| |

Longe dos patrocínios: Marta e a luta pela equidade

Marta, camisa 10 da Seleção Brasileira e maior artilheira da história das Copas do Mundo, manterá sua postura e seu posicionamento, na decisão de não representar patrocinadores dentro de campo. A atitude já havia sido tomada na Copa do Mundo de 2019. Entretanto, é necessário compreender que a atitude da Rainha vai além dos motivos financeiros.

Silencioso, mas com forte poder de reprodução e conscientização, o gesto, de acordo com Marta, se repetirá nas Olimpíadas de Tóquio. Na última Copa do Mundo, em 2019, após marcar o gol que deu à ela o posto de maior artilheira da história das Copas (entre homens e mulheres), Marta comemorou mostrando o símbolo de sua chuteira (sem patrocínio), que defende a equidade de gênero no esporte.

Foto: Reuters
A origem da decisão

Mas, antes de tratarmos das Olimpíadas de Tóquio, devemos contextualizar o posicionamento adotado pela atleta. Até julho de 2018, a Puma era responsável por patrocinar a Rainha, mas a aproximação do vencimento contratual, deu início à uma discordância entre as partes. Ao propor uma renovação, a marca ofereceu um contrato inferior ao que costumava pagar e teve o acordo negado.

”O que foi proposto foi bem abaixo do que eu recebia, bem menos, menos da metade. A gente achou por bem não renovar. Era muito abaixo do que se vê no futebol masculino. Resolvemos fazer isso então. Mais uma oportunidade de lutar pelos nossos direitos”, afirmou em entrevista ao Globoesporte.com.

Em entrevista ao Esporte Espetacular, em setembro do ano passado, Marta comentou novamente sobre o assunto.

“Eu continuo sem patrocínio. Antes mesmo da gente iniciar essa campanha (na Copa) a gente recebeu propostas, até de renovação, mas acho que a valorização tem que partir da gente. Eu me sinto no direito de me valorizar, por tudo que a gente foi conquistando ao longo do tempo seja dentro de campo ou fora dele também. Eu queria dar esse exemplo pra outras atletas e até outras atividades fora do esporte, para que a gente possa buscar por igualdade. Juntas”.

A luta pela equidade no esporte

Marta irá, portanto, disputar novamente uma competição de nível mundial sem patrocinadores e reiterou seu posicionamento. Na preparação das imagens de divulgação da Seleção Brasileira antes das Olimpíadas, a jogadora fez questão de ”esconder” o símbolo da fornecedora de material esportivo em suas fotos.

Foto: Divulgação/CBF

O entendimento acerca da postura, é simples. A jornalista Renata Mendonça, em suas redes sociais, se posicionou sobre o assunto de forma didática. ”(Marta) Não quer receber o mesmo que Messi ou Neymar, mas o justo por ser Marta”.

Marta luta por uma valorização digna de uma mulher seis vezes eleita a melhor jogadora do mundo pela Fifa e que defende o posto de maior goleadora das Copas. A justa exigência, trata da devida valorização à uma das (se não a maior) jogadoras da história do esporte, o que também irá refletir na construção de um cenário justo para o futebol feminino.

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

“Financeiramente eu não ganhei nada com isso, mas eu sinto que a mudança é nítida. Acho que não tem preço, e valeu a pena, tá valendo a pena. Como eu falei, a valorização, ela tem que partir da gente primeiro para que as pessoas entendam que você tem que receber. O ser humano, qualquer que seja, através do trabalho que ele tenha, através do que ele faz, e não do gênero”, concluiu.

Marta carrega um símbolo de equidade, não de igualdade. Não é sobre uma luta por tratamentos iguais, mas por tratamentos diferentes que busquem reparar o abismo causado pela desigualdade.