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Uma monumental noite para um Messi feliz

O 10 jogou em estado de graça para os 17 mil argentinos presentes no Monumental contra a Bolívia pelas Eliminatórias

O ano de 2021 foi uma total loucura para Lionel Messi. Também foi nesta temporada que ele se mostrou mais argentino e mais feliz do que nunca. Se a contagem faz parte de sua carreira nos gols, nas assistências e títulos, agora ele tem mais feitos. La Pulga é o maior artilheiro em seleções sul-americanas. Na histórica noite de reencontro com o povo argentino no estádio, Leo fez três, comemorou e sorriu até em anulação de gol.

Toda a alegria de quem não precisava provar nada a mais ninguém e teve a grandiosidade para não desistir de tirar o jejum de títulos argentino. Da Copa América de 1993 até o Maracanazo de 2021 são 28 anos. Desses, Messi esteve em 16. Uma geração inteira de jogadores e torcedores viveram os maiores dramas possíveis para uma seleção gigante. Foi sofrimento para ir a Copa do Mundo e outros tantos vices.

Acima de tudo, a seleção de Messi carrega a redenção como palavra. Como o seu vizinho de margem do Rio da Prata, o Uruguai, o renascimento veio com uma conquista de continente no primeiro ano da nova década. Em 2011, os comandados do Maestro Óscar Tabaréz deram a volta olímpica no Monumental. Em 2021, os de Lionel Scaloni levaram um pouco de Buenos Aires ao Rio de Janeiro.

E a remontada para a Albiceleste não foi somente com o 10. Ele é só o ponto mais alto de todo um time e ex-companheiros que agonizavam juntos. É como se Messi fosse a ponta do para-raio sendo o mais atingido e cobrado. Só que a estrutura sofre também. Um dos exemplos é o de Ángel Fideo Di María. Não faltaram jornalistas e torcedores para desprezar o rosarino. No fim das contas, a cobertura sobre o Éderson na final contra o Brasil foi dele.

Voltando ao Messi. É de um enorme prazer ser contemporâneo ao postulante a melhor da história. Sem romantizar os erros, mas até com ele falhando abrimos um sorriso. Bom, quer dizer, eu abri um sorriso. Nesse 9 de setembro, a noite foi toda dele. Não poderia ser diferente, a chuva de críticas caia sobre ele. Por sorte, aos 34 anos, com a camisa 10 e a faixa de capitão, ele teve a honra de ser ovacionado por uma conquista no Monumental.

Monumental também foi o seu jogo. Normalmente, Messi é mais coletivo, em especial quando joga na Argentina. Contra a Bolívia não, dava para sentir a vontade dele em querer marcar o gol. Várias vezes partiu sozinho, se posicionou esperando rebote e se fez como protagonista.

O primeiro gol foi de uma facilidade que só La Pulga nos proporciona. Dominou na entrada da área, de uma caneta e bateu no canto do goleiro. Um golaço. O segundo foi tabelando com Lautaro Martínez e marcando no rebote da zaga.

No meio desse tempo, a Argentina teve várias chances de marcar gols com outros jogadores. Só que até o vento de Núñez queria uma noite só do 10. A bola, o brinquedo que o homem-cachorro como bem definiu o escritor Hernán Casciari no texto Messi es un perro, queria sempre abraçar o baixinho. O terceiro tento já nos minutos finais foi bem isso. Depois de uma confusão, rebote, chute, ela encontrou o pé esquerdo de quem a tratou tão bem na vida. Vale ressaltar que antes, ele até fez um gol estando em impedimento e sorriu após a anulação. Estava em êxtase, feliz, vibrante, intenso, estava argentino.

A noite foi completa: quebra de recorde de Pelé em número de gols por seleções sul-americanas, três gols, retorno dos argentinos ao estádio e nova festa do título conquistado em solo rival. Futebol não é merecimento. Porém, convenhamos que Leo merecia e muito uma jornada assim. Nas próprias palavras do craque: “eu esperei muito tempo por isso. Eu busquei e sonhei. Este momento é único”.

Parafraseando Victor Hugo Morales, autor da mais espetacular narração do gol do século de Diego Maradona em 1986 contra os ingleses, Gracias, Dios, por el fútbol y por Messi.