Copa do Brasil 2010, um título como nos velhos tempos

Odir Cunha, do Centro de Memória

Um time ofensivo, técnico, com talentos espetaculares, mas um tanto instável, que marcou gols em todos os 11 jogos, mas também foi vazado em todas as partidas desde as quartas de final. Esse foi o Santos de Neymar, Ganso, Robinho & Cia que fez o futebol brasileiro viver momentos de sonho e chegou ao título da Copa do Brasil na noite de 4 de agosto de 2010.

Dizia-se do grande Santos bicampeão mundial que fazia três, mas marcava seis, o que era garantia de grande espetáculo. Pois o Alvinegro na Copa do Brasil de 2010 era assim. Sofria fora de casa, mas na Vila mostrava um futebol primoroso.

Na estreia, em 24 de fevereiro, em Campo Grande, o Alvinegro jogou pouco futebol para vencer o Naviraiense por apenas 1 a 0, gol de Marquinhos aos 36 minutos do segundo tempo. Isso fez o time de Mato Grosso do Sul chegar a Santos animado para a segunda partida.

Antes do jogo seus jogadores foram à praia, pois muitos não conheciam o mar. Também visitaram o Memorial das Conquistas da Vila Belmiro e ficaram abismados com a quantidade de troféus do Santos. À noite, quando acordaram do sonho o primeiro tempo já estava chegando ao fim e o Santos vencia por 6 a 0. No segundo, foram mais quatro, fechando em 10 a 0, uma goleada digna dos tempos de Dorval, Coutinho, Pelé, e Pelé.

André fez três gols, mas o mais bonito foi de Neymar, o sétimo, depois de driblar toda a defesa. Outro golaço foi o de Robinho, por cobertura.

Depois veio o Remo, em Belém, e pela única vez na Copa o Santos jogou bem e obteve uma vitória convincente fora de casa: 4 a 0, dois de Neymar, dois de André. A partir daí, porém, seria um tal de toma lá, dá cá, até o fim.

Nas oitavas, 14 de abril, o Santos comemorou seu 98º aniversário goleando o Guarani por 8 a 1, na Vila Belmiro. Neymar, já considerado o melhor jogador brasileiro, marcou cinco gols. Em Campinas, com a classificação garantida, Dorival Junior escalou um time misto que perdeu por 3 a 2, sofrendo dois gols nos últimos. Breitner e Alex Sandro fizeram os gols santistas.

Imortal enterrado vivo

Pelas quartas, no meio da decisão do título paulista, o Santos foi ao Mineirão enfrentar o bom Atlético Mineiro do técnico Vanderlei Luxemburgo. Diego Tardelli abriu 2 a 0 para o time da casa, incentivado por 46 mil torcedores, mas aos poucos o Santos reagiu.

Robinho marcou aos 44 do primeiro tempo, Tardelli ampliou aos sete do segundo, mas Edu Dracena marcou aos 37 minutos, diminuindo a derrota para 3 a 2 e aumentando as chances de uma virada na Vila.

No familiar Urbano Caldeira, naquela noite de 5 de maio, diante de 14.245 pagantes, só deu Santos. André e Neymar fizeram 2 a 0; Correa diminuiu no finzinho do primeiro tempo, mas Wesley definiu os 3 a 1 aos quatro da segunda etapa.

Em seguida, veio a semifinal contra o Grêmio, no duelo mais aguardado. Cerca de 40 mil espectadores compareceram ao Estádio Olímpico para o jogo de 12 de maio. Em 20 minutos de jogo André marcou duas vezes, com direito a dancinhas, e assim a partida foi para o intervalo. Era muito bom para ser verdade.

Aos 30 minutos do segundo tempo, o Santos já perdia por 4 a 2. Não só os torcedores, mas os locutores gaúchos também foram à loucura com a virada gremista. Um deles disse que “o arpão do Grêmio está gravado nas costas da baleia”, um outro gritava que o Santos agora podia dançar “o elimination”. Mas, aos 37 minutos, Ganso deu um passe primoroso para Robinho, que matou no peito e estufou as redes, diminuindo a derrota.

Uma semana depois, na Vila, 13.896 torcedores viram um dos grandes jogos deste século no Brasil. Até o uniforme, todo branco, lembrou os momentos encantados do Santos. Com golaços de Ganso, Robinho e Wesley, o tricolor gaúcho foi batido por 3 a 1. A torcida, é claro, não perdeu a oportunidade de desforra. Como os gremistas chamam o seu time de “imortal”, os santistas responderam que na Vila os imortais são enterrados vivos.

Depois de uma semifinal tão disputada, ninguém imaginava que o Santos pudesse perder o título para o Vitória, seu adversário na decisão. Porém, a primeira partida terminou apenas 2 a 0 (Neymar e Marquinhos), apesar do completo domínio alvinegro, e surgiu o receio de que a equipe bobeasse no jogo em Salvador.

Na quarta-feira, 4 de agosto, 35 mil pessoas tomaram o estádio Barradão. Para o Vitória, seria sua conquista mais importante. Para o Santos, vencedor de todos os títulos disputados no Brasil, representaria a primeira Copa do Brasil.

Dorival escalou o time com Rafael, Pará, Edu Dracena, Durval e Alex Sandro; Arouca, Wesley e Ganso; Neymar (depois Marcel), Robinho (Rodriguinho) e André (Marquinhos).
Em um primeiro tempo amarrado, Edu Dracena marcou, de cabeça, aos 44 minutos, e os santistas comemoraram como se fosse o gol do título. É que apenas uma derrota por 4 a 1 poderia tirar o caneco da Vila.

Mas o Vitória foi pra cima na segunda etapa e virou para 2 a 1 aos 32 minutos. Novas chances surgiriam para o time baiano e o Santos não passaria do meio de campo. A angústia só se encerrou com o apito redentor de Carlos Eugênio Simon.

De qualquer forma,  título não deixou nenhuma dúvida quanto à sua justiça. Como em suas melhores campanhas, o Santos marcou 39 gols em 11 jogos, média de 3,54 por partida. Para variar, sua defesa também sofreu um bocado: 15, média de 1,36.

O irresistível Neymar, de 18 anos, foi o artilheiro do torneio, com 11 gols, e o melhor jogador, escolhido pela Confederação Brasileira de Futebol, foi o meia Paulo Henrique Ganso, de 20 anos. O troféu, como tantos outros, agora está no Memorial das Conquistas da Vila Belmiro, esperando por sua visita.