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Entrevista com Matheus Costa, treinador do Operário Ferroviário

Matheus Silva Ferreira da Costa nasceu no dia 14 de janeiro de 1987 na cidade de Curitiba. Aos 34 anos, já trabalhou em equipes como Internacional (base), Paraná (onde conseguiu o acesso para a primeira divisão nacional) e Confiança. Atualmente está no Operário Ferroviário. Conhecido e reconhecido por ser estudioso das táticas e possuir um discurso motivador

 

1- Queríamos que primeiramente você se apresentasse em termos de formação antes de chegar no futebol e também comentasse sobre a nova geração dos treinadores brasileiros que como sua pessoa tenta um espaço considerável no cenário nacional. Quais os principais nomes na sua concepção? Além disso, o que os cursos da CBF tem auxiliado no seu crescimento profissional?

R: Sou natural de Curitiba, fui atleta de futsal durante 10 anos com passagens no futebol de campo dos 08 aos 18 anos. Me formei em Educação Física, realizei Pós-Graduação em Treinamento e Alto Rendimento e as Licenças B e A da CBF, atualmente cursando a Licença Pró, que fazem você adquirir conhecimento dentro dos estudos e debates propostos pela CBF Academy. Reunir mais de 150 treinadores na Granja Comary como tem sido nos últimos 3 anos é de grande valia para discussões para buscar a evolução nossa em termos de conceitos de jogo e em termos do crescimento do futebol brasileiro. Estou disputando a minha quinta Série B seguida e cada ano vejo um futebol apresentado de melhores conceitos e jogos mais vistosos com equipes procurando propor o seu jogo e buscando seu resultado com estratégias bem claras de acordo com seu treinador, acredito que a CBF Academy tem sua contribuição e parcela de responsabilidade nisto. Fui treinador das categorias de base do Trieste Futebol Clube (Curitiba-PR), auxiliar técnico das categorias de base do Athletico Paranaense, observador técnico do Coritiba, treinador das categorias de base do Internacional (Porto Alegre-RS), auxiliar-técnico do Fluminense (Rio de Janeiro-RJ) até receber minha primeira oportunidade como treinador do Paraná Clube após ficar aproximadamente 6 meses como auxiliar técnico. Sempre comento que o fator idade é irrelevante no quesito treinador, importante é você ter experiência para saber gerar grupo, perfil de liderança para as pessoas ao seu redor confiarem em você e conceitos de jogo para conseguir passar isso para teu elenco a modo que eles consigam reproduzir em campo e obviamente gerar resultados, que independentemente da idade é o que no Brasil faz você se manter empregado. Hoje vemos diversos nomes em destaque em um cenário nacional considerado da nova geração e que vem realizando ótimos trabalhos como Umberto Louzer, Mauricio Barbieri, Rogerio Ceni e Felipe Conceição que realizaram um ótimo trabalho nesta temporada que está se encerrando com equipes muito bem estruturadas e ideias de jogo muito bem determinadas e pré estabelecidas. Gostaria de deixar claro que temos treinadores que merecem todo nosso respeito e admiração que apesar da idade são modernos e nos servem de inspiração e exemplo de carreira e continuam vitoriosos por onde passam como Abel Braga, Renato Portaluppi, Vagner Mancini e treinadores novos que apesar de jovens também estão a muito tempo no mercado que tenho toda a admiração e respeito como Guto Ferreira, Fernando Diniz e Marcelo Chamusca.

 

2- Seu início foi como treinador do Paraná, Joinville e auxiliar no Coritiba. Como foi em pouco tempo estar em dois dos principais clubes paranaenses? Existe alguma diferença no modo de gestão das agremiações? Você pegou o barco andando na Gralha com a saída do Lisca, o que você conseguiu implementar para que o elenco mantivesse o mesmo nível e conseguisse o acesso para primeira divisão? Existe alguma semelhança entre ser o técnico principal ou ser auxiliar dele?

R: Trabalhar em dois dos principais clubes paranaenses gera uma responsabilidade enorme pelo poder da camisa, história e tradição que estes clubes carregam, Paraná com os anos 90 de ouro conquistando inúmeros títulos e com regularidade na Série A e o Coritiba com título brasileiro, com campanhas excelentes em Copas do Brasil e como vitorioso que é no estado do Paraná. As minhas passagens por estes clubes foram de uma responsabilidade muito grande pelos momentos em que viviam na época em que estive neles, ambos disputando Série B e sabíamos da pressão que isto gera, neste momento, temos que ter convicção naquilo que estamos fazendo e assumir esta responsabilidade de trabalhar em clubes tradicionais e de fazer o seu melhor para procurar fazer com que o clube retorne a elite do futebol brasileiro. No Paraná no ano em que conquistamos o acesso, iniciei a temporada como auxiliar técnico, então antes da chegada do Lisca já tinha tido a oportunidade de assumir a equipe interinamente, o que acredito que tenha ajudado na construção de uma equipe vencedora, costumo dizer que todos tiveram a sua contribuição para aquele ano vitorioso, eu tive a minha como o maior pontuador da Série B (dos 64 pontos conquistados 33 pontos foram comigo como treinador). Acredito que numa competição a longo prazo e assumir uma equipe faltando 17 rodadas para encerrar o campeonato e sem estar no G-4 são inúmeros fatores para implementar para que o elenco mantenha o mesmo nível, é difícil enumerar somente alguns, são muitas tomadas de decisões, variações de equipes, estratégias realizadas ao longo das rodadas principalmente se tratando de uma metade para final de temporada onde aumenta o nível de stress mental, lesão muscular, suspensão entre outros inúmeros fatores. Semelhança entre ser treinador ou auxiliar do treinador é que independentemente do que um ou outro pensa, todos ao redor devem enxergar o treinador e seu auxiliar como uma unidade, uma linha de raciocínio e uma sequencia de trabalho.

