O “se” e os vices também existem

Por Odir Cunha

Alguém já disse, no milênio passado, que o “se” não existe no futebol. Talvez por isso as análises da final da Libertadores, feitas por nossos solertes jornalistas esportivos, ignorem o vice-campeão, mesmo que ele, após um campeonato extenuante, com vitórias consagradoras, tenha perdido o jogo decisivo por um fio, ou por uma bola.

É no mínimo estranho que em qualquer jogo mequetrefe os profissionais da mídia ouçam técnicos e jogadores dos dois times e, numa final, esses mesmos jornalistas se juntem à comemoração tresloucada da equipe vencedora, como se fossem apenas torcedores, sem o mínimo comprometimento com a isenção obrigatória da profissão.

Pois o “se” existe para a vida. Decisões que tomamos todos os dias podem afetar nosso futuro. Um jogo de futebol depende de frações de segundo, de centímetros, de moléculas de adrenalina.

Quem não imaginou aquele chutaço de Felipe Jonathan passando pelo goleiro estático e estufando as redes do adversário? Ou quem não ficou de pé diante da bicicleta do garoto Kaio Jorge? Ou, ainda, quem não percebeu que só faltaram alguns centímetros, ou milímetros, para Lucas Veríssimo acertar aquele peixinho, nos últimos minutos da partida?

Sim, também já disseram que o futebol se decide nos detalhes e essa é uma frase com a qual temos de concordar. Só não podemos, nós, formadores de opinião, permitir que os detalhes se tornem mais importantes do que o todo.

Mesmo perdendo a final da Libertadores – e para um time que fez a melhor campanha da competição –, o Santos foi a surpresa positiva desta Copa. Goleou os tarimbados Grêmio e Boca Juniors, eliminou a temida LDU e sua parceira altitude, fez uma decisão de igual para igual.

Proibido de contratar, revelou Meninos da Vila promissores, como John, João Paulo, Lucas Braga, Madson, Sandry, Vinicius Balieiro… Com muita determinação superou times mais bem armados e conquistou as atenções do futebol sul-americano. Perdeu a final, mas, talvez para o imaginário do futebol, fosse melhor que tivesse vencido.

De qualquer forma, como por milagre – mais um na vida do Santos – o clube que estava à beira da falência receberá R$ 32,8 milhões pelo vice-campeonato, vê o passe de seus melhores jogadores valorizados tremendamente e torna sua marca ainda mais cobiçada pela enorme exposição nessa Libertadores, com direito a mensagens de apoio do Rei Pelé, o melhor de todos os tempos, e de Neymar, o melhor brasileiro do momento. Sim, por alguns dias o Santos simbolizou novamente o melhor do futebol.

E se você reparar bem, a sina dos Meninos da Vila artilheiros se espalha pelo futebol nacional. O Internacional, líder do Brasileiro, tem em Yuri Alberto o seu frio e preciso matador, enquanto o Flamengo, segundo colocado, deve sua esperança aos pés de Gabriel, outro que aprendeu o caminho do gol na sagrada Vila Belmiro.

Bem, uma decisão não termina quando o árbitro apita. Ela traz lições que podem modificar vidas e carreiras. É preciso ouvir os vencedores, claro, mas, pelo aspecto pedagógico do futebol, talvez seja ainda mais importante ouvir os vencidos, saber o que aprenderam com a decepção, pois são dos vencidos que vêm os ensinamentos úteis para todos que querem compreender esse mistério chamado futebol.

É importante lembrar que o grande Santos dos anos 1960, o maior time de todos os tempos, aprendeu a vencer com derrotas sofridas em finais. Em 1959, mesmo com um time superior, perdeu o supercampeonato paulista para o Palmeiras e perdeu a primeira Taça Brasil/ Campeonato Brasileiro para o Bahia. Depois, porém, de 1960 a 1969, na década de ouro do futebol brasileiro, conquistou oito títulos Paulistas, seis Brasileiros, duas Libertadores, dois Mundiais e três Torneios Rio-São Paulo, sem falar dos inúmeros torneios internacionais em que se defrontava com os grandes times do planeta.

Enfim, a derrota em uma final pode ser o começo de uma era de vitórias. Por isso, ao contrário de muitos santistas, não me senti frustrado com essa final e não tenho qualquer crítica a fazer a nenhum jogador e muito menos a Cuca e sua comissão técnica. Achei apenas que os rapazes entraram um pouco mais tensos do que nos jogos contra Grêmio e Boca, mas se até nós, torcedores, estávamos nervosos, era normal que um time tão jovem sentisse a responsabilidade.

Seria um sonho vencer mais uma Libertadores e partir para a quarta decisão de título mundial nessa riquíssima história santista. Não deu, paciência, é o futebol. Muitas outras oportunidades virão. O importante é estar pronto para aproveitá-las.

Filipe Dias

Editor-chefe do MF. Paulista de São Paulo, Mineiro de Guaxupé, fundador da GuaxuPeixe, Torcida do Santos em Guaxupé e Setorista do Santos FC.

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