Sabores do Futebol

Sabores do Futebol #1: Feijão Tropeiro

Iniciamos neste momento ar nova série do Mercado do Futebol. Denominada de Sabores do Futebol, como o nome já diz, tratará de contar histórias de comidas costumeiras que encontramos em estádios de futebol mundo afora. Como a primeira misturada na panela, nada melhor que inaugurarmos com o mais tradicional e carismático prato: o Feijão Tropeiro.

Está enganado quem pensa que este é um alimento recente. O prato tem início ainda no período colonial, como o nome bem refere, com os tropeiros – homens que guiavam animais pelas estradas de Minas Gerais. Para estas viagens pelas estradas, não existiam muitas opções alimentícias, até por isso, eles precisariam de uma receita prática e que fosse elaborada com ingredientes que não estragariam, daí surge um dos melhores pratos do Brasil – na opinião deste humilde autor, o melhor.

Entendida da origem do prato típico dos mineiros frequentadores de estádio, passamos aos componentes. O Feijão Tropeiro é composto por: feijão, arroz, couve, bife de porco, torresmo, molho de tomate e ovo. Engana-se quem pensa que em todos os locais a refeição é igual – nunca foi e nunca será. Existem pessoas que preferem com o molho de tomate; outras, sem, por exemplo. Há pessoas dos mais variados gostos, porém é quase uma unanimidade que o Feijão Tropeiro é algo espetacular e que deve ser experimentado por todos.

Em 2019, na luta contra o câncer, o Mineirão lançou o projeto “Tropeiro do Bem”.

Há cerca 50 anos essa iguaria é vista nos estádios mineiros, em especial no Mineirão. O Gigante da Pampulha possui diversos momentos de relacionamento com essa culinária. Desde o clássico Bar do 13 (fazendo referência ao portão 13 do Mineirão antes da reforma), até os dias atuais, onde são comercializados dentro do estádio, mas claro, sem deixar de ser vendido fora dele. Pós-reforma, até 2016, por normas da vigilância sanitária, o Tropeiro do Mineirão foi produzido sem o “zoiúdo” – o ovo frito. Todavia, a partir do jogo entre Cruzeiro e Atlético, no dia 18 de setembro de 2016, o ovo voltou a ser ingrediente do prato, para a felicidade de 99,9% dos torcedores – ou melhor, 97,5%, segundo pesquisa feita pelo próprio Mineirão.

A vida sem esta iguaria da gastronomia mineira nos estádios seria complicada. Imagina um pós-7×1 sem um Tropeiro para consolar… não dá. Foi isso que a Fifa foi quase obrigada a fazer – mudar o cardápio padronizado das arenas da Copa do Mundo de 2014 e aceitar que este prato não poderia ficar de fora. Viver sem o Feijão Tropeiro – para este autor, é um trabalho árduo, cansativo. Acordar, saber que irá ao estádio e pensar que pode não encontrar aquele prato descartável (ou até mesmo uma marmita) recheada de ingredientes que você ama é muito triste. Foi isso que grande partes dos torcedores mineiros pensaram em 2010, quando o Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, fechou para reforma para à Copa do Mundo que seria realizada no Brasil.

Contudo, felizmente, tanto a Arena do Jacaré (que recebeu a maioria das partidas antes da inauguração da Arena Independência) quanto o próprio estádio do bairro do Horto, continuaram a servir o prato. Claro, se até a entidade máxima do futebol se rendeu à esta iguaria – nós, mineiros, não iríamos? Jamais pense isso. O prato está presente em nosso cotidiano, todos os domingos, quartas, ou qualquer dia que seja, vamos aos estádios para, claro, apoiar nossa equipe, mas também não deixamos de saborear uma das maravilhas mineiras.

Dona Sônia serve o Feijão Tropeiro no Mineirão há mais de 30 anos. (Juliana Flister/Agência i7)

Segundo dados do Mineirão divulgados em 2016, são comercializados quase 10 mil refeições em média por partida. No entanto, o recorde de vendas foi na final do Campeonato Mineiro de 2015, na peleja entre Atlético e Caldense, onde foram vendidos mais de 15.800 unidades do Feijão Tropeiro.

Sem dúvida alguma o Feijão Tropeiro é uma tradição de Minas Gerais. A pessoa ama o Feijão Tropeiro e o leva para a vida – caso isso não aconteça, fique preocupado, pode haver um certo desvio de caráter, ou não, pode ser somente um gosto, digamos, exótico de um ser humano. O fato é que o prato possui algo diferente e está no coração da maioria dos mineiros, um momento em que americanos, atleticanos e cruzeirenses concordam e abraçam o que lhe faz bem – o Feijão Tropeiro.

Em média de 600 gramas por refeição, mas que conseguem trazer e transmitir uma sensação “sem base” – adaptado ao ‘mineirês’. Feijão Tropeiro: ame-o e coma-o.

Foto de capa: Agência i7.

Vinícius França

Colunista e apreciador do futebol sudaca. Valorize o nosso.

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