 
Foto: André Jonsson/OFEC.
 

3- Em 2020, passou por Confiança e Paysandu. No time sergipano conquistou o estadual, mas não teve uma maior sequência por causa da pressão da torcida. Como vês o exagero de alguns torcedores em busca da dicotomia resultado-rendimento em campo? No Papão teve pouco tempo, pois recebeu uma proposta, por qual motivo escolheu ir para um novo trabalho?

R: Até hoje muitos me perguntam porque eu saí do Confiança. Atingi todos os objetivos estabelecidos para a temporada. Fomos campeões do primeiro turno do estadual dando vaga para a Copa do Brasil, fomos campeão estadual invicto garantido a copa do nordeste na fase de grupos para a próxima temporada e tivemos a melhor campanha da história do clube na Copa do Nordeste, classificando em primeiro lugar no seu grupo e chegando as semifinais da competição onde tinha equipes da Série A e nós da Série B. Após três jogos sem vencer com uma derrota e dois empates fora da zona de rebaixamento (que foi o ultimo objetivo proposto pelo clube que era de não entrar na zona de rebaixamento) acabei sendo desligado do clube. Infelizmente no Brasil nós temos que aprender a lidar com este tipo de situação. A pressão externa pode alterar o trabalho interno, porém sou extremamente grato a todo o período que estive no clube. Feliz pelas conquistas e pela oportunidade em trabalhar no nordeste, algo que tive o desejo de realizar e comprovar a paixão do torcedor pelo seu clube. Quero viver esta experiência novamente sem dúvida alguma. No Paysandu tive um período muito curto porém intenso, minha passagem foi menos de um mês pela proposta que recebi do Operário, onde estou atualmente. No Brasil, o resultado tem que vir antes do trabalho. São exceções os clubes que respeitam o trabalho. O time paranaense é um. Antes de mim, o treinador teve uma passagem de cinco anos aproximadamente, isto é um chamariz para qualquer treinador. Fico feliz que tenha sido eu o escolhido para substituí-lo. Não poderia deixar passar esta oportunidade. Fica meu carinho e admiração pelo Paysandu pelo pouco tempo que estive lá. Com uma torcida maravilhosa, um clube gigante e uma história linda não só deste clube, mas também do povo paraense que passei a ter um carinho muito grande.

 

4- Atualmente está no Operário Ferroviário conseguindo 10 vitórias em 21 jogos e bom desempenho dentro de casa. Agora em uma nova temporada, o que você e a diretoria em termos de novas contratações? Existe alguma característica de jogador específica que o elenco precise atualmente? O que o time ganha com o retorno do goleiro Simão Bertelli e com a vinda do zagueiro Léo Rigo? A equipe é bem experiente, em que isso pode ajustar num momento de adaptação de novos jogadores?

R: Quando encerramos a temporada estabelecemos dois objetivos para iniciar a temporada: Renovar o contrato com nossa base vitoriosa que encerrou a Série B com a segunda melhor campanha do segundo turno, fato que nos gerou muita dificuldade porque os atletas se valorizaram muito pela forma como encerraram a competição e reforçar o elenco de forma pontual, deixar o elenco enxuto e oportunizar todos para a disputa do paranaense e abrir margem em um segundo momento para possibilidades de reforços futuros para a Série B de acordo com o que apresentarmos no estadual. Ficamos muito satisfeitos pela forma que foi conduzida as renovações e ganhamos com a vinda destes atletas que mencionou: o Simão tem uma história linda no clube com conquistas e títulos, tem uma imagem forte perante a torcida e o mais importante sabemos que vai continuar dando retorno desportivo dentro de campo para o clube e o Leo Rigo era um atleta que estávamos analisando no mercado e que fortalece tanto na fase de construção por ser um zagueiro canhoto e não tinha atleta com esta característica ainda no elenco para sair jogando pelo lado esquerdo e sem bola tem toda a sua agressividade e encurtamento ao adversário e um jogo aéreo que corresponde nossas expectativas. Torcemos para que eles consigam reproduzir isto nos jogos. Elenco enxuto, mesclando experiência e juventude e acima de tudo com todos sabendo que terão oportunidade. Acredito nisto para que tenhamos uma temporada que corresponda as expectativas que está sendo gerada. Obrigado.

 
Foto: André Jonsson/OFEC.