Faltando pouco mais de um mês para o ano de 2019 acabar, os casos de preconceito associados à cor de pele dos jogadores chegaram a 44, mesmo número de 2018. Em 2017, a contagem teve apenas uma unidade a menos: 43.
Histórico do Brasil
Com passado colonial, o Brasil segue, infelizmente, sendo um dos países mais racistas do mundo. Não somente aqui, mas na Ucrânia também é possível ver casos desse tipo de preconceito (visto o acontecido com Taison, do Shaktar Donetsk). Outros países do leste europeu, muitas vezes, também têm preconceito com brasileiros, como a Rússia (dado o caso de Malcom, atacante do Zenit).
Tendo em vista toda essa dimensão a qual o racismo tomou, desde a época das grandes navegações, era pouco provável que ele não continuasse no país nos dias atuais, devido à escravidão e seu enorme período de duração, desleixo com os que conseguiram sair da escravatura e, principalmente, em função da tardia data de abolição da mesma (1888). Negros continuaram sendo tratados como escravos e, mesmo com certa diminuição, a antipatia persiste até hoje.
Além disso, é perceptível a falta de espaço do negro dentro da sociedade; seja no jornalismo, nas séries e canais televisivos, empresas e, inclusive, no futebol (no Brasil, há preconceito com jogadores desde o início do esporte). Eventos que, felizmente, tornaram-se mais fáceis de serem informados às pessoas, principalmente em função da mídia e da internet. Dessa forma, atualmente, muitos casos são registrados, deixando parte da população consciente e atualizada acerca do assunto. Mesmo assim, a aversão continua presente em grande parte dos indivíduos.
Fiscalização dos acontecimentos
Um dos principais órgãos que monitoram os casos de preconceito racial é o Observatório Racismo, a fonte de dados desta matéria. Ademais, o projeto também promove diversas atividades a fim de acabar com o preconceito racial. Uma delas, a qual envolveu os únicos treinadores negros da Série A, Marcão e Roger Machado, ocorreu no dia 12 de outubro, no Maracanã. Nesse dia, Fluminense (2) e Bahia (0) duelaram com ambos os treinadores vestindo camisas que continham a mesma frase: “chega de preconceito”.
“Vivemos um preconceito estrutural”
Depois do jogo, o técnico do Esquadrão de Aço ainda fez declarações sobre a campanha contra o racismo, confira:
“Com relação à campanha, não deveria chamar atenção ter dois treinadores negros na área técnica, depois de ser protagonistas dentro do campo. Essa é a prova que existe o preconceito, porque é algo que chama atenção. A medida que a gente tenha mais de 50% da população negra e a proporcionalidade não é igual. A gente tem que refletir e se questionar. Se não há preconceito no Brasil, por que os negros têm o nível de escolaridade menor que o dos brancos? Por qual motivo a população carcerária, 70% dela é negra? Quem morre são os jovens negros no Brasil? Por que os menores salários, entre negros e brancos, são para os negros? Entre as mulheres negras e brancas, são para as negras? Há diversos tipos de preconceito. Para mim, nós vivemos um preconceito estrutural, institucionalizado”, disse Roger Machado.
Marcão e Roger são os únicos treinadores negros no Brasileirão. (Thiago Ribeiro/AGIF)
Além de ações como esta, o Observatório de Discriminação Racial no Futebol também disponibiliza números, estatísticas e relatórios acerca do prejuízo rácico dentro do futebol. Também já fez campanhas com sua logomarca estampada em diversas camisas de times brasileiros, como Bahia, Vasco, Grêmio, Internacional e Santos. O projeto foi criado há cinco anos, por Marcelo Carvalho, logo depois de sucessivos casos de racismo com Tinga, Márcio Chagas e Arouca. Após não encontrar dados sobre incidentes preconceituosos e suas resoluções, o O.D.R.F foi criado com o objetivo de monitorar e denunciar os casos discriminatórios dentro do futebol brasileiro. Para dar continuidade à causa, o Observatório ainda conta com camisas e bonés à venda, ambos disponíveis em seu perfil de rede social e site.
(Observatório Racismo)
Episódio envolvendo o atacante Taison
Desde a primeira contagem no Brasil, feita em 2014, os casos ocorridos dentro do esporte obtiveram aumento de cerca de 120% em relação a 2019. Foram 20 contra 44 (e contando). Neste ano, treze brasileiros sofreram racismo atuando no futebol estrangeiro. Um dos casos mais recentes e que chamou bastante atenção foi o de Taison e Dentinho, jogadores do Shaktar Donetsk-UCR. No dia dez de novembro, durante o clássico contra o Dínamo de Kiev, Taison cometeu uma falta em um jogador adversário e recebeu insultos referentes a sua cor de pele. Depois, ele se dirigiu à torcida do Dínamo, visitante naquela ocasião, mostrou seu dedo do meio e chutou a bola em sua direção. O juiz ainda mostrou o cartão vermelho ao jogador, que chorou durante a sua saída do campo.
Recentemente, a Associação Ucraniana de Futebol puniu Taison com um jogo de suspensão e o Dínamo de Kiev; o clube terá de jogar uma partida com portões fechados e pagar uma multa de 500 mil Grívnia (cerca de 87 mil reais). Após o ocorrido, o esportista publicou um texto em suas redes sociais:
Infelizmente, acontecimentos desse gênero não são raros. Segundo o Observatório, citado anteriormente nesse texto, de 2014 a 2018, ocorreram 167 casos de racismo dentro do futebol nacional. Outrossim, em 2019, foram registrados 45 casos, a maior taxa entre todas que foram calculadas. Confira todos os números:
Infelizmente, são dados alarmantes, os quais nem deveriam existir. Mas eles existem e são constantemente relatados por todo o mundo. Chegou a hora de finalizar algo que não deveria ter tido início. As medidas, tomadas por clubes, associações e governos, precisam ser cada vez mais rigorosas. As pessoas precisam entender que o racismo não pode ter espaço dentro da sociedade e, como o futebol é o reflexo da mesma, cada vez mais atletas são prejudicados. As ideias preconceituosas são inaceitáveis, porém muitos as aceitam (ignoram) hoje em dia. Isso deve acabar. Pois como disse Angela Davis, filósofa e uma das principais figuras do movimento negro, “Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”.