O goleiro Elisson, de 33 anos, nascido no Estado de Minas Gerais concedeu entrevista exclusiva ao Mercado do Futebol e contou sobre sua carreira, dos objetivos que ainda tem, falou sobre aposentadoria, as tristezas e as alegrias da vida como atleta e pessoa. Elisson passou 22 anos de sua vida vinculado ao Cruzeiro e seu último clube foi o Brasiliense. Atualmente, não está em nenhuma agremiação.
O goleiro surgiu nas categorias de base do Cruzeiro na década passada como uma promessa, mas nunca se firmou na equipe principal da Raposa e foi emprestado para vários clubes. Além do time de Belo Horizonte, jogou por empréstimo no Itaúna, Rio Branco-MG, Nacional-POR, Villa Nova, Rio Verde-GO, Coritiba, Nacional-SP, Ipatinga, Figueirense e por último, Brasiliense
1- Elisson, você passou a maior parte de sua carreira vinculada ao Cruzeiro. Como avalia a experiência no Clube celeste e acredita que a falta de oportunidades por lá, já que o Fabio não deixa brechas, pode ter sido algo negativo em sua carreira?
R: Passei 22 anos da minha vida no Cruzeiro e quando surgia a oportunidade de ser emprestado, eu aceitava. Foi muito proveitoso esses 22 anos, fui Campeão Brasileiro em 2014, fui campeão mineiro em 2014 e tudo serviu de aprendizado e crescimento como profissional e pessoal. A falta de oportunidade, sim, foi um ponto negativo, mas eu entendo que o Fábio é um ídolo, não só do Cruzeiro, mas do futebol brasileiro, amigo pessoal e tenho muito carinho por ele e consideração enorme. Se ele está nessa posição que se encontra no Cruzeiro [há] mais de dez anos, é porque fez por merecer. Futebol é assim, tenho um carinho muito grande pelo Cruzeiro e hoje estou em outra etapa da minha vida, mas foi muito bom passar esses longos anos da minha vida na Toca.
2- Aposentadoria pode ser algo complicado de se falar. Já disse que pensou em encerrar a carreira após a tragédia com seu filho Lucca – este que lhe deu forças para continuar, com você querendo realizar o sonho dele -. Antes de tudo, queria lhe desejar forças, pois é uma batalha nova a cada dia. Como enxerga o seu futuro após deixar as luvas de lado? Já pensa em algum projeto pós-carreira?
R: Aposentadoria é um pouco complicado de falar, mas chega a um certo momento da carreira que você tem que pensar no que vai fazer. Eu tenho vários projetos para dar continuidade na vida, porque futebol tem data de validade. Mas tenho 33 anos e esse ano de 2020 está sendo complicado para todo mundo, eu estava no Brasiliense e resolvi tirar um tempo para pensar na minha vida, para curar algumas cicatrizes que talvez nunca vão ser curadas e quando o Lucca faleceu, eu tive esse pensamento de desistir de tudo. Mas eu nunca desisti de nada e tudo que eu faço é por ele. Sinto muita falta dele, mas eu tenho certeza que de onde ele está, fica me olhando sempre. Igual o que te falei, esse ano eu vou repensar ‘dar uma segurada’, vou curar essas feridas que estão abertas, colocar a cabeça no lugar, porque quando a cabeça não está bem, o corpo não responde. Então, saí do Brasiliense no mês de junho e conversei com minha família, conversei com minha namorada e aí a gente vai repensar a vida nesses meses que faltam para acabar o ano. E em 2021 a gente volta mais forte para dar continuidade à carreira.
3- Destacastes também pelo bom jogo com os pés, algo muito solicitado pelos treinadores atualmente. Houve trabalho tão específico à época para aprimorar isto? Como vê esse desejo dos técnicos pelos goleiros bons com boa saída de bola e bom passe?
R: Eu joguei três anos em Portugal e essa escola de goleiros com os pés, eu comecei a aprender e estudar lá. Muito bom, sempre tive facilidade de jogar com os pés, desde a época de escolinha mesmo, até um dos treinadores queria me colocar como volante, mas o meu negócio é no gol. Eu acho muito válido essa qualidade que ajuda a equipe na saída de bola, que pode confiar no goleiro com os pés. Eu acho que alguns treinadores estão arriscando muitos, trazendo perigo para perto do nosso gol e os goleiros têm passado apuros. Mas é isso que o futebol pede, está evoluindo cada dia mais. Então, a gente tem que está cada dia a mais disposto a aprender e aceitar essa evolução. O Hemerson Maria, meu treinador e que considero como pai, aprendi muito com ele, joguei com ele no Villa, de Goiânia, e eu era o goleiro que mais tocava na bola na Série B de 2017 até eu me lesionar. Eu gosto muito e faço força para que os goleiros venham e treinando e se adaptando a essa nova realidade do futebol, porque o pessoal fala que jogam dez jogadores e quando entra o goleiro são onze. Então, o goleiro participa do jogo o tempo todo, fica mais ligado, mais atento e ação do goleiro atrás reflete nos atacantes.
