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Entrevista com Osmar Cambalhota

Com passagens por Palmeiras, alguns clubes no exterior e pelo Santo André campeão da Copa do Brasil em 2004, o atacante Osmar, já com 38 anos, concede entrevista ao MF e conta, com bastante bom humor, alguns detalhes de sua carreira.

“Queria agradecer desde já e dizer que é um prazer enorme estar podendo participar desse site maravilhoso.”

Foto: SE Palmeiras.

 

– Você tem uma afinidade maior com algum dos clubes que passou? Como você se sentia nesse clube?

O: Bom, eu tive afinidade com todos os clubes que passei, mas os que me identifiquei mais foram 2: No começo da minha carreira, com o União São João de Araras, que hoje, infelizmente, está desativado mas eu tenho certeza de que logo vão reativá-lo de novo para que ele possa voltar a revelar grandes craques, como no passado e o Palmeiras, que é um clube que eu me sentia muito bem, me sentia feliz e pra mim sempre foi um prazer vestir esse manto sagrado.

 

– Já na fase final da carreira, como você enxerga todo o seu crescimento até aqui? Gostaria de mudar alguma coisa?

O: Olha, na verdade, o que a gente imagina é que, no final da carreira, sofreremos menos, mas os clubes hoje estão sem muitas condições de dar um preparo, a força que nós precisamos para continuar nesse finalzinho. Hoje ninguém mais contrata jogador depois de uma certa idade, principalmente acima dos 35 anos, porque eles acham que somos dispensáveis e não estamos, podemos ajudar tanto dentro de campo, como fora. Às vezes ali, um conselho para um garoto que está começando, um atacante que a gente procura incentivar e ajudar a finalizar, ser frio, só que hoje está cada vez mais difícil ter essa oportunidade porque o futebol virou um comércio muito grande, que se esqueceram de trabalhar, principalmente os garotos da base e os veteranos não tem oportunidade, então eu mudaria nisso, tentaria unir ainda os veteranos para incrementar os times e evitar que os garotos não sofram tanto como muitos vem sofrendo. Inclusive, no Campeonato Brasileiro, teve um jogo entre Corinthians e Internacional, se não em engano, em que o garoto errou uma bola e depois chorou. O que é isso? Isso é que ele não tem noção do que é pressão. Eles tem que conviver com isso, mas às vezes não estão preparados, então se tem um jogador experiente com ele ali, daria um conselho, dizendo que na vida dele não será o primeiro erro, serão muitos, e que problema não é você errar, mas sim desanimar. Levanta a cabeça! E o futebol é tão maravilhoso que ele sempre te dará uma nova chance de você mostrar o seu trabalho.

 

– Aquela história de “aprender os atalhos do campo” conforme a idade passa, é realmente verdade? A movimentação de um jogador experiente em campo fica melhor por causa disso?

O: Com certeza! O tempo vai passando e a experiência também vem. Um jogador experiente vai saber se posicionar melhor do que um garoto, porque quando você é garoto, você quer estar onde a bola está e aí a gente costuma chamar até de “jogador peladeiro” por isso. Agora, nós, que tem uma certa idade, aprende a esperar um pouco mais, também porque não temos o gás para ficar correndo como corria antes, então temos que ter força e energia para quando a bola tiver perto do gol, darmos aquele “sprint” final, chegar inteiro para finalizar. Se você pega o posicionamento do Romário, ele ficava ali no migué e a hora que jogavam a bola na frente, sabiam que ele ia fazer o gol, o próprio Ronaldo Fenômeno e hoje o futebol virou muito mecânico, né? Todo mundo marca, todo mundo ataca e você não sabe quem é o atacante e tivemos a maior prova aí, na Copa do Mundo, com o Gabriel Jesus, que sofreu por não ter feito gol e diziam “pô, ele marca, ele se dedica”, legal, só que ele é atacante, ele não pode esquecer que ele é atacante, que ele é finalizador e se ele é um atacante mais experiente, ele não daria tanto pique para trás, ele guardaria energia para dar os piques para frente. O jogador experiente acredita que o zagueiro pode falhar, que o próprio companheiro pode errar a finalização e essa bola vai sobrar para ele, então você tem que estar sempre firme para dar o “sprint” final e fazer o gol.

 

 – Considerando sua forma física, você se vê atuando por mais quantos anos? Há algum clube que você gostaria de ter jogado?

O: Eu gosto de futebol, e gosto de jogar. Eu costumo dizer uma frase que um jogador muito antigo falou, logo quando eu estava começando que um homem morre duas vezes: quando para de jogar bola e quando morre como ser humano. E eu sou da seguinte opinião: Eu vou parar no dia que eu me levantar de manhã e não sentir vontade de treinar, mas enquanto eu tiver saúde, cara, eu não vou parar não, porque eu sei que eu tenho condições. O que falta é alguém que dê sequência e oportunidade, agora, jogar futebol, a gente nunca desaprende. Eu sei quem eu sou, talvez muitos não acreditem, porém o mais importante é que eu acredito em mim, eu acredito no meu potencial e eu sei onde eu posso chegar ainda, então por isso que eu não desanimo e que bom seria se esses jogadores mais veteranos por aí, que estão pensando em parar, continuassem também. Vamos até o final, vamos até onde não tiver mais alegria. O dia que faltar alegria para trabalhar, para treinar, para estar no ambiente de trabalho, aí sim você pode parar de jogar futebol.

 

 

– Como você descreveria esse seu momento atual no futebol? Você pode dizer que realizou tudo o que desejava no início?

