Entrevista com Cléber Xavier, o fiel escudeiro de Tite

Conversamos com Cléber Xavier sobre diversos assuntos como sua relação com Tite, o momento atual do Corinthians e muito mais

Cléber Xavier é exatamente a melhor definição que podemos dar de fiel escudeiro. Parceiro de Tite há 16 temporadas, ele tem muita história para contar, de grandes momentos como o título da Copa do Brasil com o Grêmio em 2001, a montagem do elenco do São Caetano em 2003, o sucesso no Internacional e, claro, toda glória alcançada no Corinthians. Clebinho, como é chamado, conta também qual é a sua função e como funciona o método de trabalho no dia a dia Corinthiano. No final ele manda um recado ao bando de loucos, vale a pena conferir:

1- MF: Cléber Xavier, você poderia contar um pouco de sua história até iniciar a brilhante parceria com o Tite no Grêmio em 2001?

CX: Em 1988 eu entrei para Educação Física para buscar ser treinador e ao mesmo tempo eu entrei no Inter, nas categorias de base, como Estagiário, fiquei de 88 até 95 no Inter, fazendo todas as funções na base começando como preparador físico, auxiliar técnico, técnico e coordenador das categorias de base. Depois eu sai e fui para o Bragantino, fiquei 1 ano como treinador do time juvenil e o Grêmio me buscou para ser treinador do time infantil. Fiquei no Grêmio de 1996 até 2001 como treinador do infantil, depois fui para o juvenil, depois júnior, ai o Tite chegou, presidente me colocou como auxiliar dele, passando para o Tite que não teria necessidade dele trazer um auxiliar dele, a gente era muito novo na época, tinha jogadores mais velhos que a gente tipo Mauro Galvão e a gente assumiu junto e estamos com a parceria até hoje, são 16 temporadas juntos.

2- MF: Falando do início dessa parceria, logo de cara vocês levaram a Copa do Brasil contra o Corinthians em pleno Morumbi lotado. Como foi para vocês, então jovens e iniciantes, conquistar este título? Tem alguma história a mais para contar, como por exemplo, o caso de espionagem no Parque São Jorge?

CX: Começamos a montar a equipe campeã da Copa do Brasil e campeã Gaúcha em 2001 em um desenho tático que o Tite usava no Caxias que era o 4-4-2, com 2 atacantes e um losango no meio de campo. Essa ideia não estava dando muito, fomos ameaçados de demissão após perdermos alguns jogos e conseguimos definir a equipe com a chegadas de alguns jogadores como Mauro Galvão, características do Rubens Cardoso, num 3-6-1 e a equipe começou a desenvolver um futebol de muita qualidade, foi uma das melhores equipe que já treinamos. Então da demissão a gente passou as conquistas que foram o Campeonato Gaúcho e a Copa do Brasil, com a chegada do Marcelinho Paraíba que jogou muito com a gente o time cresce muito na questão ofensiva, era ele sendo o sexto do meio campo e o um da frente a gente sempre mudava, foi o Rodrigo Mendes, foi o Renato Martins, o Warley, sempre mudava esse jogador. Então a história mais interessante é essa, a gente perdeu o primeiro jogo da Copa do Brasil em Nova Lima pro Vila Nova, mas classificamos em casa, depois perdemos para o Santa Cruz no Recife e vencemos em casa, e a partir daí não perdemos mais, eliminados os grandes Fluminense, São Paulo, Coritiba e depois a final da forma que foi contra o Corinthians. Primeiro jogo empate em casa por 2 x 2, nós tínhamos que vencer o Corinthians no Morumbi lotado com a grande equipe e conseguimos vencer jogando bem. O time que montamos no 3-6-1 do Grêmio foi um dos melhores times que a gente já dirigiu.

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3- MF: O torcedor que acompanha o dia a dia não tem um total conhecimento da sua função exata. Qual o seu papel no dia a dia, quais são suas responsabilidades nos treinamentos e nos jogos?

