20 de novembro -Dia Nacional da Consciência Negra
Mais do que discutir acerca de qual clube foi o primeiro a aceitar a presença de negros em suas equipes, é importante destacar que esse processo contou com ajuda de muitas agremiações, como é o caso do Flamengo em 1933, ao montar um time repleto de jogadores de cor que, anos depois, formaria a base da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1938.
A obra O Negro no Futebol Brasileiro, do falecido jornalista e escritor Mário Filho, ajuda a explicar por que o Flamengo tem tanta identidade com a raça negra. “O Flamengo virou clube do povo quando acabou com a história de só branco no time. Abrindo as portas da Gávea para os pretos”, diz o autor em seu livro, lançado em 1947.
Mesmo sem ser campeão, o Flamengo conseguiu marcar sua posição contra o racismo. Segundo Mário Filho, o clube, por essa decisão, recebeu a alcunha de “pó-de-carvão”, por parte de torcedores do Fluminense, em resposta as provocações de serem chamados de “pó-de-arroz”. De acordo com Mario Filho, antes de botar um mulato no time, o Flamengo botara um preto: Jarbas. E depois Roberto. “Enquanto o Fluminense trazia para Álvaro Chaves os grandes jogadores do futebol paulista, quase todos brancos, muitos com nome italiano, o Flamengo levava para a Gávea os grandes rubro-negros do futebol carioca, quase todos pretos, Fausto dos Santos, Leônidas da Silva, Domingos da Guia, brasileiros até no nome”.
Esse foi um dos episódios que permitiu ao scratch brasileiro formar uma equipe com a presença de jogadores negros na Copa do Mundo de 1938, em que o Brasil ficou com a terceira colocação. Leônidas, Domingos da Guia e Fausto foram alguns dos jogadores que integram a seleção e defendiam o clube, na época. Isso pode ser usado para explicar a popularidade do Flamengo.
Para Bernardo Buarque, que fez pós-doutorado na Maison des Sciences de l’Homme, em Paris, com uma etnografia das torcidas do Paris Saint-Germain, a torcida do Flamengo teve a capacidade de transformar um apelido depreciativo, o de urubu, de conotação racista, em algo positivo, invertendo o que era chacota.
Torcedor do Flamengo, desses que em outros tempos se aventurava a seguir o time em jogos em outras cidades, Bernardo Buarque acredita que ainda há tabus a quebrar. Entre eles, o fato de poucos técnicos brasileiros, nas equipes de elite, pertencerem à raça negra.