 

O: Olha, você pode ter 100 anos no futebol, que sempre vai faltar alguma coisa. É lógico que eu também sonhava, como qualquer outro jogador, em pegar uma seleção brasileira, tanto é que o futebol é tão lega, que eu pensava em disputar uma Copa do Mundo, mas como? Eu sabia que no Brasil seria muito difícil e quando eu tive a oportunidade de sair do Brasil, que eu fui para o meu primeiro clube fora, foi para o México e eu já fui na intenção de ficar, pelo menos, uns 10 anos, me naturalizar para disputar uma Copa. Depois fui para o Japão também, tive oportunidade de ficar, mas, infelizmente, não pude ficar. Eu sempre quis disputar uma Copa do Mundo e para um jogador, sempre vai estar faltando alguma coisa, então, eu não seria diferente.

 

– Algum momento marcante que você possa compartilhar?

O: Cara, tive muitos momentos marcantes, tanto bons quanto ruins também e todos foram momentos que vão ficar para sempre na minha memória. O primeiro momento foi quando eu fui campeão da Copa do Brasil pelo Santo André, que vai ficar para sempre não só na minha memória, como na memória de todo o Brasil, porque quem não era flamenguista ali, era Santo André e ninguém acreditaria que o nosso time poderia chegar a ser campeão de uma Copa do Brasil, no Macaranã, 100 mil pessoas gritando ali e até hoje me arrepia. Não vai ficar na minha memória, vai ficar na minha alma, não só na minha, como também de vários jogadores. Eu lembro que, quando chegamos no estádio e vimos toda aquela torcida, sendo que só tínhamos jogado com equipes pequenas, público de 3 mil, 5 mil pessoas e de repente você se depara com tudo isso só numa avenida querendo chegar no estádio e quando chegamos lá, me lembrou muito o Coliseu, que arrepiava todo mundo e ainda tinha o Sergio Soares (que chegou a jogar no Palmeiras), que falou: Gente, quem tiver medo do escuro, não sai lá fora, que o negócio lá está lindo, lindo, lindo! Conversamos antes do jogo sobre como seria ser campeão, mas nós sabíamos que seria difícil ser campeão em cima do Flamengo, um dos maiores clubes do Brasil, maior torcida, time de camisa, o time deles era muito bom também com Júlio César, Felipe, uns caras que comiam a bola mesmo, sabe? Então, cara, quando o juiz apitou, foi a maior alegria, festa, levantar um caneco no Maracanã, que a gente sempre ouvia falar, ficava imaginando mas não tinha a noção de como seria viver aquele momento para a realidade do que era o futebol, e fomos campeões.

 

Foto: Arquivo Pessoal.

 

 – A relação entre o jogador e a mídia mudou muito na sua visão? Acha melhor os tempos atuais ou os mais antigos?

O: Eu acho que aí é uma faca de dois gumes, porque na minha época não tinha essa mídia, essa facilidade de um celular gravar um gol. Hoje você está jogando no campinho, faz um gol de bicicleta e já sai mandando no WhatsApp, corre o mundo e naquele tempo não tinha o aplicativo e o jogador poderia fazer o que fosse fora de campo. O jogador pode fazer o que quiser, ninguém tem o direito de falar nada, aliás, o jogador de futebol é o único cara que não pode errar, é a única profissão que o cara tem que ser blindado de tudo, porque se ele errar, é porque não presta, é cachaceiro, baladeiro. Lógico, tem que cara que exagera, faz loucura, mas tem outros que saem para tomar uma cerveja, um vinho, ficar com a família, no entanto qualquer coisa que você faz, tem alguém com celular para te filmar, então isso acabou ajudando a difamar o jogador, que já não tem vida e tem que tomar todo o cuidado até para sair na sacada do prédio. A mídia é legal, só que há muitas pessoas maldosas que estragam esse bonito do futebol, onde há pouco tempo atrás, antes de um clássico, você podia zoar um parceiro e assim por diante. Aconteceu uma situação comigo que me chateou, quando eu tinha acabado de chegar no Palmeiras e estávamos jogando um coletivo com o Estevão Soares e tínhamos vencido o primeiro tempo por 1 a 0 e eu fiz o gol com passe do Correa e no segundo tempo, ele colocou o Claudecir no lugar do Correa e com dois passes dele, inclusive um de cabeça, porque ele tinha uma maior estatura, eu fiz os dois gols. Acabado o Coletivo, chegou um repórter em mim, perguntando se eu preferia jogar com o Correa ou com o Claudecir e eu comentei que eram dois jogadores com características diferentes, um que vai bem na bola parada (Correa) e outro na bola aérea (Claudecir). Eu fiz os dois gols, mas quem decide é o treinador. Porém, ele publicou que “Osmar prefere Claudecir ao Correa”, então isso é uma coisa maldosa, eu não falei nada disso, não tinha que exigir nada, ainda mais com os caras que são meus amigos, tanto que no outro dia, eu fui conversar com o Correa e ele disse que já sabia como funcionava, mas se eu pego um cara mais esquentado, ele poderia achar que eu estava querendo sabotar alguém. Então esse acaba sendo o problema da mídia.

 

 – Alguma mensagem para os leitores do mercadodofutebol.com?

O: Que esse site cada vez cresça mais, porque pode descobrir muitos jogadores, muitos talentos, outros veteranos, como eu, o “Osmar Cambalhota” que estou aí me preparando para uma nova oportunidade. Que esse site possa crescer e abrilhantar cada vez mais o nosso futebol. E agradeço aí a presença de todos, e continuar, trabalhar. Até a próxima e o Osmar está aqui. Um abraço!