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Conheça mais sobre Andres Rueda, candidato à Presidência do Santos

Nós, do Mercado do Futebol, faremos entrevista com os pré-candidatos à presidência do Santos. O intuito é conhecer um pouco mais de cada candidato, seus planos e anseios para chegar ao cargo de mandatário santista. Neste sentido, nosso entrevistado é Andres Rueda, 64 anos, matemático, com especialidade em engenharia de sistemas. Por 20 anos, foi diretor de TI na Bovespa/BM&F, sendo 3 anos acumulando diretoria financeira e administrativa. Fundou a empresa Uranet Projetos e Sistemas e trabalhou a empresa por 20 anos, começando do zero, com um pico de 6 mil funcionários e um faturamento de 300 milhões/ano. Desde 2019, vendeu a Uranet para o Gruo Santander (Konecta) e está pronto a se dedicar de forma integral ao Santos.

MF – Andres, você tem uma formação empresarial extensa, com ótimos resultados. O que te faz acreditar que você está preparado para comandar um clube do tamanho do Santos, e com quem você conta para lhe dar respaldo e suporte para gerir a instituição Santos Futebol Clube?

Experiência de vida e tudo o que eu construí na minha profissional me levam a crer uma capacidade de gestão muito interessante. Já fui funcionário, já fui diretor, já fui empresário, sempre com sucesso. A empresa que eu toquei tinha um faturamento muito similar ao Clube e isso, no meu entendimento, somado à minha disponibilidade de tempo, me leva a acreditar que tenho total condições de gerenciar nosso clube. Mas como sempre falo, um presidente não pode gerir o clube sozinho. O Santos precisa de executivos capazes e experientes para sair da crise atual. Estamos convidando para o Comitê de Gestão pessoas com extrema capacidade de gestão, que já se destacaram e se destacam em suas áreas. Nossas escolhas são feitas estritamente por critérios técnicos. Um exemplo é o Walter Schalka, CEO do Grupo Suzano, a maior empresa de celulose do Mundo, e que já demonstrou no caso do Hamburgo uma capacidade muito grande de negociar, renegociar dívidas, buscar credibilidade, o que o Clube precisa, muito grande.

MF – O atual momento do clube é delicado na questão financeira, principalmente pela pandemia do novo coronavírus, fato este que deve ir até parte do próximo ano. Que ações você acha possível fazer, para que o clube sofra menos, na questão financeira, já que não tem a presença do público em campo, e tem que viver das rendas de TV, os patrocinadores e o programa Sócio Rei?

No caso do Santos, a nossa dependência financeira dos valores de bilheteria é menor que a dos nossos rivais. De qualquer maneira, precisaremos tentar nos aproximar do sócio e do torcedor nas plataformas digitais. Há uma urgência, por exemplo, em termos uma loja online que venda todos os produtos licenciados do Santos. Hoje sempre ouvimos reclamações neste sentido, do torcedor que quer comprar, quer ajudar o clube, e não consegue.

MF – A presença do público feminino nas arquibancadas é algo que sempre se tem muita reclamação, seja pelo risco de violência, ou pela estrutura que o clube oferece, principalmente vendo como os rivais da capital dão condições em suas arenas. Qual será sua ação que possa aumentar o número de mulheres nos jogos do Santos, dando segurança e conforto? Ainda sobre as mulheres, na sua gestão, elas terão espaço para participar na política do Clube?

Temos um grupo de trabalho na coordenação da campanha, que contamos com mulheres, que conhecem a realidade do Clube, estão colaborando muito, sobretudo nesse tema de aproximar mais as mulheres do Santos, dos jogos, do futebol. Acredito muito com a concretização da Arena, não só mulheres, como as famílias, um público que está muito esquecido, terão condições de ser muito melhor recebidos. Vai facilitar, sem dúvida, o aumento e a presença de mulheres, famílias, crianças dentro do evento Santos Futebol Clube, não dentro do jogo apenas.

MF – As categorias de base do Santos sempre rendem ótimos resultados, e geram receitas com frequência, o que ajuda a manter a administração do clube, porém nos últimos anos, pouco revelou e não ganhou títulos, além de perder jogadores sem render nenhum centavo aos cofres do clube. O que você vê pode ser melhorado para que o Santos revele mais jogadores nos próximos anos e não perca jogadores sem retorno financeiro?

