Flamengo x Botafogo

Análise: o jogo de xadrez entre Flamengo e Botafogo no Maracanã

O futebol muitas vezes pode ser encarado como uma luta de boxe, ou até mesmo como um grande duelo tático de xadrez. Neste domingo (23), no Maracanã, Flamengo e Botafogo protagonizaram um embate com propostas totalmente distintas durante o empate de 1 a 1.

Por um lado, o amor de Domènec Torrent pela bola que corre em suas veias. Por outro, a busca incessante pela eficiência e precisão de Paulo Autuori. O Flamengo é como um leão cercando seu adversário até dar o bote. O Botafogo é uma cobra traiçoeira que tenta atacar quando o rival está desprevenido.

O treinador catalão optou por entrar em campo com Pedro Rocha preenchendo a ponta esquerda e Gabigol caindo pela direita. Bruno Henrique esteve no comando de ataque buscando espaços, enquanto o meio-campo foi formado por Wilian Arão na contenção e Diego e Everton Ribeiro armando.

O Flamengo teve 70% de posse de bola e oito finalizações no primeiro tempo. As jogadas ficaram muito focadas pelo lado esquerdo, onde Pedro Rocha conseguiu produzir algumas situações. Gabigol, apesar de ser um centroavante móvel, não foi produtivo do lado direito e ficou longe de onde realmente causa problemas ao adversário, que é perto do gol. Não foi fácil para o Rubro-Negro quebrar as linhas do alvinegro e a melhor chance foi em um cabeceio firme de Bruno Henrique.

Já o Botafogo impôs sua proposta de jogo de uma forma quase fatal. Assim como contra o Atlético-MG, as transições rápidas explorando os espaços do adversário foi a tônica da equipe comandada por Autuori. Com linhas bem encaixadas e compactas na defesa, o alvinegro criou chances nos contra-ataques e ficou perto de abrir o placar, mas Luis Henrique isolou a bola com o gol livre. Houve outros lances de perigo nas costas da defesa do Flamengo, porém sem sucesso.

Na segunda etapa, o Flamengo encontrou extremas dificuldades de se impor contra as linhas do Botafogo, que neutralizou muito bem qualquer tentativa do Rubro-Negro. Os jogadores do Fla trocaram de posição e se movimentaram, mas não tiverm dinamismo e agressividade para furar o sistema adversário. Isso aconteceu também contra o Grêmio.

Com pouca verticalidade, o individualismo desapareceu completamente. O meio-campo apático, posse de bola nula e um ataque estéril do Flamengo fizeram do segundo tempo uma partida fraca tecnicamente, já que o Botafogo também não se importou em agredir. O primeiro tempo foi como um jogo de xadrez, o segundo uma roda de bobinho sem objetividade.

Em jogos assim, a bola parada ou o imponderável do futebol são as únicas alternativas. Apenas nos acréscimos, Pedro Raúl aproveitou um lance de escanteio para finalizar com precisão, e ainda deu tempo para o Flamengo, assim como contra o Grêmio, achar um pênalti para empatar a partida, novamente com Gabigol.

— Botafogo F.R. (@Botafogo) August 23, 2020

O empate ficou com um gosto amargo para o Botafogo, pois a vitória esteve muito perto. Porém, é animador o fato de Autuori conseguir competir com os gigantes com seu estilo defensivo e com transições rápidas, apesar do segundo tempo ruim. O problema não é jogar de forma retroativa. O problema é não ter ideias e propostas de jogo. Contra Atlético-MG e Flamengo, dois dos favoritos, a proposta foi clara e funcionou por diversos momentos das partidas.

Pelo lado do Flamengo fica o sentimento de não saber como será o futuro. Em um time recheado de craques, reina a falta de criatividade e dinamismo.