Muricy é apresentado no Flamengo, beija escudo e cobra postura dos jogadores

Após dias de expectativa, Muricy Ramalho foi finalmente apresentado como novo técnico do Flamengo, no final da tarde de ontem (terça-feira). E já chegou com moral. Ao lado do presidente reeleito do Rubro-negro, Eduardo Bandeira de Mello, o novo comandante do time ganhou status de craque e posou até para os fotógrafos com a camisa utilizada pelos jogadores.

image

Nas primeiras respostas em coletiva realizada na Gávea, ele reafirmou os motivos para escolher o novo clube e elogiou a recente administração do Flamengo. Foi a primeira entrevista daquele que é tratado como grande reforço pela diretoria.
“Vim pelo tamanho, pela transparência, pela organização. Ganhar no Flamengo deve ser uma coisa muito legal. Vivo disso, desses desafios. Espero colaborar com a diretoria a melhorar na parte de estrutura”, disse Muricy, logo após assinar o contrato de dois anos com o Rubro-negro.
“Basta pesquisar a minha história para ver que raramente saio antes do fim do contrato. Isso acontece porque sou um cara de conquistas, e aqui não será diferente. Espero ficar até mais do que dois anos no Flamengo. Estou muito confiante”, completou.
O comandante tem 60 anos e é tetracampeão brasileiro (três com o São Paulo e uma com o Fluminense) e campeão da Libertadores com o Santos. Deixou o São Paulo no início deste ano, devido a um problema de saúde e aproveitou o período para estudar, inclusive na Espanha.
Veja os principais trechos da entrevista coletiva:
Tempo afastado:
É um prazer estar aqui. Fiquei um pouco afastado do futebol para cuidar da minha saúde e da minha família. É importante estudar, em todas as áreas, não só no futebol mas na base e na administração também. Conversamos aqui no Flamengo para unificar todas as categorias e treinamentos específicos do mesmo estilo de jogo para todas as categorias. É importante que o jogador que venha da base chegue preparado ao profissional. Mas todos esses projetos não adiantam sem ganhar. Isso que vamos tentar fazer. Vamos ficando mais experientes, sempre aprendendo no futebol e na vida. Temos que esperar o dia a dia, os jogos acontecerem, e aí falaremos se foi válido. Estou melhor, acho que valeu a pena.
Estrutura do Flamengo:
Estive agora à tarde lá (CT) para conhecer. Claro que faltam muitas coisas, isso foi falado. Há um projeto emergencial para janeiro e daqui a um ano teremos alguma coisa definitiva. Até porque não há futebol de resultados sem isso. Temos que melhorar, ver os números, ver porque quem está ganhando sempre está na frente. Esse é o caminho. E percebemos que aqui no Flamengo isso vai acontecer. Sanaram as dívidas e agora vamos na estrutura. Acredito muito nisso.
Maior desafio ao assumir o Fla:
 O desafio maior do técnico é conquistar. Tudo é importante, planejamento, ideias, mas não dá para caminhar sem resultados. Vamos atrás das vitórias e o projeto vai junto. Em uma potência como o Flamengo não dá para esperar muito tempo sem resultados.
Marcelo Cirino e Guerrero:
 São jogadores que com a história que têm no futebol não podem ter esquecido como jogar. Às vezes só olhamos o jogador no domingo e na quarta. Temos que ver os números, identificar o problema, conversar e tentar corrigir. São jogadores muito importantes que com certeza estarão conosco ano que vem.
Contrato de dois anos:
 Não sou um cara inseguro, ao contrário. Na minha carreira sempre escolhi muito bem os lugares onde trabalhei e acho que estou fazendo a escolha correta mais uma vez. Se você ver o meu histórico, dificilmente saio antes do meu contrato. Sou um cara de conquista. Aqui não vai ser diferente. Devo ficar os dois anos e até mais.
Avaliação do elenco:
 Nesse momento, agora, é curto o período para nos arrumarmos para o ano que vem, temos que pensar em quem vai chegar. Não devemos contratar por contratar, tem que ser um grande jogador para jogar no Flamengo. Estamos em cima disso porque o tempo é curto. Os demais a gente vê depois.
Tempo de descanso: 
Estou invicto, fazem oito meses que não perco um jogo. (Risos). Estou feliz, recuperado. Fiquei quase que 22 anos sem um período assim. Também é bom ficar sem trabalhar. Comissão técnica não tem férias, o jogador vai e a gente fica aqui, planejando, trabalhando. Tinha esquecido como era isso, minha família me convenceu a dar uma parada. Estou feliz, renovado.
