Chicago Cubs campeão: uma ode ao esporte

Chicago Cubs campeão: uma ode ao esporte

Nenhum tabu ou maldição foi capaz de parar o Chicago Cubs, que após 108 anos, voltam a fazer seus fãs comemorarem uma World Series.

Kris BryantO sorriso puro no rosto de Kris Bryant ao lançar a bola da última eliminação do Cleveland Indians na World Series foi emblemático. Era um sorriso de alegria, alívio, sensação de dever cumprido de quem sabe que acabara com diversos tabus e escrevia seu nome com letras douradas no livro da história do baseball e do esporte mundial. O Chicago Cubs saía de uma fila de 108 anos e se tornava campeão da World Series 2016.

A última vez que os Cubs chegaram numa World Series (final da MLB, Major League Baseball) foi em 1945, quando um acontecimento bizarro marcou a história do clube e entrou para o folclore do esporte.

Billy Sianis e MurphyBilly Sianis, um grego dono de um bar na cidade, foi ao jogo 4 daquela final; chegando na bilheteria comprou 2 ingressos, um para ele e outro para seu bode Murphy. Acontece que os funcionários do estádio não deixaram o animal entrar no estádio devido ao mau cheiro. O presidente dos Cubs foi chamado e disse que Billy não poderia entrar porque “seu bode fede.” Foi então que Sianis jogou a praga, conhecida como “maldição de Billy Goat”:

“O Chicago Cubs nunca mais vai ganhar uma World Series enquanto não deixar um bode entrar Wrigley Field (estádio do Chicago Cubs)”

A série final estava 2×1 para Chicago e terminou 4×3 para o Detroit Tigers. Desde então o time nunca tinha disputado uma World Series, e não foi por falta de tentativas de acabar com a praga da torcida: já levaram bodes até o centro de Wrigley Field, pais de santo e exorcistas benzeram o estádio. Nada tinha dado certo. Um gato preto cruzou o campo durante uma partida em 1969, para o desespero dos mais supersticiosos.

A “maldição” foi lembrada em 2003. O time chegara à final de conferência (equivalente a semi-final do campeonato) contra o Flórida Mariners e estava ganhando a série por 3×2, e o sexto jogo era no Wrigley Field. Na oitava entrada, quando o placar estava 3-0 para os Cubs, diversos espectadores tentaram segurar a bola (que seria uma foul ball) rebatida por Luis Castillo. Um dos fãs, Steve Bartman, tocou na bola, impedindo uma possível pegada do outfielder dos Cubs, Moisés Alou. O Chicago se desestabilizou em campo e acabou perdendo por 8×3 e não conseguiu se recuperar no jogo 7. Confira o lance no vídeo ao lado.

Logo em seguida torcedores arremessaram copos de cerveja pedaços de pizzas em direção a Bartman, que teve que ser retirado do estádio sob escolta. Um fanático pelos Cubs que não podia sair de casa. O governador da Flórida chegou até a oferecer asilo para Steve, tamanha era a rejeição na cidade.

Como torcedor dos Cubs (torço para todos os times de Chicago e escolhi o Cubs por causa dos Bears, já acompanhava a NFL a mais tempo), me acostumei a mediocridade, campanhas patéticas e poucas transmissões para o Brasil (quem vai mostrar um time lixoso?). Os momentos de maior alegria eram as eliminações do St. Louis Cardinals, maior rival. No entanto esse cenário começou a mudar e o sonho já não parecia um absurdo, longe disso…

>> A reconstrução


Se engana quem acha que esse time foi uma simples obra do acaso. Theo Epstein, GM que tirou o Red Sox da fila de 86 anos sem títulos, chegou a Chicago como presidente de operações do Cubs em 2011 com o objetivo de conseguir o mesmo êxito que em Boston, e conseguiu.

David Ross ao chãoNo baseball a reconstrução de uma equipe se dá de forma gradual, os novatos não causam impacto imediato como Dak Prescott e Zequinha Eliott na NFL, por exemplo, é preciso saber escolher os talentos e esperar o amadurecimento em ligas menores. Note como esse time é jovem, a base foi construída a partir de movimentos certeiros. O vencedor manager Joe Maddon chegou ano passado para lapidar os talentos e adicionar nomes de peso a uma excelente base, algo que fez perfeitamente (mesmo tendo muito crédito eu saí xingado-o bastante por escolhas erradas no jogo, mas no fim tudo deu certo, amém).

O ano de 2015 já havia sido excelente para os Cubs. Com uma crescente absurda no fim da temporada, Chicago acabou conquistando uma vaga no Wild Card e foi até a final da conferência americana. Para a tristeza dos amantes de “De volta para o futuro”, a equipe foi varrida pelos Mets e não confirmaram a previsão de Marty McFly e cia, mas se via uma semente plantada ali. Com o time mais maduro e adições pontuais, o título acabou vindo.

>> Montanha russa de emoções


Voltando ao jogo de quarta a noite, a partida foi um verdadeiro épico. Não vou me alongar muito no jogo em si, se você tiver tempo e disponibilidade veja, pois tudo que você possa imaginar aconteceu durante aproximadamente 4 horas.

Kluber, tão dominante nos jogos 1 e 4 da série, viu Dexter Fowler, primeiro jogador a ir ao bastão, fazer um home run e deixar o jogo 1×0 logo de cara. A partir daí o Chicago quase sempre esteve a frente do placar (excetuando o fim da terceira, quando o Cleveland empatou em 1×1), embora o jogo fosse apertado.

David Ross ao chãoVale ressaltar o último jogo da carreira de David Ross. O catcher entrou na parte baixa da quinta entrada e foi a personificação da insanidade deste jogo: com menos de 10 arremessos, Lester (arremessador que entrou junto com o “vovô”) lançou um wild pitch que após quicar na terra bateu na cabeça Ross, que mesmo com a proteção, ficou desatordoado e acabou caindo. Mesmo se levantando rapidamente, o lance bizarro deu 2 corridas aos Indians.

David Ross ao chãoLogo no topo da sexta era a vez do catcher rebater, e advinha quem tava lá? Vovô Ross! O resultado da última ida como profissional da carreira dele ao bastão (contra o monstro Andrew Miller arremessando) é simplesmente mágico e você pode conferir no gif ao lado.

Mas era o Chicago Cubs, o jogo do título não poderia ter um final tranquilo (desculpa o clichê, mas foi necessário).

O jogo estava 6×3 e o Cleveland com 2 eliminados e ninguém em base na parte baixa da oitava quando Lester cedeu uma rebatida simples a Jose Ramírez e Maddon não pensou duas vezes: executou o plano de segurança, colocar Aroldis Chapman para eliminar o perigosíssimo Guyer e garantir a vitória na nona. Falar qualquer coisa agora vai parecer coisa de engenheiro de obra pronta e nem é o momento para isso, mas realmente o Lester tava bem e o Aroldão poderia ser guardado para a nona.