Com tanto acúmulo de fracassos, o Fluminense precisa respirar

Faz seis anos que o Fluminense não conquista uma taça. Sim, seis anos. Seria muita cara de pau do redator considerar a Primeira Liga de 2016  — um torneio irrelevante, ademais de ser extinto atualmente. Porém, não ser campeão há um tempo considerável não é o único problema do Tricolor, talvez um dos menores em meio a tudo que passa o clube.

Há temporadas e temporadas, o Flu vem sendo humilhado dentro de campo e fora dele também. Viradas melancólicas sofridas dos rivais em jogos decisivos, rebaixamento no campo (salvo pela escalação de André Santos e Héverton), abandono da torcida, vendas de jóias por preços irrisórios, caos financeiro, calote de fornecedor de material e outras aberrações que compõem a lista de absurdos que pautam o atual Fluminense, ou melhor, o Fluminense do grupo flusocio.

O cenário é devastador. No ano de 2018, o escasso elenco fez o torcedor tricolor sofrer e também sofreu. Os jogadores literalmente trabalharam de graça durante meses. O senhor Abad e sua trupe não conseguiu se quer honrar com o compromisso de pagar os seus funcionários. Uma balbúrdia interna. O caos foi tamanho que até uma possível renúncia ao cargo de presidente foi cogitada recentemente. E pensar que nas vésperas da última eleição presidencial o atual presidente do Flu prometeu até projeto de estádio ao torcedor. É nitidamente um charlatão, tal como seu antecessor Peter Siemesen, que discursava com bravura uma ideia de austeridade financeira e deixou a instituição em uma situação tenebrosa. 

Mas se internamente o desgoverno é explícito, dentro do campo é igual ou até pior. Desde 2012, o Fluminense sofreu riscos sérios de jogar a B em quatro ocasiões (2013, 2015, 2017 e 2018). Uma frequência de time pequeno, que a quase todo ano luta com a corda no pescoço. 

Dentro de campo nessa temporada, a coisa ficou feia. Desempenho ruim no Campeonato Carioca, eliminação humilhante na Sul-Americana (mais uma, porque em 2017 foi até pior), números péssimos em clássicos e risco sério de descenso. O Fluminense só não vai jogar a série B no próximo ano, porque havia adversários ainda piores e conseguiu vencer o América-MG, no Maracanã, só Deus sabe como. Com direito à festival de chances perdidas pelos jogadores do Coelho, inclusive pênalti. Naquele cotejo, Richard marcou de cabeça e deu fim a uma seca de oito jogos do time sem marcar.

É possível enxergar uma luz no fim do túnel?

Com tantos problemas de gestão financeira e futebolística, o que o Fluminense precisa fazer para tentar ao menos enxergar uma luz no fim do túnel? Criatividade. O clube não tem capital para grandes investimentos. Não há como atrair o torcedor com uma grande contratação, por exemplo. Portanto, sair da mesmice é necessário. A diretoria precisa pensar fora da caixola para tentar consertar, na verdade, apaziguar as barbaridades que cometeu e comete.

Para isso, buscar um treinador decente é o primeiro passo para a melhoria do futebol do clube, que desencadearia automaticamente no crescimento econômico. Um DT com a mínima capacidade de fazer o Fluminense ser competitivo é vital, já que desde 2015 isso não acontece. 

Não vou chegar ao trabalho de escolher nomes para o comando, aliás esse dever não é meu, mas quem o fizer, que faça de forma muito bem arquitetada. Quando essa peça fundamental for escolhida, o manager, aí sim o início da montagem do elenco deve começar para ser compatível à visão de futebol do comandante. 

Na composição do elenco, a criatividade é ainda mais importante. Hoje, por motivos já citados, são poucos os jogadores que têm um bom mercado que querem atuar no Flu. Logo, garimpar no polo Sul-Americano e do interior do país, por exemplo, é uma solução.

Com um nome que saiba trabalhar com pouco material humano no comando do time e contratações pontuais baseadas na criatividade, o Tricolor pode ao menos conseguir atrair o seu torcedor à arquibancada, ter a mínima esperança de brigar por alguma coisa, até mesmo uma vaga na Libertadores, pré-Libertadores que seja, para aí sim começar a aumentar a receita e encaminhar um processo de retomada de grandeza no cenário futebolístico nacional.

O Fluminense precisa reinventar-se. O Fluminense clama por uma temporada minimamente decente. O Fluminense precisa respirar, porque uma década de 90 se aproxima. E a história tão colossal desse clube não merece mais anos de desgraças.