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Opinião: Abel precisa parar de exagerar com apostas

Johnny Negreiros

Abel Ferreira é o maior técnico da história do Palmeiras. Só deixará de sê-lo se fizer muita besteira nos próximos anos, o que é bastante improvável. Ressalto esse fato porque a cultura futebolística no Brasil, que acomete inclusive a imprensa, pode interpretar minha crítica como um pedido de cabeça do português. No entanto, o treinador, juntamente com a diretoria do clube, errou ao montar um elenco para este ano com jogadores de quase um único perfil: apostas que podem vir a ser craques, mas ainda não são.

Neste texto, não vou me ater ao imponderável da eliminação de ontem. Murilo e arbitragem (além do desempenho fraco em Curitiba) estão de lado. Destaco os atletas que entraram em substituições: Luan, Mayke, Merentiel, Wesley e Atuesta. Os dois primeiros entraram para suprir a expulsão no primeiro tempo e por motivos físicos, respectivamente. Já os atacantes e o volante foram a campo para mudar o jogo.

Sim, Merentiel, Wesley e Atuesta eram as melhores opções para tentar alterar o placar. Os estrageiros em específico podem vir a ser bons jogadores no futuro. O colombiano é jovem, enquanto o uruguaio tem 26 anos mas ainda vai ter maior utilidade no elenco do Palmeiras. Wesley, por sua vez, não pode reclamar de oportunidades para atuar e já é um atleta que deveria ser negociado. No entanto, trata-se de outro jovem que ainda tem chance de virar um grande jogador. Flaco López, que já começa a ser queimado pela torcida, entra nesse balaio. Outra aposta…

Pontuo que há exemplos dentro do próprio Palestra que provam a necessidade de haver paciência com esses atletas. Gustavo Scarpa, Raphael Veiga e Zé Rafael são hoje três pilares da equipe. Os três haviam demonstrado talento em outras equipes, mas nenhum era dado com o status de ‘grande contratação’. Eram… apostas. Isso é um fato. O Abel Ferreira usa isso como argumento para querer apenas… apostas no elenco.

Contratações feitas neste ano: Atuesta, Murilo, Jailson (volante), Lomba, Merentiel, López e Tabata. São todos apostas, promessas. A título de menção, saíram: Willian, Felipe Melo, Jailson (goleiro), Deyverson, Gabriel Veron, Patrick de Paula e Danilo Barbosa.

Prezar por atletas com fome de vencer, que sejam bons para o ambiente do grupo, que ainda querem demonstrar talento, como o Abel faz, é uma filosofia válida. Mas o exagero não é. Todas as contratações em 2022 seguiram esse perfil. Sem exceção. Enquanto o clube se desfez dos já citados Willian Bigode e Felipe Melo – decisão acertada –, apenas nomes de eventual grande utilidade vieram. O único que deu certo até o momento, curiosamente, foi o excelente Murilo, punido com cartão vermelho ontem. Natural que a maioria das apostas demorem para engrenar.

Nesse sentido, redução de despesas não explica tal estratégia. O Palmeiras não pagou barato por parte dessas promessas. López veio por aproximadamente R$ 50 milhões, enquanto Atuesta custou cerca de R$ 25 milhões, para enfatizar as contratações mais caras. A título de comparação, o Santos, que vive drama finaceiros há anos, recentemente adquiriu o bom Soteldo por pouco mais de R$ 10 milhões, dividido em 15 parcelas. O venezuelano, que não tem histórico público de ter rachado vestiário, certamente seria uma alternativa melhor ao Rony do que o irregular Wesley, ontem à noite.

Sob tal ótica, o elenco do Maior Campeão do Brasil ficou para trás em relação a Flamengo, Atlético-MG e Corinthians. Essas equipes contam com banco de reserva que oferecem reposição à altura. Analisei com maiores detalhes aqui. Nessa pegada, a diferença vai se acentuar ainda mais no ano que vem, com a saída certa de Scarpa para a Inglaterra.

Desde o ano passado, o Verdão teve insucessos quando dependeu de seus suplentes para buscar resultados. No Brasileirão de 2021, inúmeras derrotas tiveram escalações cheias de reservas, como na reabertura dos portões do Allianz Parque, quando o Red Bull Bragantino venceu por 4 x 2.

Em suma, houve um erro grave na formação do elenco do Palmeiras em 2022, por opção de Abel Ferreira e diretoria. Este foi um dos fatores que levaram à eliminação na Libertadores para um inferior mas bem armado Athletico-PR. Aposto que haverá discussão interna sobre o assunto. Se nada mudar, o problema só vai se agravar em 2023. Não prometo nada.