Episódio
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O brilho de um espetáculo apagado por um episódio de racismo

Após o episódio de injúria racial na última terça-feira (08), Paris Saint-Germain e Istanbul Basaksehir deram continuidade à partida nesta quarta-feira (09) pela última rodada da fase de grupos da UEFA Champions League.

O hat-trick de Neymar e o doblete de Mbappé que construíram a goleada parisiense foram apenas um detalhe na noite de Champions League, realizada no Parc de Prince. A atuação foi brilhante para os donos da casa, mas os reflexos da noite anterior estavam em Paris. Na ocasião, o quarto árbitro Sebastien Coltescu foi acusado de proferir insultos racistas à Pierre Webó, ex-jogador e membro da comissão técnica do Istambul. A autoridade de campo, teria se dirigido ao árbitro e dito ”retire esse negro”.

A situação gerou revolta, mas mesmo Sebastien não contrariando as acusações, foi questionado pelo atacante Demba Ba. ”Você nunca diz: ‘este cara branco’, você diz ‘este cara’. Então me ouça, por que quando você menciona um cara negro você diz ‘este cara negro?”. Adversários em campo, mas presentes nas causas sociais, Neymar e Mbappé, protagonistas da goleada, anteriormente se recusaram a jogar. ‘’Não vamos jogar com esse cara aqui’’, disse o brasileiro que foi complementado por Mbappé: ‘’Se esse cara não sair, nós não jogamos’’.

Diante do episódio, os jogadores do Istanbul decidiram, portanto, abandonar a partida e foram acompanhados pelos atletas do PSG. A UEFA tentou retomar o duelo, mas os jogadores se recusaram a entrar em campo.

A torcida do Paris Saint-Germain, mesmo sem público, marcou presença no estádio. Faixas de apoio à Webo e contra o racismo, foram colocadas nas arquibancadas. Além disso, bandeiras com o escudo das equipes seguidas de mensagens contra o racismo, também estavam presentes.

“Apoio a M. Webo… Orgulhosos dos jogadores… Contra o racismo.”
“Paris unido contra o racismo.”
Foto: C. Gavelle/PSG

Durante a execução do hino, os jogadores e a equipe de arbitragem se colocaram de joelhos e de punhos cerrados, como forma de protesto. Além disso, vale ressaltar que diante das acusações de racismo, a equipe de arbitragem foi completamente alterada para a sequência da partida.

Em meio aos diversos casos de impunidade, ao menos desta vez, podemos esperar punições justas que não relativizem o caso. Historicamente, nesses casos, as equipes tentam convencer a vítima de retomar normalmente a partida. Em alguns outros casos, jogadores vítimas de racismo foram expulsos de campo por reagirem aos insultos. Mas desta vez, o gesto conjunto de se retirar de campo, reforçou o discurso de que, casos como este, vindo de torcedores, jogadores, ou de forma mais grave, envolvendo autoridades de campo, não são tolerados.

Foto: C. Gavelle/PSG

Conforme divulgado, o Conselho Anti-Discriminação Romeno afirmou que “é racismo sem possibilidade de interpretação. Ele poderia ter identificado o jogador por tantos outros detalhes e ignorar sua cor”. Fora de campo, a instituição que carrega os dizeres ”No to Racism” e ”Respect” em suas campanhas, deve punir com seriedade o personagem principal do episódio, que é considerado uma autoridade dentro de campo. Para isso, deverá ir além das singelas e corriqueiras multas e retratações, que normalmente são aplicadas.

Diante das câmeras, não é segredo que a UEFA se posicione diante dos casos e promova campanhas. Mas, a impressão que fica, é que por trás delas, onde os olhos do público e o dinheiro dos patrocinadores não chegam, não há a mínima coerência em relação à estes casos. Uma autoridade ter uma atitude tão baixa e desprezível é, no mínimo, por falta de orientação e acompanhamento de seus superiores, além de diversas outras questões sociais.

Espera-se que a justiça seja feita e que as devidas punições sejam aplicadas, o que parece algo distante, considerando as diversas vezes em que federações não levaram processos adiante. Fato é que um passo enorme foi dado na luta contra o racismo no futebol. No episódio deste dia 8 de dezembro de 2020, o futebol venceu o racismo. Se há injúria, não há espetáculo. E lutando juntos, não há quem nos convença do contrário.

Foto de capa: J. Scussel/PSG