4- Qual foi o auge de sua carreira e qual melhor clube que atuou? Além disso, naturalmente, os goleiros aposentam de maneira mais tardia. Acredita que pode seguir os rumos do Jailson (Palmeiras) e retornar à elite do futebol brasileiro mesmo na casa dos 30 anos?
R: O auge da minha carreira foi no Coritiba, no clube que eu amo de paixão, clube que eu tenho um sonho de retornar. Se eu pudesse jogar meus últimos cinco anos de bola, eu jogaria lá, porque eu amo aquele clube. Foi o clube que me abriu as portas para jogar mesmo, para eu ter visibilidade nacional e fiquei sete jogos diretos sem tomar gol no Coritiba. Então, é o clube que eu mais gosto, que eu amo de paixão. Aposentadoria é o que eu te falei, vai muito do dia a dia do futebol, porque tem clube que você começa a ir, não receber, começa a ter trabalho, desgostar um pouco do futebol e eu espero sim voltar à Série A. Até porque eu tenho potencial e currículo para isso. Quero jogar até quando o corpo permitir e tenho muito a contribuir para o futebol. Eu avalio minha carreira no modo geral como vitoriosa, de muita volta por cima. Eu vim do interior, de Brumadinho, onde muita gente falava que não ia dar nada e, graças a Deus, hoje tudo o que eu sou, tudo o que eu tenho, tudo que eu represento, não falo do futebol, falo para minha família, para os meus amigos, para as pessoas que me rodeiam, acho que é muito satisfatório. E ser campeão brasileiro duas vezes, campeão mineiro, chegar nas finais da Copa do Brasil, Campeonato Paranaense, Campeonato Goiano. Então, são coisas que eu vou levar para minha vida. Liga Europa, Seleção Brasileira sub-20. Eu avalio minha carreira vitoriosa e de superação porque eu nunca desisti de nada e nunca vou desistir.
5- Atuou no Nacional, em Portugal. Qual maior diferença já visível à época para o futebol brasileiro? Mesmo que em línguas próximas, existem outros fatores que podem complicar a adaptação de um atleta em um país. Teve algum problema para se adequar ao país e ao futebol local?
R: Passei três temporadas em Portugal e, inclusive, foi lá que aprendi a jogar com os pés, me aperfeiçoei mais ainda, lá já tinha essa saída do goleiro com os pés e aqui estava caminhando para que os goleiros pudessem jogar junto com a equipe ali com os pés. Adaptação, acho que ali em Portugal foi muito tranquila, tinha muito brasileiro, só no Nacional, tinha onze brasileiros. Então, acaba que se torna mais fácil a adaptação. A língua é óbvio que tinha algumas coisas diferentes, mas foi muito tranquilo. A gente viajava muito para a Liga Europa, a gente chegou a ir para muitos países onde a língua era diferente e aí sim a gente começou a passar dificuldade. Era coisa de dois, três dias retornava para Portugal e voltava tudo ao normal. E episódios que me deixaram triste foi algumas coisas que não valem a pena falar, mas tem acontecido com frequência no mundo que é a questão da cor da pele. Mas eu não ligo porque Deus é um só, Deus fez o branco, o negro, o ruivo iguais, somos do mesmo Pai e isso não me afetou em nada. Eu acho que todos nós merecemos respeitos: os negros, os brancos, os homossexuais. Enfim, acho que toda decisão é muito pessoal. Fui muito feliz em Portugal, recebi até recentemente o convite para voltar, mas preferi ficar aqui para ficar um pouco mais perto do meu pai. Deus está no comando de tudo.
6- Em vários clubes e com vários treinadores que trabalhou, muitos indicaram você para uma nova equipe, como o caso do Hemerson Maria, no Figueirense. Como avalia sua carreira de um modo geral? E, dentro de campo, qual foi pior momento de sua trajetória?
Eu trabalhei com muitos treinadores, treinadores de goleiros, treinador da equipe principal, mas o que eu levo muito no meu coração mesmo é Hemerson Maria e vou levar para sempre. É um cara que não é só treinador, ele é um pai na acepção da palavra, ele te ajuda em vários aspectos, não só dentro de campo. Então, esse aí eu vou levar pro resto da vida e todo sucesso para ele. O pior momento da minha carreira foi em 2017, estava no Villa Nova, de Goiânia, estava muito bem, era um dos principais goleiros da Série B de 2017, infelizmente eu me lesionei e fiquei um ano e dois meses parado. Eu rompi o reto femoral e isso foi muito triste. Mas graças a Deus, hoje eu estou recuperado, voltei a jogar no Figueirense, estava no Brasiliense e estou totalmente recuperado. Mas voltando a pessoa mais importante nos últimos no futebol como treinador, como pai para mim, é o Hemerson Maria.
Entrevista por Vinícius França e texto por Gabriel Neri
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