto na Série A1 e A2 e por incentivarem as meninas a jogar é o principal, novos talentos surgindo para crescer o futebol feminino no país e fico muito feliz.

 

MF: Qual a sensação de ser espelho para as meninas da próxima geração?

R: Eu fico muito feliz das pessoas me reconhecerem dessa forma, às vezes a ficha não cai de pensar que você é espelho para algumas pessoas. Quando cheguei me espelhava em muitas, jogadoras de Seleção e você ser espelho é mudar a chave, diferente então sempre procuro ajudar da melhor forma assim como fui ajudada no começo da minha carreira e lembro que no final do ano o Guilherme e nosso diretor me chamaram dizendo que queriam renovar meu contrato e me queriam para ser espelho para equipe pois subiu algumas meninas da base, levar minha história para outras meninas e fico feliz com isso. Não imaginava que já era espelho para alguém, então quando falaram isso de ser espelho firmaram minha renovação, fico muito feliz por isso e cada vez mais tentar ser uma pessoa melhor passando isso para as meninas para que elas possam alcançar tudo aquilo que alcancei ou até mais, que elas possam ser grandes jogadoras e boas pessoas também.

 
(Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC)
 

MF: Qual objetivo com as Sereias nesse ano de 2020?

R: Estávamos embaladas, é triste parar dessa forma, mas de qualquer jeito estamos tentando trabalhar fora disso, conversando com o pessoal e treinando todo dia de forma diferente, mas é triste espero que continuemos embaladas quando tudo isso passar, para logo para voltarmos e embalar novamente e continuar com essas vitórias que é o mais importante ainda para o Santos.

 

MF: Pensa em Seleção Brasileira novamente?

R: Tive sonho de retornar a Seleção Brasileira, mas chegou um momento em que estava com outros objetivos na minha vida, na minha carreira que eu não pensava mais, hoje com a Pia pode ser o momento e que provavelmente vai analisar outras atletas ainda mais agora que as Olimpíadas acabou sendo cancelada e adiada para o ano que vem, talvez ela possa analisar outras atletas, porém tenho sonho de voltar e mostrar que posso chegar na Seleção Brasileira, preciso trabalhar bastante há muitas atacantes boas que também merecem e se surgir a oportunidade vou ficar muito feliz de realizar esse sonho.

 

MF: Qual a maior diferença de ser treinada por um homem e uma mulher?

R: A única técnica mulher que tive foi a Emily, realmente é pouco diferente por ela conhecer a gente, mas sempre os treinadores que tive foram muito bons eles conheciam muito as atletas, procuravam nos conhecer, porém a Emily sabia o período nosso, sempre na mesma época por estarmos em grupo e morarmos juntas, então ela sabia que era um período difícil e procurava trabalhar de outras formas. Hoje, tem mulheres na comissão, elas conhecem e sabem disso, nossa comissão como um todo é muito boa são muito parceiros, essa amizade levamos para dentro de campo, jogamos mais soltas, claro que a mulher talvez conheça mais, porém os homens que tive como treinador nos conhecia e procuram conhecer, foram muito bons para a minha carreira.

 

MF: Qual sua relação com a comissão e com as meninas do elenco?

R: Eu, particularmente, sempre tive uma boa relação com todas e às vezes quando estou meio triste eles veem me perguntar, “essa não é a Ketlen”, pois sou de brincar muito, todos sabem que no meu Instagram sempre tem muitos vídeos de zoeiras e eles sabem que não estou normal, quando teve toda a situação do Guilherme, sempre tive uma amizade muito grande com ele, um dos que mais tenho amizade, eu fui uma das que ficou mais abalada, duas semanas que fiquei muito mal, ele me chamou de canto e falou que não queria me ver assim, queria a Ketlen de volta e tive que me reerguer por ele, estar feliz por ele e são momentos como esse que passamos e precisamos estar ao lado do outro. A relação com todos eles é tão boa que o grupo se fortalece no dia a dia, minha segunda família e um precisa do outro, fico feliz por eles ficarem por mim e eu fico por eles.

 

MF: Qual sua relação com a torcida torcida santista?

R: Eu gosto de ter essa relação com a torcida, quando acaba o jogo sem nenhum problema sempre busco tirar foto todos, pedem camisa, o que a gente tem, mas infelizmente não podemos entregar, gosto dessa relação, isso que nos dá força por estar em campo, jogar pela torcida e quando recebemos esse carinho fico muito feliz, sempre jogo pela torcida e sou santista de coração, quando recebo esse carinho é muito bom o que nos incentiva e da força para poder conquistar os títulos para a torcida.

 

MF: Você já sofreu algum tipo de preconceito na sua carreira?

R: Dentro do futebol sempre tem aquelas pessoas que fazem piadinha que soltam durante o jogo: “mulher tem que estar em casa”, “lavando roupa”. Nunca recebi aquele preconceito forte, sobre não poder jogar futebol, procuro não escutar essas piadas porque sei que isso não vai me fazer bem e não é isso que vai me fazer parar de jogar futebol. Hoje a cabeça das pessoas tem mudado bastante em relação a olhar para as mulheres com outros olhos e ver que futebol também é para mulher e isso incentiva a gente, acaba mostrando para as pessoas que a gente também pode e não são essas piadas que vão fazer com que a gente pare, escutamos isso e acaba sendo normal, não levamos para a casa porque a gente sabe que são pessoas ignorantes e não acompanham a gente dentro de campo.

 

MF: Como você vê a função do analista de desempenho para poder te ajudar a obter melhores resultados dentro de campo?

R: É muito bom contar com o Júlio, nosso analista, porque estamos em campo e não nos vemos jogando, mas quando tem uma pessoa vendo seus movimentos, o que você pode melhorar, principalmente na marcação é muito bom, ele e o Gui são pessoas que considero muito, me ajudam muito. O Júlio me ajuda bastante, manda vídeos meus dos antigos até os atuais onde posso melhorar nesse tempo então é muito importante ter um analista na comissão não só pra ajudar só o atleta individual, mas todo o elenco. Nunca tive isso, nesses dois últimos anos fez uma diferença muito grande, agradeço ao Júlio por ter ele no elenco, é uma ajuda muito grande e estamos conseguindo muitas vitórias.

 

MF: Qual o time que você mais gosta de jogar contra?

R: Corinthians, é o maior clássico, é outro clima principalmente quando a gente ganha ainda mais com três títulos em cima deles então é muito bom.