A autodestruição do Campeonato Carioca
Hoje vamos falar desse maravilhoso campeonato cheio de surpresas e rivalidades e… a espere, não é pra falar da Liga dos Campeões da Europa? Desculpe-me, vamos voltar para a triste realidade e falar do sonolento, sem graça, chato, e alguns outros adjetivos a mais do Campeonato Carioca.
Bom, primeiro vamos tentar entender o campeonato… O Carioca esse ano foi dividido em 2 fases de pontos. A primeira classificava até 8 times para a 2º fase, onde foi zerado as pontuações e se começa tudo de novo com os 8 times classificados jogando entre si, até os 4 primeiros avançarem para uma semifinal e em fim uma final. A realidade é que a cada ano o Carioca se torna ainda mais irrelevante, mal servindo de preparação para a sequência da temporada, a única coisa que anima é que ao menos teremos uma sequência de desafios maiores para lapidar o time para a sequência da temporada, e é ai que eu digo “obrigado Primeira Liga”, imagina ficar jogando só o carioca até o Brasileirão?
Pergunte a um torcedor de um clube carioca sobre uma memória que lhe arranque um sorriso em segundos. Logo surgirá um tricolor narrando um gol de barriga de Renato, o Gaúcho. Sorridente, o rubro-negro puxará de primeira a falta de Petkovic aos 43 minutos do segundo tempo contra o Vasco. O vascaíno, por sua vez, rebate com o cruzamento de letra de Léo Lima para o gol de (quem mesmo?) Souza. O botafoguense, com um sorriso debochado, descreve a cavadinha de Loco Abreu diante do Flamengo em um Maracanã lotado. Histórias de vida, histórias de torcedor, histórias de um Estadual. Um campeonato que parece não respeitar as próprias memórias e impede o surgimento de novas ao trilhar o caminho da autodestruição.
É inegável que a importância dos Estaduais no passado era maior. Bem maior. Nas décadas de 70 e 80 talvez fosse mais importante conquistá-los do que levantar um Brasileiro ou uma Libertadores. Mas o mundo, não só o da bola, mudou. As distâncias encurtaram. Um rubro-negro provocar um palmeirense ou um corinthiano em tempos de redes sociais é quase o mesmo do que cutucar um vascaíno no passado. O Estadual deve encolher no calendário e fazer dignamente a passagem para torneios que amadureceram e, hoje, têm preferência entre os torcedores. O Estadual do Rio, o Carioca, no entanto prefere o embate que o leva à autodestruição.
A disputa pelo poder político pavimentou o caminho da destruição. O Carioca caiu no óbvio dos quatro grandes, a chance de surpresa diminuiu, o nível técnico também. O interesse, naturalmente, minguou. A crise é de identidade. O caminho, do fim.
Daria para falar aqui de tudo que tem tornado o Carioca esse ano ainda mais chato. Birrinha da Ferj e um dos últimos cartolas do futebol nacional – que hoje é presidente de um grande clube carioca -, contra a Primeira Liga, falta de estádios, baixo público, falta de organização e por ai vai. Nenhum time apresentou um grande nível de alto e impressionante de futebol. As partidas dão prejuízo e contribuem para arranhar a imagem dos clubes, com distorções como o caso de o Flamengo, dono da maior torcida nacional, jogar para 300 pessoas numa noite em Volta Redonda ou Jefferson, goleiro do Botafogo, utilizar um esparadrapo no lugar de número na camisa. Em 2016, a fórmula composta por três confusas fases e jogos sem grande interesse, contribuiu para levar o Estadual do Rio a um ponto emblemático. Sem acerto entre as partes, clássicos pelo Campeonato Carioca, como o charmoso Fla-Flu, são levados para São Paulo ou Brasília. Irreal. E enche de argumentos quem questiona a existência da competição.