Como sempre falo, o Santos precisa de processos em todas as áreas e na base não é diferente. Precisamos ter claro o que se espera e quais os procedimentos. Um dos pontos urgentes é que tem de ter uma infraestrutura para poder atender os atletas. É vergonhoso, com tanta receita que nossa base gerou, não ter um espaço de Primeiro Mundo para seu desenvolvimento. Comportar a base como deve ser comportada.

Na base não está claro como os atletas são captados. A gente perdeu os olheiros que tinha no Brasil inteiro, perdeu o vínculo com as escolinhas. A gente tem de corrigir isso. O Santos tem de ter de ter processos do começo ao fim em cada etapa. Como capta jogador, como é feita a peneira, como a base tem de ser treinada, qual o preparo físico que espera para cada categoria.

MF – No Futebol Feminino, quais são os planos para dar melhores condições para a categoria? Será feito um trabalho para se ampliar categorias de base para o futebol feminino também?

Os planos para a categoria feminina estão englobados no pilar do futebol. Queremos dar visibilidade, estrutura da mesma forma. E tanto nas categorias de base quanto no futebol feminino a gente pretende implementar as estruturas com algo que o Santos FC não usou até agora, que são os projetos de Lei de Incentivo do Esporte, com a renúncia fiscal, uma prática que o Governo deixa utilizar para desenvolver projetos para a base e futebol feminino. Podemos melhorar muito as estruturas, as condições.

MF – Uma fonte de renda importante para os clubes é o programa de sócio-torcedor. No Santos, o programa Sócio Rei atualmente tem pouco mais de 23 mil associados. Para ampliar este número e aumentar a receita, quais são os planos? O que poderá ser feito como benefício aos torcedores, a fim de aumentar a arrecadação?

O primeiro passo e mais importante é ouvir o sócio. O Clube já foi até a torcida e seus sócios e perguntou o que vocês querem? É primordial escutar, você ter canal para ouvir seu sócio e sua torcida. Na nossa campanha criamos um APP onde realizamos pesquisas e abrimos um canal direto com o torcedor para apresentar ideias. O Santos, até hoje, não tem um APP. Nossa ideia é logo nos 100 primeiros dias fazer uma ampla pesquisa com o sócio para pode implementar melhores no programa Socio Rei. 

MF – Nos últimos anos, o Santos fez várias contratações de jogadores que não vingaram, e fortunas foram pagas, sem contar, os compromissos que foram feitos, não cumpridos, e agora geram punições da Fifa. Como você pretende lidar com esses problemas que estão acontecendo?

Você não pode contratar um jogador pela vontade única de um presidente. Como já falei, o Santos não tem processos. Não temos direito de errar em contratação. Ultimamente, o clube não comprou, porque não pagou. Tem fila na FIFA. Primeiro tem de passar num scout, área de inteligência do Clube. Saber se o jogador é bom, ver a parte médica, seu histórico e depois ir para a área financeira. Saber se temos condições de comprar e pagar. Senão a gente sabe onde a história termina. Na FIFA. Fechou isso, vamos ver o salário, se está dentro da política salarial do Clube, se é suportável pela receita ordinária que o Clube tem. Não adianta eu contratar e não pagar o salário.

Se um desses itens não der certo, volta para o técnico e fala, “esquece, não vamos contratar”. Senão sobra o prejuízo financeiro e técnico para o Clube. São processos que o clube tem de implantar urgentemente em todas as áreas. Só isso pode impedir que essas aberrações se repitam. Quando tenho processos, posso ter auditoria interna e se sana. Isso é um dos pontos principais nesse modelo de reorganização.

MF – A atual situação financeira do Santos é extremamente preocupante, onde inclusive o time já foi punido na Fifa, ficando banido de contratações, enquanto não acerte seus débitos. Na sua visão, como sair deste atual cenário?

Realmente, o momento é muito delicado e essa crise não será resolvida da noite para o dia. O Santos vive a sua pior crise financeira, moral e ética de todos os tempos. O que fizeram com o clube é uma vergonha. A primeira ação é adequar a despesa com receitas recorrentes para não aumentar a dívida. Tem de ter criatividade no sentido de renegociar essas dívidas com os credores, reformatar contratos. E como sempre falo, precisamos de um time de executivos capazes e experientes para negociar dívidas, alongar prazos e melhorar o fluxo de caixa. Estamos formando essa equipe. Se você olhar o plano de trabalho da maioria dos candidatos, é praticamente igual, até porque não tem como ser diferente. Temos de buscar o equilíbrio financeiro entre despesas e receitas. O Santos vai ter uma folha que caiba dentro da sua receita. As soluções são simples. Não podemos gastar mais do que arrecadamos. Segundo, receitas extraordinárias. Nossa intenção é levar para o Conselho Deliberativo uma espécie de endosso do que fazer com receitas extraordinárias. Exemplo: a gente quer que 50% da receita extraordinária têm de ser gastos com pagamento de dívida, 30% investidos, necessariamente, na base, e 20% para qualificar melhor o time profissional. A gente quer o carimbo do CD com esses números.

