Há mais de 15 anos atrás, no dia 26 de Novembro, acontecia um dos jogos mais emocionantes e atípicos já visto na história do futebol brasileiro.
A partida entre Grêmio x Náutico, daria ao vencedor acesso à Série A do Campeonato Brasileiro de 2006, mas para o time tricolor o empate já bastava .
No estádio dos Aflitos em Recife, o time comandado por Mano Menezes sofria com a hostilidade do adversário e sua torcida. O forte odor de paredes recém pintadas, o incessante som da sirene ligada e a falta de um acesso para entrar em campo, fazia com que o time gaúcho perdesse a tranquilidade.
O apito do juiz deu início a uma partida épica.
A tensão percorria cada passo dos jogadores de ambas as equipes, mas quem tomava maior pressão era o Grêmio, que chegou a tremer com um pênalti desperdiçado pelos pernambucanos ainda no primeiro tempo.
No segundo tempo, o Grêmio só precisava segurar o Náutico para enfim, ter acesso à série A, mas na prática isso não era nada fácil. O adversário seguia pressionando e criando oportunidades de balançar a rede.
O time, que jogava de branco e vermelho, mantinha vários atacantes em campo, enquanto o Grêmio teve a primeira expulsão quando Escalone, que já tinha um cartão amarelo, cortou um passe com o braço.
Aos 35 minutos de jogo, depois de uma finalização na área gremista, o árbitro sinalizou toque de mão do volante Nunes, marcando outro pênalti para o Náutico.
Pronto. Os jogadores gremistas, revoltados, foram pra cima do árbitro reclamando de todas as maneiras possíveis a marcação da penalidade máxima.
No meio da confusão, que durou cerca de 20 minutos, o Grêmio teve mais um expulso: Patrício que foi peitar o juiz logo após a sinalização de pênalti. Só que os cartões vermelhos não pararam por aí.
O árbitro Djalma foi derrubado e ao se levantar apontou o cartão vermelho para o volante Nunes.
A polícia militar teve que entrar em campo para acalmar os ânimos de todos os jogadores e quando a situação parecia ter se acalmado, Beltrami tentou posicionar a bola para cobrar o pênalti, mas o goleiro Domingos tentou retardar a cobrança e também teve que ir para o chuveiro mais cedo.
Em resumo, o Grêmio ficou com seis jogadores mais Galatto. O goleiro Galatto que faria história logo em seguida.
A imortalidade também entrou em campo…
O jogador do Náutico posicionou a bola e Galatto observava concentrado todos os movimentos. Milhares de torcedores gremistas apreensivos, rezavam para todos os santos. Ademar cobrou o pênalti e Galatto defendeu.
De forma surreal, o goleiro saiu da reserva e chamou a responsabilidade para si, defendendo com maestria não só a bola, mas também as três cores do imortal.
A torcida já vibrava, mas o jogo não tinha acabado. Da cobrança de pênalti, até a consagração da vitória do tricolor, só foi preciso 71 segundos. 71 segundos para a estrela de Anderson, de 17 anos, brilhar.
Aos 63 minutos do segundo tempo, o Grêmio escrevera mais uma história inacreditável. Com sete homens em campo, abriu o placar e garantiu o acesso à série A.
Milhares de torcedores do imortal vibravam, de dentro do estádio, de dentro de suas casas, em bares, na rua, ouvindo no rádio. Milhares de amantes do futebol viram algo que nunca aconteceu antes e nem acontecerá duas vezes.
Quatro jogadores expulsos e dois pênaltis marcados contra o Grêmio, em um jogo que era tudo ou nada. Voltar a jogar a série A ou jogar mais um ano a série B.
O título não importava. O que importou foi o retorno do imortal tricolor para a série A. Importou a sobrevivência do Grêmio. Importou a raça e o peso da camisa que entraram em campo e fizeram o inimaginável.
Mais uma história foi escrita com requintes de imortalidade.