Dinheiro pode comprar muitas coisas. Pode comprar felicidade, alegria, carros, casas, viagens e por aí vai. Mas, tem algo que ele não consegue e nunca conseguirá comprar, o amor. Amar alguém ou algo significa ser identificado com aquilo, ver seus defeitos e suas qualidades. Além de ter o sentimento de fazer parte daquela história.
Quando vejo pessoas se vendendo por dinheiro e afirmando: “eu amo isso”, sei que não é verdade. Não pode ser. No futebol, ver uma história ser apagada pelas cifras é de doer o coração de qualquer torcedor que tem a noção que a tradição vale mais que um status.
O caso mais recente que vivemos é o do Bragantino. O clube do interior de São Paulo foi comprado por uma marca de bebidas energéticas. Ela tem vários clubes por todo o mundo. Na Áustria, onde fica sua sede, tem o RB Salzburg, nos Estados Unidos, tem o New York Red Bulls, no Brasil, o RB Bragantino e na Alemanha, o RB Leipzig.
A forma como eles se construíram foram parecidas. Primeiro, entram como patrocinadores do clube e fazem a parceria para estampar sua marca. Na sequência, começam a mudar a identidade e temos um verdadeiro “clube-empresa” com dono e que tem filiais em outros lugares do mundo.
Mas eu não vou entrar no mérito de isso ser certo ou errado. Também não vou julgar o torcedor que ficou a vida inteira esperando para seu time ganhar algo e ser grande. O que vou falar aqui é sobre a forma como isso ocorre em alguns casos, o perigo de ter a história apagada assim e como isso pode impactar no amor ao futebol em alguns anos.
Comprar tradição
Quando um time tido como tradicional vai avançando numa competição e elimina outro time que é rico, falamos que “a tradição não se compra, se conquista”. É certo que dinheiro segue lado a lado com as conquistas. É quase impossível no futebol moderno termos um clube com poucos recursos chegar longe nos campeonatos.
Um exemplo claro é a Copa do Brasil. A competição é tida como democrática e todo o Brasil joga. Só que há muito tempo não temos uma zebra. Ou seja, um time ‘pequeno’ conquistando a Copa. Os últimos foram o Paulista em 2005, Santo André em 2004 e Juventude em 1999. De lá para cá, os títulos ficaram centralizados no Centro-Sul e apenas o Sport quebrou isso em 2008.
É cada dia mais raro vermos campanhas como a do Leicester em 2015-2016 na Premier League. Mesmo que hoje o time do coração da Inglaterra faça uma grande campanha, o Liverpool está muito acima e deve ser o campeão em 2019-2020. Então, ter recursos para investir significa, quase sempre, ter sucesso esportivamente.
No entanto, a história não pode ficar apenas nas cifras milionárias. Você é torcedor de um clube ou admira outro por conta de vários fatores como história, jogadores, feitos incríveis, ser algoz do seu rival, ter uma boa administração. Mas ninguém (ou quase) torce por causa de dinheiro. Fazer isso é matar a essência do futebol.
Princípio do futebol
O futebol é o mais popular dos esportes. Nenhum consegue ter a influência que ele tem no mundo inteiro. Para se ter uma ideia, a FIFA conta com 211 filiados, 18 a mais que a Organização das Nações Unidas e 5 a mais que o Comitê Olímpico Internacional. A Copa do Mundo é acompanhada por mais de 3,2 bilhões de pessoas (números de 2014).
Assim, este esporte é o que mais representa a população mundial. Quase toda criança tem um time para chamar de seu. Na vida, torcemos e influenciamos nossos filhos no futuro. Muitos já nascem sabendo qual time terá de torcer. Outros têm a liberdade de escolha. E ela pode ser condicionada por um jogador/jogadora, cores do time, camisa, algum título e/ou por algum sentimento que não pode ser explicado.
Agora, vemos empresas com suas cores e símbolos matando a identidade de clubes com o objetivo de lucrar sobre eles. Uma coisa é patrocinar e outra é mudar tudo que representa uma instituição. Isso desde o nome até o escudo, passando pela camisa e pelo estádio. Apoiar isso é apoiar a mercantilização do futebol. É um grito de alento ao futebol moderno, que tantos criticam.