CX: Sou auxiliar direto do Tite, completando 16 temporadas juntos, ele tem sempre o auxiliar do clube, no caso aqui do Corinthians são 3 auxiliares, o Carille, o Fernando que também é o cara da tecnologia e o Mateus que é o filho dele que chegou agora. Como auxiliar direto a minha função é junto com ele decidir os treinamentos, comandar os treinamentos, organizar toda parte da relação entre o grupo de apoio, departamento médico, fisioterapia, fisiologia, CIFUT, eu organizado todas essas funções, na realidade eu sou o cara que trabalha diretamente na definição da equipe, na questão tática, eu organizo tudo em torno, braço direito e os dois olhos além dos dois dele para que possamos enxergar as coisas, acontecer, a gente tem a forma da liderança que é uma liderança do convencimento, uma forma de fazer com que o grupo trabalhe numa questão de qualidade de ambiente, a nossa gestão é muito forte, gestão de pessoas não só de atletas mas de todas as pessoas de dentro do centro de treinamento, e também a nossa metodologia que foi uma metodologia desenvolvida por nós, estudando sempre, aprendendo sempre e desenvolvendo a própria metodologia dentro do conceito que é o conceito da posse, da valorização da bola, da triangulação, das ultrapassagens, de um time equilibrado, que defende forte, com marcação agressiva, com as linhas posicionadas em zona e ataca com posse. Ajudo ele a colocar em prática essas ideias.

4- MF: Durante esses 15 anos de parceria com o Tite, teve algum trabalho marcante, alguma equipe que julga ser a melhor de todas já que trabalhou? Para o lado negativo, teve algum trabalho em que o vestiário era conturbado?

CX: Cada trabalho tem a sua característica própria, cada equipe, a montagem da equipe, as vezes a gente fica 2 anos e meio como ficou no Grêmio e tem que montar a equipe 6 vezes, ou 1 ano e meio quase 2 como ficamos no Inter e tem que montar 3 vezes ou aqui no Corinthians que tem que montar, remontar, que é a cultura do nosso futebol, várias equipes marcaram muito, principalmente as que ganham né, o Grêmio de 2001 no sistema 3-6-1, todo mundo diz que é 3-5-2, mas era 3-6-1, Marcelinho Paraíba era um meia encostado no último atacante, vinha buscar e organizar o jogo, foi uma equipe muito forte nas transições, na qualidade, na versatilidade de alguns jogadores, tem uma equipe que não ganhou mas que fez um baita de um trabalho que foi a equipe do São Caetano de 2003, que foi uma grande equipe que montamos, que tinha um jogo consistente, uma marcação forte de qualidade, lá sim era 3-5-2, então não tem assim uma equipe que a gente defina. Essa questão de vestiário conturbado é meio complicado, na maioria das vezes com a maneira que a gente gere o grupo ele não é conturbado, é um vestiário tranquilo, a questão é as vezes que tu não consegue montar uma equipe e tirar daquela equipe o seu máximo, a maior dificuldade que tivemos foi no Atlético-MG em 2005 que a gente não conseguiu de maneira nenhuma formar uma equipe competitiva e acabou a equipe caindo e depois a gente saiu de lá a equipe estava na zona de rebaixamento, os outros treinadores também não conseguiram tirar, mas não por perturbação de vestiário, as vezes acontece um incidente ou outro, mas ele é rapidamente controlado.

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5- MF: Agora falando mais sobre o Corinthians, falando em termos táticos, desde 2011 para cá tivemos algumas variações táticas consideráveis (4-3-2-1, 4-2-3-1, 4-4-2 em linhas quase um 4-2-2-2, volta para o 4-2-3-1, até o último e atual 4-1-4-1). Muitas vezes o Corinthians preferia jogar sem centroavante fixo, abrindo espaço para os meias chegarem, outras vezes com pontas abertos fazendo pressão na defesa adversária e sempre com uma defesa constante. Poderia explicar para o torcedor como é esse trabalho junto com o Tite e como foi sua evolução, principalmente nas tomadas de decisão?