MF – A reforma da Vila Belmiro é algo que vários presidentes vem com projetos e propostas e o assunto não vai adiante, quando muito, poucas melhorias são feitas no Estádio, principalmente quando o time ou a gestão está em crise. Você tem algum projeto neste sentido? Qual a sua opinião neste caso, dando a entender que a “Reforma da Vila”, volta sempre para abafar as crises e problemas maiores do time?

O projeto da WTorre é fantástico. Muda o patamar do Clube quanto ao conforto da sua torcida. O que foi apresentado agrada e é o que a gente gostaria de ter um dia e a WTorre tem experiência. É muito aderente ao modelo que falamos da indústria do entretenimento, onde tem de ter espaços de convivência, parte alimentar bem resolvida, vaga para quase mil carros. Projeto arquitetônico é muito agradável de se ver.

O único ponto que me preocupou um pouco é na parte comercial do negócio em si. Coloquei duas dúvidas para eles. A gente seria obrigado a jogar somente na Arena? O caso do Santos é peculiar. Tem torcidas em Santos e São Paulo. Tem de ter liberdade de escolha de jogar na arena ou não. Outro ponto na proposta inicial deles é que queriam cobrar de 10 a 15 reais por torcedor que frequente o estádio. Então, se a gente fizer uma conta, 25 mil torcedores com estádio lotado, teria um aluguel de cerca de 250 mil reais para o empreendimento. Isso me parece um certo desequilíbrio. Porque o Santos teria uma participação na receita líquida da WTorre. Nada mais justo que tenham participação na nossa receita, não o valor fixo. Se for assim, a gente já parte de um ingresso de no mínimo 20 reais, que seria 15 para eles, mais custo de seguro, Federação, e isso fugiria um pouco da política que a gente quer implementar de popularizar o acesso ao estádio para a nossa torcida.

Agora, nada de impeditivo. Tem de sentar na mesa, o Santos com pessoas do lado de cá, defendendo os interesses do clube, e chegar um bom entendimento para todos. O projeto em si é muito aderente para o que imagina para o futuro do clube.

MF – O projeto Embaixada é uma ação de sucesso do Santos, que leva aos seus torcedores, principalmente no interior um pouco da história do clube, além de ajudar aumentar o número de sócio torcedores. O que você tem em mente para ampliar e melhorar o projeto?

Temos de deixar as coisas bem claras. O Santos, ao mesmo tempo em que o Estatuto cria embaixadas, também cria dificuldades. Precisa de 100 sócios adimplentes para abrir uma embaixada. Nossa ideia é incentivar as embaixadas, baixar esse número de sócios. Cito o exemplo do Grêmio que tem quase 500 consulados, alguns com dois ou três sócios, e deixar muito claro as regras do relacionamento entre Clube e embaixada. O que se espera da embaixada, quanto a comportamento, captura de novos sócios para o Clube, e o que o Santos vai ajudar a embaixada. Essa relação está muito obscura. Deixar tudo claro na relação clube e embaixadas, é importantíssimo. Já estamos fazendo reuniões com todas as embaixadas, em todos os estados, até mesmo no Amapá e no exterior, ouvindo suas ideias, apresentando nossos projetos.

MF – O Santos sempre foi muito famoso por reconhecer e prestigiar seus ídolos, inclusive muitos deles, com funções no clube, nas categorias de base e na parte promocional da marca Santos, e nos últimos anos, esta ação perdeu um pouco de sua força e importância. O que você pretende fazer a respeito desta situação?

Ídolo é ídolo e sempre vai ter a porta aberta no Clube. Não pode esquecer. Quem não tem passado, não tem presente, nem futuro. Na verdade, isso é fundamental. Agora, a gente não pode misturar ídolo com perfil profissional. Aquele ídolo que tiver perfil profissional para ter alguma atividade dentro do clube é excelente. Agora, o fato de ser ídolo não credencia para ter atividade profissional. O ídolo tem de ser preservado, incentivado, reconhecido sempre.