|

Entrevista com Emily Lima, treinadora das Sereias da Vila.

A treinadora Emily Lima, atualmente no Santos Futebol Clube, concedeu entrevista ao site Mercado do Futebol

 

 

1- Emily, começou sua carreira no futebol com 13 anos, no SAAD, como foi a decisão de ser jogadora e como surgiu a ideia de seguir na modalidade sendo treinadora?

R: Comecei minha carreira no futebol eu acho que devido a família mesmo, a família por parte de pai, eu tinha muitos primos homens e tinha somente uma menina. A gente ia para o sítio dos meus avós e lá era futebol o dia todo, isso com seis, sete anos, até os meus 12,13 anos, foi quando surgiu a oportunidade de fazer uma peneira no SAAD. Acho que a decisão é desde sempre, foi assim que eu iniciei no futebol, a ideia de seguir na modalidade é porque eu fiz isso a vida toda, eu saí de casa com 13 anos e aos 29 eu me aposento, devido as muitas lesões que eu tive no joelho, e aí fazer o que? Trabalhar com futebol, porque é o que eu amo. Essa foi a decisão, claro que não era ser treinadora e sim estar na gestão do futebol feminino ou no futebol em geral, mais do feminino porque eu acredito que precisa de pessoas que já trabalharam, que já sentiram na pele a dificuldade da modalidade para poder ajudar, então minha ideia era ajudar a modalidade com as dificuldades que nós enfrentamos. Meu irmão via algo em mim com perfil de treinadora, com leitura de jogo e foi aonde eu encaminhei para me aprofundar mais nos estudos e seguir como treinadora.

 

 

2- Vestiu camisas não só de clubes Brasileiros e Europeus como também defendeu a Seleção Portuguesa, jogar pela Seleção de Portugal foi um planejamento ou foi uma decisão de acordo com o momento na carreira?

R: Minha decisão de servir a Seleção Portuguesa foram alguns fatores. O meu sonho sempre foi vestir a camisa da Seleção Brasileira, acho que de todas as jogadoras brasileiras deve ser o sonho. Eu servi a seleção sub-17, quando teve a primeira convocação sub-17, um jogo amistoso que teve da Seleção principal contra a Holanda, na Holanda e um jogo amistoso contra a Holanda também só que sub-17. Então eu tive esse prazer de servir a seleção brasileira e claro que eu queria dar sequencia na minha carreira com a seleção brasileira principal, na época não tinha categoria de base, foi pontualmente uma seleção que fizeram por conta do convite que a Holanda tinha feito na época e depois não teve mais seleção sub-17 nem sub-20 por alguns anos, quando eu fui chamada novamente foi para uma fase de treinamento, em 2004 com o professor Renê Simões e aí eu fiquei uma semana em avaliação e treinamento e fui cortada, desde então eu via que era um caminho um pouco complicado e por ter o meu pai português eu tinha essa vontade de servir a seleção portuguesa, por conta do meu pai, já não tinha mais meu pai, perdi meu pai em 2002 e isso aconteceu em 2004. Desde então fui tirar minha cidadania portuguesa, em 2006 estava tudo certo e em 2007 eu fui pela primeira vez convocada pela seleção portuguesa. Foram esses fatores que fizeram com que eu servisse a seleção portuguesa, com muito orgulho, aprendi muita coisa e acho que só acrescentou na minha carreira.

 

 

3- Como foi a sua adaptação no futebol Europeu? Acredita que sua experiência na Europa contribua para a sua carreira como treinadora?

R: A minha adaptação foi muito rápida, simples. Eu sou uma pessoa que não tenho problemas em me adaptar, ou com clima ou com a cultura, o ambiente. Como eu disse, eu saí aos 13 da casa dos meus pais e nessa época passava por muitas dificuldades, de um clube para outro tinha uma dificuldade e uma diferença tremenda, acho que isso me preparou bastante para quando eu fui jogar na Europa, tinha 22 anos e era o que eu queria, então eu não encontrava dificuldades, encontrava solução para os problemas. Em relação a contribuir, contribuiu muito a experiência que eu tive na Europa, tanto para a carreira como atleta quando para a carreira como treinadora. A Europa contribui em qualquer aspecto e isso só acrescentou na minha carreira, com certeza.

 

Foto: Santos FC.

 

4- Desde que começou a sua trajetória no futebol feminino, já chegou a sofrer preconceitos ou pensou em desistir do esporte? Você acha que ainda há um caminho a ser percorrido para que o país do futebol aprecie o futebol feminino diariamente?

R: Então, eu nunca sofri preconceito, claro que a gente escuta uma bobagem ou outra, mas nunca fui uma vítima de preconceito. Eu acho que em toda a minha carreira, esses 20 e poucos anos, o que eu mais senti em relação a preconceito e algo de muito mau-caratismo, foi a demissão da Seleção, hoje eu acho que já estava muito programado a minha chegada, porque as declarações são de que a CBF estava exigindo uma mulher, não foi por capacidade, pelo que eu entendo hoje e a demissão já estava bastante organizada, devido a programação da obrigação da FIFA, vamos dizer assim, e daí se não desse certo os resultados, demitia e provaria pra FIFA que no Brasil não tem mulheres capacitadas, então assim, isso pra mim foi muito mau-caratismo, posso dizer que foi preconceito da parte dos homens que dirigem, que tem os cargos maiores na CBF, acho que esse foi um pior momento de preconceito, mas que não me afetou em momento nenhum, continuei trabalhando, sei da minha capacidade, tenho que aprender muita coisa sim e abriram outras portas, como o Santos Futebol Clube que é referencia no Brasil e onde hoje eu estou trabalhando, então acho que foi isso, um momento ruim de preconceito na minha carreira. O caminho é longo sim, mas por conta dessas pessoas, não por conta da modalidade, mas sim por conta dessas pessoas machistas que ainda trabalham no futebol feminino e temos no nosso país muitos homens machistas, acho que isso atrapalha a modalidade e as mulheres no nosso país.

 

 

5- Como você ficou após ver a decisão de algumas jogadoras se desligarem da Seleção após sua saída da comissão técnica?

R: Após a minha demissão a atitude das atletas acredito que não foi pela minha demissão, não foi por eu ser demitida, pela minha saída, acho que a decisão delas foi pela falta de apoio deles, pela falta de ouvir as atletas, mais uma vez ela pediram algo e os caras viraram as costas. Teve o retorno da Formiga, o retorno na Cris, acho que estão certas, tem que fazer o que acha melhor para o momento, pra elas, pra Seleção Brasileira que está acima de qualquer pessoa lá dentro, acho que representar o nosso país está acima de qualquer pessoa, acho que cada um tem sua escolha, elas fizeram o que acharam melhor para o momento. Falando em mudanças, não sei se estão acontecendo mudanças, pode estar acontecendo mudanças pra elas, mas não pra modalidade e isso que é triste, poxa melhoraram colocaram uma mulher lá, melhoraram a diária, melhoraram o direito de imagem, mas e o que isso tá acrescentando pra modalidade no país? Nada, tá acrescentando naquele momento. Eu me pergunto como é que está a categoria de base? Melhoraram a diária delas? Os profissionais que estão lá trabalhando foram registrados? Então assim, é muito pouco, e nós brasileiras.