Santos veste branco e usa distintivo pela primeira vez

Por Gabriel Pierin

Em 8 de agosto de 1926 o Santos goleou a equipe do Ypiranga pelo Campeonato Paulista de 1926 por 5 a 2. Nesse jogo, disputado no campo da Água Branca, em São Paulo,o Peixe vestiu camisas brancas e usou pela primeira vez o distintivo atual.

A imprensa paulistana lamentou o fracasso da veterana sociedade ypiranguista, que jogava em casa. O primeiro tempo foi marcado por uma grande disputa e terminou empatado por 2 a 2. Os jogadores Armando e Mathias marcaram para o Ypiranga e os artilheiros Camarão e Siriri para os santistas.

Na etapa complementar, o Santos impôs toda a sua técnica e eficiência. Sem dar chances para o time da capital, os atacantes Alvinegros assinalaram três vezes – Camarão, Araken e Abel –, fechando a goleada por 5 a 2.

O Santos mandou a campo uma equipe bastante ofensiva, formada por Ballio, Bilu e David; Hugo, Baptista e Américo; Omar, Camarão, Siriri, Araken e Abel. O Ypiranga jogou com Kunz, Zaca e Armando; Japonês, Eugênio e Chico; Paulo, Miguel, Mathia, José e Salvador.

Naquele certame de 1926, o Santos fez ótima campanha e terminou em quarto lugar. Apesar da ótima fase do Palestra Itália, campeão invicto daquele ano, o Alvinegro poderia ter conseguido mais, não fossem os árbitros e a rigidez disciplinar de sua própria diretoria.

Para manter o padrão de disciplina do qual se orgulhava, os dirigentes santistas suspenderam o jogador Siriri por seis meses, pois o atacante havia desrespeitado o representante da APEA na partida contra o Corinthians.

Mesmo sem títulos, o Santos adquiria cada vez mais prestígio. O atacante Araken, já um ídolo nacional, foi o artilheiro máximo daquele campeonato, com 13 gols. Ali já começava a se desenhar o time mágico do Santos em 1927, quando alcançaria a primazia de ser o primeiro a marcar 100 gols no Campeonato Paulista.

A história dos distintivos

O emblema atual surgiu em 1925 e foi utilizado pela primeira vez nas camisas santistas nesse histórico jogo contra o Ypiranga. Suas onze listras representam os jogadores. As estrelas acima do escudo foram inseridas em 1968, valorizando as conquistas do Bicampeonato Mundial de 1962/1963.

Antes, o Santos só tinha usado distintivo nas camisas em 1915, quando jogou com o nome de União e participou do Campeonato Santista.

No início da década 1940 foi criado um novo escudo, com as letras SFC entrelaçadas em um fundo branco. O escudo não vingou e foi utilizado apenas por dois anos, até 1944.

A segunda artilharia de Araken

Um levantamento feito pelo pesquisador Leo Devezas provou que, além de artilheiro do Campeonato Paulista de 1927, com 31 gols, Araken Patusca também foi o maior goleador do Estadual de 1926, com 13 gols. As estatísticas anteriores contavam um jogo amistoso do Palestra Itália como sendo oficial, o que explicava a equivocada artilharia dada ao atacante palestrino Heitor. A FPF (Federação Paulista de Futebol) já reconheceu as novos números.

Um ano, duas ligas e dois campeonatos estaduais

Em 1926 a questão sobre a profissionalização do futebol em São Paulo chegou a um ponto limite. A maioria dos times apoiava essa mudança, mas outros não aceitaram a popularização do campeonato e criaram a Liga dos Amadores de Futebol (LAF).

Essa nova liga foi formada por equipes antigas, mas de menor expressão, lideradas pelo Paulistano. Os outros participantes eram a Associação Atlética das Palmeiras, Germânia, Antarctica Futebol Clube, Independência, Paulista de Jundiá, Britânia e Atlético Santista.

Na APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos) prosseguiram Corinthians, Palestra Itália, Santos, Portuguesa, Clube Atlético Ypiranga, Sport Club Internacional (São Paulo) e Associação Atlética São Bento. O Santos era o único time fora da cidade de São Paulo.

Revelação histórica

Uma pesquisa feita nos antigos ofícios do arquivo histórico recuperado pelo Centro de Memória no segundo andar na Vila Belmiro mostrou que nessa goleada sobre o Ypiranga, em 8 de agosto de 1926, quem defendeu a meta santista não foi o goleiro titular na época, o sueco Agne, mas sim o seu reserva, Ballio.

A pesquisa dos pesquisadores do Centro de Memória nos livros de Ofícios do clube encontrou um documento inédito que contrariava os registros divulgados anteriormente.