Admiração por Zico
: Depois do Pelé, que é de outro planeta, o Zico foi o jogador mais completo que já vi jogar. Admiro como jogador e como homem. É um dos poucos exemplos do país. Participei de sua campanha para a FIFA. Quando ele vai para São Paulo, saímos para jantar e conversar com um amigo nosso em comum. Trabalhar em um clube que teve um cara contra ele é diferente. Agora terei a Nação a favor.
Aprendizado no Barcelona:
 O que mais me chamou atenção foi a parte administrativa e a base. A gestão profissional não tem mais volta no futebol. Lá é pura profissionalização de tudo. Unificar todas as categorias é algo que dá para se fazer aqui. Vamos trabalhar com os professores da base, identificar o que é o Flamengo e trabalhar em cima disso. O técnico se adapta à ideia do que é futebol para o clube. Com muita troca de técnico, se troca muito de filosofia. Vamos conversar com o pessoal da base, não será nada imposto.
Sobre o Flamengo: 
Um gigante como o Flamengo você tem que entrar nas competições para ganhar. Isso não é uma pressão, é normal, é minha obrigação. Temos que ser realistas. Senão fico acomodado. Se tivesse olhado a parte financeira não estaria aqui. Acho que ganhar aqui vai ser diferente. Estou igual a diretoria do Flamengo: com muita vontade de mudar tudo.
Futebol atual: 
O futebol não é mais como há quatro anos atrás. Hoje as linhas tem que estar mais juntas, tem que ter controle de jogo e intensidade. Hoje é transição rápida, velocidade. A bola parada tem que treinar, vimos nos números que o time está tomando muitos gols nesse tipo de jogada. Hoje fui no CT, vi scout. E não é por altura, nosso time é alto. Temos que identificar o problema.
Categorias de base:
 Não dá para acreditar que um sub-15 perca um campeonato e o treinador seja mandado embora. Claro que é importante resultado, tem que ensinar a ganhar desde garoto. Mas temos que formar jogador acima de tudo. Vamos conversar com o pessoal da base e encontrar um modelo para criarmos jogadores. Aqui no Brasil se erra muito nesse sentido. Não fica filosofia nenhuma dessa forma. No Barcelona, todas as categorias treinam igual, até as meninas. Se entra outro presidente, nada muda. Na base se troca muito de técnico e ideias também.
Times para o Carioca e Primeira Liga:
 O técnico não é dono do clube. Vou cuidar do time. A estratégia do Flamengo é disputar o Carioca com time alternativo. A ideia é de levar todos à Mangaratiba para eu treinar o time de uma competição e de outra (Primeira Liga). Escolheremos alguém da comissão para fazer um trabalho em conjunto, mas não posso ficar longe da molecada. Vou acompanhar e ver jogos, mas terá uma pessoa para dirigir, que pode ser o Jayme, meu amigo de longa data.
Reforços para 2016:
 O Flamengo está aberto a bons negócios. Não vou cravar um número, porque às vezes surgem oportunidades boas. Mas sempre pensando em nível A. Há muitos jogadores por aí, estamos procurando principalmente nos setores de pensamento e defensivo, mas está difícil achar.
Relação com Emerson Sheik: 
Sobre o Emerson, trabalhamos juntos no Fluminense e fomos campeões. Ele se mudou para o prédio que estou morando, tenho que encontrar ele lá agora, um mala (risos). Mas é um cara que gosto de trabalhar, é parceiro, estou superfeliz de voltar a trabalhar com ele. É fundamental no Flamengo. Samir é um jogador interessante, mas parece que há um movimento de negociações. Temos que ver isso ainda.
Kaká:
 Kaká é um fora de série. Tive a felicidade de trabalhar com ele no São Paulo e ele fez a diferença porque além de se excelente jogador é um cara que comanda o campo. Mas não falamos com ele, o atleta tem contrato com o Orlando.
O que é preciso para jogar no Flamengo:
 Espero o básico de um grande time que quer conquistar muita coisa aqui. O atleta ganha para trabalhar, ele tem que dar retorno, deve ser disciplinado, comprometimento com a camisa, bom comportamento, trabalhar muito, dar resultado. Alguém do time tem que cobrar isso e essa pessoa é o treinador. Hoje em dia não dá para existir esse tipo de jogador, que não quer ganhar. Ele vai ser cobrado. Não sou pai de ninguém, não sou babá. O cara tem que pensar no torcedor. Quando formos contratar um jogador, queremos um cara que dê resultado e não só um bom contrato. Ele será cobrado para isso.

image